domingo, 11 de dezembro de 2022

A Grande Árvore de Natal, por Adalberta Marques

 

A GRANDE ÁRVORE DE NATAL

Haviam deixado para trás o seu pequeno país, um país tão pequeno que não se encontrava em qualquer mapa.

Os pais avisaram as crianças que partiam rumo a um país grande, mas distante, deixando para trás o seu, onde tinham nascido, vivido e crescido. O pequeno país que deixaram para trás era especial: ninguém se queixava, quando o sol escaldava os pés ou quando o frio enregelava as mãos. As portas estavam sempre abertas, no entanto ninguém se preocupava com o que se passava no interior das casas, de onde exalava um doce odor a comida recém - cozinhada. Se algo menos bom acontecia, todos entravam com a bandeja da solidariedade, empatia e entreajuda, porque todos eram unos.

No país pequeno, como quase meia casca de noz, todos cantavam como se fizessem turnos e nas horas em que umas vozes se calavam, cantavam as outras. Chegaram ao grande país, na época do natal: os olhos das crianças reluziram, tal como reluzentes estavam as portas ornamentadas, onde as luzes multicolores piscavam incessantemente.

As crianças pergutaram, quase em coro, porque não brilhavam assim as portas do país de onde vinham, porque não tinham árvores de natal, como as que se avistavam para lá daquelas janelas?!...

Enquanto as crianças dormiam, seu pai foi ao pinhal e apanhou um pinheiro tão grande, que quase batia no tecto, teriam grande surpresa ao acordar. Porém, a meio da noite, o pinheiro tombou sobre uma das camas, acordando as crianças todas, que sorriram dizendo:

-Vejam, também temos uma árvore de natal!

Outra das criancas retrocou:

-Mas a nossa árvore de natal não tem luz, é apenas uma árvore verde.

-Tem, sim- respondeu o homem- tem luz no seu interior para ser árvore de natal, não tem que ter apenas brilho nem muitos enfeites, mas precisa de ter amor e paz. Além disso, nas grandes florestas, as árvores também não são todas idênticas, porém as raízes de todas são profundas, vêm do centro da terra, dando brilho e vida à vida de todos nós.

Quando crescerdes, podereis contruir as vossas próprias árvores de natal e colocar nelas muitas luzes: bolas de cores vibrantes e estrelas, mas certamente recordareis sempre a musicalidade da vossa primeira árvore de natal e a musicalidade das vozes dos homens do distante e pequeno país. Quem sabe?! - perguntareis a vós mesmos, se foi realidade ou se foi apenas um sonho ficcionado. Tocareis os vossos rostos para percepcionardes se dormis ou se estais acordados. Não vos admireis também da excessiva emoção de alegria ou de tristeza da época: observareis como se prepara a mesa de natal no país onde agora viveis, o cuidado como se põem os pratos  mais bonitos na mesa e a nostalgia com que se fitam os lugares desocupados na mesma, por quem tanto amor nos doou. Lembrareis também os sem árvore de natal e os sem pão. Podereis ajudar a abotoar os atacadores dos sapatos das crianças que ainda não os possuem.

Numa correria louca e feliz, as crianças desembrulharão os presentes...

É de magia que vos falo! Não da magia das fadas, mas da magia do natal, iluminando de saudade, ternura e amor o vosso pequeno país e este onde agora habitais.

Ah! E não vos esqueçais que foi ela, quem em vós acordou a magia quando, a meio da noite, sobre vós tombou.

Ela! A grande árvore de natal...

 

Adalberta Marques

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