POR
ONDE ANDAS, JESUS?
Quero
acreditar
Que
o velho Pai Natal
Vai
descer pela chaminé.
De
mansinho, pé ante pé,
E
sem que ninguém perceba
Venha
deixar a esperança,
Nestes
ténis de criança,
Uma
pequena oferenda!
É
Natal sem Consoada:
Pão,
sopa e mais nada…
Desempregados,
os Pais
Não
há dinheiro para mais!
Perdeu-se
a alegria
Que
faz brilhar este dia!
Natal
triste, sem luz…
Por
onde andas, Jesus?
Tu,
que foste criança,
Repõe
a esperança
De
um Natal de paz e amor
Para
este mundo de dor!
Estende-lhes
a mão, Senhor,
Para
que vejam o sol,
E
aprendam como é
O
teu caminho de fé!...
Elita Guerreiro, Natal 2022
LÁ FORA O PAI
NATAL
(CONTO)
Do lado de fora da janela da sala, o Pai Natal assistia ao movimento da casa.
Chovia e o frio era de arrepiar! Junto
à lareira, o Avô tinha sobre os joelhos o Neto, que escutava atentamente a
história que, com voz pausada, lia para ele. Num pequeno berço, muito tapadinho,
dormia um bebé tão rosadinho, como um botão de rosa. O gato ronronava enroscado
aos pés do velho senhor. A Mãe ia e vinha, da cozinha para a sala e vice-versa,
nos preparativos da Consoada. A chuva
continuava a cair e um vento forte fazia balançar o Pai Natal que, lá fora, continuava a assistir
ao que se passava na sala. O menino interrompeu o Avô para lhe chamar a atenção
para o facto de o negrume do céu anunciar tempestade e para o perigo que corria
o velhote de barbas brancas e saco às
costas, simbolizando o Natal, os presentes, as surpresas com as quais tanto sonhara!
- Avô, olha como o vento e a chuva
estão a tratar o meu Pai Natal, vês? Tirando os óculos, que lhe escorregavam do
nariz, deixando uma marca na página do livro, o Avô olhou para fora da janela.
- Está de facto uma tarde tremenda! Mas
não tenhas medo!... O teu Pai Natal está seguro. O teu Pai, quando ali o pôs,
certificou-se de que ficava bem e em segurança - disse o Avô, abraçando
carinhosamente a criança.
- Coitadinho! Vai ficar todo molhado-
disse, com tristeza o menino!
A mesa da Consoada estava pronta. Sobre a
toalha de brancura imaculada, um pequeno mas muito bem feito arranjo de flores
dava um belo colorido às iguarias que a Mãe ia trazendo da cozinha: arroz doce,
rabanadas, leite - creme e alguns bombons, que ia espalhando pela toalha
branca! No bercinho, o bebé acordou. O gato arqueou o dorso e, lá fora, o vento
abrandou a sua louca correria. Um carro parou junto ao portão. Agitada, a
criança saltou dos joelhos do Avô, batendo palmas e tropeçando no gato e correu
para a porta, gritando:
- É o meu Pai!
De barrete vermelho,
atrapalhado com as as caixas enfeitadas de laçarotes, que o impediam de
caminhar a direito, lá conseguiu chegar à árvore de Natal, onde colocou os
presentes. Abraçou o Pai, a esposa, tirou do berço o peqeno Bebé e, pegando no
mais velhinho, disse-lhe:
- OI! Meninos Jesus do Pai!
- O menino Jesus está no presépio, em
cima da lareira- respondeu prontamente a criança.
- Esse, meu filho, é a quem tudo
devemos. É por ele que festejamos o Natal, o dia do seu nascimento. Foi por nós
que Ele veio ao mundo.
- Não sabia! - respondeu o menino,
abrindo os grandes olhos, num misto de espanto e admiração!
Lá fora, o Pai Natal balançava, agora
suavemente, parecendo sorrir perante aquele presépio feito de paz e amor: toda
a Família sentada à mesa. Era a hora dos doces. O menino estendeu a mão, tirou duas
rabanadas e correu para a janela, que
abriu.
- Que fazes?- perguntou a Mãe.
- É para o Pai Natal, esta. A outra é
para o Menino Jesus, no Presépio. Deixou sobre o parapeito da janela a sua
oferta ao Pai Natal, que, emocionado, sorriu sem que ninguém o notasse. Cortou
em pedaços a outra rabanada e distribuiu-a
pela figuras do Presépio. Afinal era por aquela Família, representada no
Presépio, que a sua Família estava ali reunida e feliz!
- Hora de deitar!- exclamou o Pai. Amanhã
é Natal!
Ao acordar, o Avô perguntou-lhe:
- Então, com que sonhou o meu Neto?
- Sonhei que Jesus e o Pai Natal me
ofereciam aquela bicicleta, que vimos na
montra.
- A bondade, meu Neto, é uma obrigação
de todo o ser humano. Mas tu, para além de bondoso, foste generoso e humilde… Por
isso, foste compensado. Ora aí tens a tua bicicleta! E que cada Natal te
aproxime mais da rectidão de carácter, de que deste mostra nesta Consoada!
Lá fora, o vento agitou o Pai Natal…
Uma gota de chuva correu pela sua face bonacheirona e comovida…
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