E se a história acabasse mal?
Oriana foi tentada pela vaidade quando encontrou o peixe e esqueceu-se de todos os seus deveres para com os outros.
A consciência de Oriana, sentadinha no seu ombro esquerdo, alertou-a para a sua vaidade e a necessidade de voltar atrás e cumprir as suas promessas. Mas ninguém lhe restituía aquilo que havia perdido!
E um dia, ao ver o perigo ameaçar a sua amiga velhinha, esqueceu-se da sua condição e lançou-se no espaço como se ainda tivesse asas e varinha.
Mas a atenção da Rainha das Fadas Boas salvou-as!
Tal como Oriana, Narciso encantou-se consigo mesmo.
Vendo-se espelhado nas águas de um rio, julgou contemplar o mais belo rapaz do mundo e, apesar das suas tentativas para o apanhar, nunca o conseguiu.
Eco alertava-o mas ele nem a ouvia e manteve-se em contemplação sem comer nem beber.
E o poder divino do Deus dos Deuses castigou-o pela sua vaidade.
Ana Gaio
Janeiro 2020
A Fada Oriana é uma obra infanto-juvenil de Sophia de Mello Breyner.
Como sempre que escrevia para crianças, Sophia tinha um modo subtil e muito ligeiro de tocar o fundo da questão, para ensinar valores de excelência aos seus jovens leitores.
Aqui trata-se de uma parábola sobre várias situações que, sendo evitáveis, podem acontecer a qualquer um
- O respeito do compromisso uma vez aceite (uma vez a promessa feita, há que cumpri-la)
- A inutilidade de uma vaidade exacerbada (um pouco é bom, demasiado é nocivo)
- O desejo de se redimir, reconhecendo o erro e tentando por todos os meios corrigi-lo.
É uma fábula que deve, provavelmente, atingir os seus fins moralizadores, pois se uma pessoa jovem e pouco experiente da vida a lê, pode daí tirar alguns ensinamentos importantes para a sua vida futura e suas relações interpessoais.
Mercedes Ferrari
8.12.19
Oriana e suas asas
(do conto de Sophia)
Oriana era uma fada
Que um dia as asas perdeu
Por ter sido tão vaidosa
Que seus deveres esqueceu…Então,
Sem suas asas azuis
Sofrimento é dia a dia
Não havia mais remédio
Tinha que se redimir: Mas como ?
Por altruismo acabou
Por se salvar sem saber
Reganhou suas asinhas
Pôde voltar a sorrir !
Mercedes Ferrari
A história da “Fada Oriana” contada
numa página e meia, seguida de três comentários sobre a mesma.
A Fada Oriana, jovem e muito bonita, havia sido escolhida
pela fada rainha para cuidar e proteger uma floresta onde coabitavam homens,
animais, plantas e muitas outras coisas. Esta tarefa começava com o nascer do
dia e só terminava quando toda a floresta adormecia. Por isso, só à noite Oriana
estava livre para pensar em si e atender às suas próprias necessidades. Durante
esse período descansava, reunia-se com as outras fadas, divertia-se e voava
livremente pela floresta. Logo que a manhã rompia, Oriana retomava o seu
trabalho preocupando-se em primeiro lugar com aqueles que mais cuidados
requeriam.
Uma tarde – quando a fada deambulava pela floresta, próximo de
um ribeiro, no cumprimento das suas tarefas – alguém a chamou com uma voz
suplicante. Olhou e viu um peixe, que estava fora da água, muito agitado e
aflito. Rapidamente o pegou e o devolveu ao riacho. O peixe, quando perseguia
um inseto havia impulsionado o seu corpo de tal forma descontrolada que viria a
cair na margem do rio.
Quando se debruçou para repor o peixe no seu habitat, Oriana
viu o seu rosto refletido na água. Gostou do que viu, ficando surpreendida e encantada
com a sua própria beleza.
Entretanto, já de volta ao rio após ter recuperado do susto, o
peixe agradeceu à fada e manifestou-lhe a sua disponibilidade para a ajudar no
que fosse necessário.
Nos dias seguintes, a fada passou a visitar o rio com alguma
assiduidade, para rever a sua imagem e também para comunicar com o peixe.
Nesses encontro,s o peixe não regateava louvores e elogios a Oriana. Este
comportamento, fingido e malicioso, não sendo percebido pela fada, acabou por
incutir-lhe um forte sentimento de vaidade.
Esta nova rotina conduziu a um abrandamento progressivo das importantes
tarefas que Oriana havia prometido executar à sua fada rainha. Assim, todos, incluindo
os mais fragilizados, acabaram por ver degradados os apoios e os cuidados
habitualmente prestados pela fada.
Perante estes factos, a rainha das fadas ficou muito zangada
e decidiu castigar Oriana retirando-lhe as asas e a varinha de condão. Ainda
assim, prometeu devolver-lhe as asas e a varinha, logo que demonstrasse
merecimento para tal.
Oriana estava agora muito fragilizada. Já não podia voar, já
não tinha os meios e os poderes capazes de influenciar as vidas dos outros.
Estava só, reduzida à condição quase humana, incapaz de responder e cumprir a
sua missão na floresta que, assim, ficou ainda mais abandonada.
Ainda assim, privada de poderes e de algum modo desacreditada,
Oriana percorreu a cidade procurando retomar o controlo da floresta. Para isso
ensaiou uma mensagem de arrependimento e transmitiu uma forte vontade de voltar
a cumprir todas as tarefas de proteção e de apoio.
Um dia, quando Oriana vagueava pela floresta, viu uma velha
que caminhava na sua direção. Tratava-se da velha cega que, nos “bons tempos”,
vivera amparada pelos seus cuidados. Oriana apercebeu-se que a velha se dirigia
para um perigoso vale profundo. Correu em seu socorro, gritando para que
parasse. Apesar de ter conseguido agarrar a velha senhora pelo braço, Oriana
foi impotente para reverter a catástrofe e ambas caíram no abismo, onde a morte
certa as esperava. Inesperadamente, a queda foi interrompida e ambas ficaram a
pairar sobre o precipício. A rainha das fadas havia aparecido, voando, tão
rápida como oportuna. Tocou Oriana com a sua varinha e tudo se reverteu.
A coragem de Oriana valeu-lhe o perdão da sua rainha. Viu
renascer as suas bonitas asas e retomou a sua varinha de condão. Levantou voo e levou a velha para porto
seguro. Sempre a voar levou a todos a boa nova do seu regresso em pleno.
Finalmente, num gesto firme, sacudiu a varinha e, num abrir e fechar de olhos,
tudo voltou à normalidade.
Comentários:
a)
O conto em análise fala-nos de fadas, pessoas, animais, plantas e até de
coisas. Tudo é descrito com clareza, detalhe e muita mestria. A história suscita
emoções e sentimentos vários nomeadamente alegria, felicidade, culpabilidade,
medo, gratidão, sentido de responsabilidade, vaidade etc. A autora dá vida às
fadas e às suas capacidades sobrenaturais. Coloca a fada Oriana no centro da
comunidade residente na floresta. Por outro lado, a floresta, nomeadamente os
seus habitantes mais frágeis, viviam dependentes do trabalho da fada, mais
concretamente dos seus dons sobrenaturais. As asas permitiam-lhe uma mobilidade
sem limites e a varinha tudo transformava a seu contento. Oriana possuía um
poder fantástico do qual dependiam tudo e todos. Qualquer alteração ao seu
querer, qualquer desvio na sua conduta, qualquer abrandamento na sua dedicação
significaria a degradação e o caos na floresta. Lamentavelmente, o pior aconteceu
quando a fada Oriana, inexplicavelmente, esqueceu as suas obrigações, as suas
responsabilidades, ao ceder ante a vaidade e a manipulação.
b)
Sabemos que, inicialmente, as histórias de fadas eram escritas para
entretenimento dos adultos. Os seus conteúdos não continham quaisquer
ensinamentos adequados para as crianças. As versões infantis, tal como as
conhecemos hoje, terão nascido em finais do século XVII.
Do pouco que li, sobre este tema,
constatei que a designação de “contos de fadas” não se confina unicamente aos contos
que têm fadas como personagens. Na realidade abrange todas as histórias que
apresentam personagens fantásticas com poderes capazes de produzir encantamentos,
tais como: dragões, elfos, fadas, gigantes, gnomos, sereias, animais falantes, bruxas
etc.
Sob o ponto de vista do interesse
para a educação de crianças existe uma diferença, que penso ser relevante, entre
as fábulas e as histórias com personagens sobrenaturais. As fábulas, contrariamente
às histórias onde as personagens têm poderes sobrenaturais, conseguem
transmitir críticas ao comportamento humano de um modo natural e bem próximo da
realidade. Já as histórias fantásticas – com personagens sobrenaturais – relatam
fantasias bem distantes da realidade. É o caso da história em análise onde,
como referimos em a), tudo dependia dos poderes da fada Oriana.
Dito isto, pergunto: fará sentido,
para a educação das crianças, para a sua formação, sugerir-lhes que tudo na
vida se pode resolver com uma varinha de condão ou voando em cima duma qualquer
vassoura?
c)
Como se pode imaginar, contei muitas histórias às minhas netas e aos meus
netos. Nesse contexto, percebi o grau de recetividade de uma ou de outra versão
atrás caracterizada.
Quando, por exemplo, lhes contava a
história dos Três Porquinhos e do Lobo Mau, o ambiente era de grande risada,
nomeadamente quando o lobo, impedido de entrar pela porta da frente, decidia
descer pela chaminé de rabo para baixo. Atempadamente, um dos porquinhos, dos
três o mais avisado, havia colocado ao fogo uma panela de água acrescida de uma
generosa porção de aguarrás. O lobo, ao sentir o contacto anal, com a referida mistura
agressiva e a escaldar, perdia completamente o controlo, tais as dores e a
comichão. Era a vitória esperada dos mais frágeis, que todos apreciavam. Por
isso, nesta altura soltavam-se os risos com tal intensidade que, por vezes, era
difícil separá-los do choro…
Já quando lhes contava a história da
Branca de Neve, o ambiente ficava mais complicado, mais tenebroso. Quando a
rainha-bruxa entrava em cena, ordenando mortes e realizando as suas maldades
cruéis, sentia-se bem o incómodo que isso provocava nas crianças. Rostos perplexos,
risos distantes, lágrimas nem sempre contidas…
Eu próprio tinha dificuldade em
explicar-lhes tais comportamentos e tantas maldades…
De qualquer modo tenho algumas dúvidas.
Aguardo com muito interesse as opiniões avisadas dos colegas.
Fernando Amaral
Maio 2020
Afinal quem é Oriana?
O Mundo Mágico e
Fantástico onde vivia a Fada Oriana era governado por Fadas Boas e Más, cada
qual com o seu reino, as suas Leis, os seus Poderes.
A História repete-se desde que o
Homem existe: a luta diária pelo poder. Por isso, poucos são os Eleitos e
muitos os Sacrificados.
A Fada Oriana representa aqui
todos e cada um de nós. Ela é o espelho das duas faces do Binómio BEM /MAL.
Como todos nós, tinha Bons e Maus
Sentimentos, que foram testados frente às vicissitudes por que passou durante o
tempo em que esteve ausente da sua Floresta. Quando partiu, levou consigo os
Bons Sentimentos: Bondade, Amizade, Amor ao Próximo, Espírito de Entrega a
todos que dela necessitavam, e a Paixão pela Floresta.
ORIANA foi despertada para os
Maus Sentimentos por um PEIXE, que vivia num pequeno rio da Floresta e que, um
dia, em seco, é salvo por ORIANA, que o devolve de novo à água. Galanteador,
elogia insistente e exageradamente a sua beleza, fazendo com que ORIANA se torne
tão vaidosa que acaba por aí acorrer dia e noite, esquecendo a pouco e pouco a
sua promessa de proteger a Floresta... Sentava-se junto ao rio, olhava a sua
imagem, achava que o PEIXE tinha razão: ela era, realmente, muito bonita.
Adorava ver-se no reflexo da água (amor excessivo e doentio por si própria).
O tempo ia passando e, sem dar
conta, tinha perdido tudo: a Rainha das Fadas Boas retirara-lhe as asas e a
varinha mágica, até que tomasse consciência das consequências do seu abandono
da Floresta...
A Rainha das Fadas Más, um dia,
apareceu-lhe. Vinha com intenção de a subornar, oferecendo-lhe umas asas e uma
varinha mágica lindíssimas. A contrapartida era que ORIANA tratasse o pior
possível a Floresta, até esta ser destruída.
De repente, ORIANA apercebeu-se
do embuste em que caira: o peixe assediara-a para a Vaidade desmesurada, a Fada
Má subornara-a com umas asas e varinha mágica de cores lindíssimas, para a
levar a cometer um crime: matar a Floresta.
ORIANA negou-se a cumprir os desejos
da Fada Má e conseguiu fugir daquele antro de más intenções, chantagem e
corrupção.
Correu muito para chegar à sua
Floresta e ver de novo todos aqueles de quem tanto gostava, e pedir-lhes desculpa
pela sua leviandade por os ter deixado sós. A culpa era somente dela: tinha-se
deixado corromper pelo mal.
Só que a aldeia estava
completamente abandonada, o que foi um choque para ORIANA, que chorou, triste e
melancólica. Pensou logo em preparar todas as casas… e, de facto, até as flores
ficaram lindas, prontas para os receber a todos de volta à Floresta.
A PROMESSA
Mesmo com as pernas e os pés
feridos, dirigiu-se à estrada do desfiladeiro para ir à cidade procurar todos
os seus amigos a trazê-los de volta às suas casas, o que acontecerá mais tarde,
após verem que já tinha uma asas azuis novas e a varinha mágica. Como ganhou de
novo os seus objectos mágicos?
À sua frente, vira a velha quase
cega com os troncos às costas, que a procurava, e que estando no caminho errado
acaba por cair no abismo, lançando-se igualmente ORIANA para a agarrar,
segurando-a pelas pernas...sem pensar que não tinha asas nem varinha mágica. De
repente, - surpresa! – ficam paradas no vazio, pela intervenção da Rainha das
Fadas Boas, sempre de vigia.
E foi assim que ORIANA ganhou de
novo as suas asas azuis e a sua varinha:
aquele acto de coragem fora reconhecido como sendo a dádiva maior que um SER poderia dar a Outro: a própria vida.
«A PROMESSA ESTAVA CUMPRIDA»
«A PROMESSA ESTAVA CUMPRIDA»
CONCLUSÃO
A LIÇÃO QUE TIREI DESTE CONTO É QUE TEMOS A
OBRIGAÇÃO DE LEVAR A SÉRIO QUALQUER PROMESSA QUE SEJA FEITA E CUMPRI-LA POR
INTEIRO: SE NÃO O FIZERMOS, TEREMOS DE ARCAR COM DESAGRADÁVEIS SURPRESAS.
Azeitão, 26-01-2020
Carmo Bairrada
Numa
pequena vila que vivia à sombra de um castelo, havia uma senhora muito boa, que
gostava de contar lindas histórias às crianças.
Também
ela tinha o condão de as encantar. Nas noites quentes, sentava-se à soleira da
porta que tinha um degrau alto, como se fosse um pedestal para alguém tão
simples mas tão importante.
No
seu quintal, as flores eram exclusivamente plantadas para as crianças. Tinha
uma planta cujas hastes davam patinhos, que ficavam suspensos pelos bicos. Não
me recordo quantos patinhos nem quantos tostões os patinhos custavam. Saíamos
de sua casa muito felizes e colocávamos os patinhos num recipiente com água,
onde nadavam felizes. Tinha também a planta dos passarinhos, cujas flores eram
dobradas cor-de-rosa velho. Os ramos eram compridos e artisticamente ornados de
rosinhas pequenas.
Era
o quintal da vizinha Leonarda que, à noite, do alto do seu degrau nos
encantava. Por trás das brancas casas num vasto campo corria um regato
saltitante. Nele, as rãs coaxavam; os grilos juntavam-se à orquestra e a voz
dos burros dos quintais também. Nas outras portas, as vizinhas conversavam à
luz da única lâmpada do poste, que entontecia os mosquitos. Muito quietos,
sentávamo-nos à porta da vizinha. Que pena! Vestia toda de preto! Fazíamos um
semi- círculo à sua frente e quando as pedras da calçada ficavam ainda mais
quietas e atentas, ela começava:
-
Era uma vez a Brancaflor, uma fada linda de asas arrendadas e brilhantes que
protegia as crianças. Numa casa do bosque, vivia uma madrasta com as suas duas
filhas, que tratavam muito mal a sua enteada. Saíam para passear e diziam:
- Queremos
tudo arrumado e limpo e ai de ti que saias de casa!…
A
menina ficava muito triste, fitava os duros trabalhos que lhe destinavam e
chorava em frente à lareira.
Um
dia, observou alguém que se movimentava graciosamente à sua frente e lhe disse:
-
Não chores, eu sou a fada Brancaflor que ajuda as crianças, tenho o poder
transformador do bem. Nos arredores já todos me conhecem e falam de mim. Quando
necessitares, basta que me chames e, ainda que não me vejas, estarei contigo.
Juntas
alindaram a casa; colocaram vasos na entrada da porta; em cima da mesa um
bonito arranjo de malmequeres amarelos colhidos na seara e garridas papoilas
vermelhas. Brancaflor abraçou a menina, ergueu a sua varinha e disse:
-
Eu te fado para que sejas uma criança alegre, feliz e livre e que à tua volta a
felicidade se expanda, em tudo quanto tocares e a fada desapareceu. Quando a
madrasta e as filhas entraram em casa, disseram:
-Aqui
anda Brancaflor!
- Não
anda, não anda!- respondeu a menina que dia a dia se tornava mais bela. A
madrasta começou a ver que à medida que a menina ficava mais bela, do rosto de
suas filhas desaparecia mais um pouco da sua pouca beleza.
Numa
noite em que a madrasta dormia, teve um pesadelo. Escutou uma voz que lhe
dizia:
-
Continuas a tratar mal Brancaflor e as tuas filhas transformar-se-ão em dois
sapos verdes. Ignorou a voz e antes de sair de casa com as suas filhas, estas
desarrumaram tudo novamente. Brancaflor voltou e disse à menina:
-Não
tarda, ficas livre!
O
pai da menina regressou de longa viagem, onde andara embarcado e mandou a
madrasta e as suas filhas embora. Esta da porta ainda falou com maus modos para
a menina, dizendo:
-
Enganaste-nos, aqui anda Brancaflor!
- Não
anda, não anda! - respondeu a menina. Numa explosão de alegria, as rãs
expandiam o seu coaxar na noite morna e o perfume dos lilases inebriava o ar.
Já
meio ensonados, sorríamos docemente e os dentinhos já idos da vizinha sorriam
também.
As
histórias da vizinha Leonarda acompanharam-me ao longo dos anos.
Procuro
em vão a sua árvore dos patinhos e quando algo de bom inesperadamente acontece
na minha vida, murmuro de mim para mim:
«Aqui
anda Brancaflor».
Certamente
a vizinha também terá contado algumas histórias em que nos nos deixamos encantar por algum peixe, como o do conto de Sophia de Mello Breyner:
«A fada Oriana» Foi bom voltar à magia e pensar que há fadas boas e fadas más.
É preciso ter especial cuidado com as nossas escolhas. Que nenhum encantamento
nos faça esquecer quem somos e qual a nossa missão. Se houvesse algum poeta ou
estava oculto no imponente castelo ou ninguém sabia! O altaneiro castelo era
guardião do tempo, de segredos e de história. As três pedrinhas do conto de
Sophia evocaram-me uma viagem de estudo a Lisboa com o grupo da Literatura.
Alguém tirou uma pedrinha minúscula e branca com um smile oferecendo-a à guia,
que a segurou nas mãos e, incredulamente, riu com gosto.
“Ali
andou Brancaflor!”
Adalberta Marques
O
SILÊNCIO
DE
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Neste
belíssimo Conto, a Autora coloca o leitor entre dois mundos:
“O
SILÊNCIO” e “O GRITO”
Chegara
finalmente aquele fim de tarde de um Silêncio limpo e luminoso.
Abriu-se
uma janela e lá estava Joana para desfrutar do momento de Paz e Liberdade do
seu interior.
Acabava
sempre por esperar o nascimento da noite com o seu universo de estrelas brilhantes.
Esse momento chegara ao espaço terreno e ao seu coração.
Durou
pouco...!
De
repente, qual fresta que se abre, o Silêncio que pairava no ar foi quebrado
por um GRITO estridente que entrou em todos os lugares, qual furacão
devastador.
Repetiu-se
ao longo dum tempo quase infinito e sem controlo.
Vinha
da voz desgarrada e solitária de uma mulher, num crescendo estranho… Todos os
seus gritos faziam estremecer a própria terra.
Eram
silvos agudos de raiva, desespero, fúria e violência. Talvez a sua forma de
luta contra a Opressão.
Com
a força que lhe restava, batia desesperadamente com as suas próprias mãos já
feridas e rasgadas na parede dura da prisão com janelas fechadas e gradeadas,
rompendo as cadeias da Solidão e Injustiça.
Foi
um tempo infindo para quem escutou tanto sofrimento, transformado em
sacrifício.
“O
SILÊNCIO” teve a força para escutar o grito, mas não o conseguiu apagar. Estava
lá o
Eco
com a sua função de repetir... repetir... repetir todos aqueles sons, que
ficariam para sempre dentro de quem os escutou.
“O
GRITO” conseguiu romper para sempre a barreira do Silêncio na forma mais
drástica
do Sofrimento.
O
CAOS estava instalado!
Joana
mergulhou nele e a sua casa também. Deu uma volta. Nada lhe era familiar, nada
era seu, tudo se perdera. Uma autêntica ruina!
Era uma estrangeira
dentro da sua própria casa
·
Será
que Joana era a Mulher que personalizava “O Silêncio” opaco e sinistro?
·
Será
que Joana trazia dentro de si “O GRITO”, que nunca tinha conseguido soltar?
·
Será
que Joana e a Mulher têm a mesma Identidade?
·
Será
que Joana, naquela noite, com toda a força do seu interior silencioso conseguiu
romper as amarras que agrilhoavam a sua verdadeira Liberdade?
Eu
não sei as respostas!
Só
sei que:
“De
Sophia ficaram para sempre, uma imensidão de sentidos, e as palavras escritas
ditadas em Silêncio apaziguador, por uma voz quase inaudível que só ela
escutava.”
Azeitão,
24.11.2019
Carmo
Bairrada
Leitura/Consulta:
https://esfrovhit.blog.sapo.pt/988htlm
A FADA ORIANA
A fada Oriana era muito linda (como as fadas devem ser) e ajudava todos os seres da floresta com a sua bondade e poder, e havia muitos necessitados que dependiam dela.
Um dia viu a sua imagem refletida no rio e ficou encantada com a sua beleza, mas teve um mau encontro com um peixe que a despertou para a vaidade e vontade de ser ainda mais bela e, nesse engodo, seguindo os conselhos do peixe, procurou ser sempre mais bela e por isso abandonou todos os amigos que auxiliava, dedicando-se exclusivamente à sua beleza.
Claro que, como se previa, apareceu a Raínha das Fadas que lhe retirou a varinha e todos os poderes.
Oriana viu-se sozinha e tentou que o peixe a ajudasse, mas ele nunca mais apareceu e viu-se sem poderes numa floresta onde já não havia ninguém para ela ajudar, nem ela o poderia fazer.
Foi à cidade e encontrou todos os amigos a viverem ainda mais pobremente do que quando ela os amparava e ficou tão triste por não poder fazer nada que, ao regressar à floresta, embora tivesse sido tentada pela Fada Má a fazer ainda mais maldades, resistiu e quando viu a velhinha a quase cair no abismo, não pensou 2 vezes e agarrou-a, ficando as 2 vidas em risco, porque Oriana já não tinha poderes... e foi nesse momento que a Raínha das Fadas apareceu... e devolveu as asas a Oriana... e a história acabou em bem com a vinda de todos os amigos para a sua floresta.
Lurdes Costa
Janeiro 2020
QUEM
CONTA UM CONTO…
Ter
asas poder voar
Muitos
vivem a sonhar
Não
é para todos os seres!
Não
te basta apenas quereres
Porque
só os seres dotados
São
os contemplados!
Mas
há que as saber usar
Distinguir
o bem do mal!
Valha-nos
quem escreve contos
Que
pode acrescentar pontos!
Nas
asas dessa magia
Voamos
para Sofia,
Que
profundamente humana
Nos
conduz a Oriana
Que
apesar de superdotada
Também
foi castigada!
Minha
Mãe recomendava
Nas
histórias que contava:
Assenta
os pés no chão
Não
tens varinha de condão,
Não
queiras ser como as fadas
Que
também são castigadas,
Por
falta de humildade
Como
as gentes de verdade!
SOFIA E A MAGIA DOS CONTOS
Quem não recorda com um sorriso
de ternura as histórias de fadas e duendes, que fizeram da nossa infância, da
minha pelo menos, uma época encantada e feliz? Como a minha Mãe gostaria de
ouvir ler esta “Fada Oriana”, na qual a escritora Sophia de Mello Breyner retrata,
como só ela sabe, a relação da Fada com o ambiente que nos rodeia no Universo
animal e humano! A mim, encanta-me a maneira como é descrita a perda das asas,
daquele ser que habitualmente dedicava a sua vida a fazer o bem e que acabou
sentindo o peso do remorso por ter perdido o poder de ajudar, como era costume,
aqueles que dela necessitavam. Que bem descreve a autora a necessidade que
temos do amparo, da solidariedade, de alguém com quem possamos desabafar as
nossas amarguras, os nossos momentos menos felizes! Ah, Bela Fada Oriana!..
Como é bom ter-te por perto, na escrita desta grande senhora
nossa contemporânea, que
certamente também foi feliz na altura em
que ainda acreditávamos em fadas!
Escrever é um dom. Qual foi a
fada que te tocou com a sua varinha mágica?
Parabéns, Sophia… pelo talento,
pela magia, que nos transporta para o mundo da fantasia, sempre com a realidade
presente. Parabéns pelos 100 anos, que farias se ainda estivesses entre nós. Bem
hajas…
Elita Guerreiro , 14/1/2020
O Canto da
Sereia
Oriana, que
tão bem e feliz vinha cumprindo a promessa que tinha feito à Raínha das Fadas
em proteger e ajudar “Todos os Homens Animais e Plantas que viviam na floresta”,
conseguiu resistir
à tentação das andorinhas, que lhe contavam as maravilhas que existiam para lá
da floresta, mas perdeu-se ao escutar os elogios à sua beleza com que o peixe a
vinha seduzindo.
A vaidade
levou-a a esquecer o bem, que durante tanto tempo vinha praticando…
Carlos Nunes
Janeiro 2020
Resumo de “O Homem Muito Rico”
(in A Fada Oriana)
Este homem muito rico não tinha
mulher, nem filhos, nem amigos, só criados.
Era avarento, mesmo sendo muito rico,
e tinha a casa cheia de “móveis e peças várias” com as quais a única relação
que mantinha era lembrar-se do seu valor pecuniário: uma casa sem vida.
Oriana bem tentou lá entrar para
ajudar “o homem muito rico” a ver a vida de outra maneira, mas a casa tinha
fechaduras tão caras que nem a sua varinha de condão as podia abrir… Mas havia
uma janela, pela qual entrou e ao tocar-lhe na cabeça com a varinha de condão,
deu-lhe a única coisa que o dinheiro não tinha conseguido comprar: “cabelo”.
O Homem muito rico, ao ver-se ao
espelho, gritava alegremente “Cabelo Cabelo !!! e talvez volte a ter caracóis
louros !!!”
Quando acalmou de tanta alegria,
lembrou-se que havia uns tempos, uma pobre viúva a quem havia negado emprego
para o filho e que se tinha condoído de ele ser careca, lhe tinha enviado um
remédio para o cabelo sem nada lhe ter pedido em troca. De imediato a chamou e lhe
arranjou emprego para o filho.
Oriana, ao ter entrado por aquela
pequena janela, tinha finalmente conseguido fazer alguma coisa boa naquela
casa.
Carlos Nunes
Fevereiro 2020
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