"Donzela que vai à Guerra", Garrett
O Romance Popular primeiro em
prosa, depois em verso terá acabado por nascer, de certa forma, da perda duma narração
ancestral que era o “o mito”, um universo exclusivo dos deuses com as suas
metamorfoses.
O Romance Tradicional distingue-se do Mito
pela forma como era transmitido; primeiro pela
oralidade , segundo através da escrita. Este processo atravessou todas as
fronteiras linguísticas, desde o Indo-Europeu, passando pelo Oriente até chegar
à Europa, no Séc. XIX (Romantismo).
A todas estas fontes, o romance “A Donzela Guerreira”, foi beber. Ela
representa vários ciclos de
vida, chamados “ciclos iniciáticos”, ou seja, diversas formas de provas que ao longo da vida de cada ser humano terão que ser ultrapassadas para se sair do Caos e entrar no Cosmos ou Universo, para a prática do Bem, do Bom e do Belo.
vida, chamados “ciclos iniciáticos”, ou seja, diversas formas de provas que ao longo da vida de cada ser humano terão que ser ultrapassadas para se sair do Caos e entrar no Cosmos ou Universo, para a prática do Bem, do Bom e do Belo.
Segue uma análise muito sintética do texto em
questão:
-
A situação de guerra
-
O lamento do pai por estar velho e não ter tido um filho varão
-
A resposta da filha mais velha
2ª. A Androginia e a construção da Máscara
A
máscara que a heroína constrói, serviu-lhe para se tornar ao longo dos sete
anos de guerra um arquétipo, que até
aí era impensável vir a existir; reúne em si características
do masculino e e do feminino (androginia iniciática/ritual).
3ª. A Suspeita
Essa máscara romper-se-á quando o seu olhar a trai... atrai o capitão.
4ª. A Prova
No
momento em que é construída a máscara, a donzela está a transformar os seus atributos femininos e a adquirir saberes
próprios do mundo iniciático dos guerreiros, ficando assim de posse do conhecimento das normas de comportamento social dos dois sexos.
ex: A dada altura, a sua máscara de guerreiro vai tentar ser desconstruída pela mãe do cavaleiro e por ele próprio, aquando da ida ao pomar em que, por exemplo, a mãe lhe diz que "se ela for directa às maçãs é mulher.”
Em outro lugar, se analisarão contrastivamente várias outras versões do romance da "Donzela Guerreira", do ponto de vista da "construção" e "desconstrução" da máscara
A máscara cai quando o seu olhar a trai – “os seus olhos são a sua identidade “: A VERDADE DA SUA ALMA.
Fonte: Leitura de
parte da dissertação de mestrado
de Anabela Mª. Malta
P. da Silva
Fac. de Letras do
Porto – 2010
Carmo Bairrada, Azeitão, 31-03-2015
“CONSTRUÇÃO DA MÁSCARA
( “LEONARDO” versão de LEONOR BUESCU)
“O DRAMA DO PAI”: Sete filhas e nenhum filho varão! Concepção antiga de hereditariedade;
títulos, cargos, etc…
Construiu
a jovem uma máscara, que disfarçava a sua feminilidade. O Pai tenta dissuadir a filha a
lutar pela Sua honra, chamando-lhe a atenção para os seus atributos femininos…
- “Tens os pés muit´delicados, filha
conhocer-te vão. /Dê-me as suas botas mê pai, intcharei-as d`algodão . Dê-me Spada
e cavalo qu`e irê servir varão.”
- “Tens
os pêtos muito grandes. /Os
alfaiates fazem coletes prós meter no coração”
- “Tens os olhos faguêrinhos. / Cando passar
plos homens baixarei-os ó tchão”
- “Dás passos miudinhos. / Cando passar plos
homens darei passos de ganhão.”
Construiu
assim a máscara , com a qual
combateu sete anos sem que os companheiros de armas
desconfiassem da veracidade do seu disfarce!
“
DESCONSTRUÇÃO DA MÁSCARA”
Um deles, porém, pôs em causa a sua
masculinidade e apaixonou-se pela beleza feminina dos seus olhos!
A Mãe ,profunda conhecedora da alma
feminina, veio em seu auxílio, quando o jovem apaixonado
se lamentava !
- “Ó mnha mãe
ê me morro , ê me morro
de Paixão, Os olhos de Lionardo sã de mulher d`homem Não! / Se queres saber ó
mê filho, leva-a contigo a Comprar. S`ela
for mulher ó homo, da rendas
s`há-de Agradar. /Ó que linda rendas há
para uma dama Trajar !” Percebendo o
truque e disposta a
não se Deixar desmascarar , a
jovem foi passando nas sucessivas Provas que lhe foram impostas . E prontamente Respondeu: - “ Ó que linda
espada de d´ouro pra
na Guerra garrear!"
- “ Leva-a contigo a jantar. S´ela for mulher ó homa , no mai baixo
s´há –de assantar…/Lionardo pra mai
difarce, assantou-se im cima
do Capote
pra no mai alto
fequér”
- “Leva-a
contigo a nadar, s´ela
for mulher ó homa, no s`há –de
querer desfardar. / Camarada entra
prá – i –água , no te stejas a ácorbadar.”Ainda não foi desta vez, que a máscara se
desfez. “ Alto, alto mês camaradas, quem me quer acompanhar? Tchegou ma carta do céu, traguia grande pesar: Tinha
a mnha mãe morta , o mê pai a acabar. “
Generoso , o jovem apaixonado,
cavalgou a seu lado e teve
a justa recompensa
por tanto amor e tanta espera.
Curioso , o
pai pergunta ao vê –los chegar :
- “Que
camarada é aquele
que te vem acompanhar? / “ É o
genro de mê
pai, se quejér acetér “
Desconstruida a máscara , devem ter vivido para sempre,
recordando
as aventuras deste
atribulado amor!...
Elita
Guerreiro * 17/4/2015
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