TROVA DA MENINA SOLDADO
Donzela que vai à guerra
Vestida de rapagão
Ninguém vislumbra o ludíbrio
Do guerreiro de feição.
Capitão morre de amores
E não sabe que fazer
Julgando que ela é rapaz
Tem coração a sofrer…
Provoca-a em várias provas
Mas ela não se confunde:
No mercado compra adaga
No pomar não liga nada
E no rio não se desnuda.
Mas sete anos são passados
E seus pais se vão finando
Decide voltar a casa
E leva o seu capitão:
“Ó meu pai, ó minha mãe
Este é o meu namorado
Dai-me já a vossa bênção!”
A DONZELA GUERREIRA
A)- Situação de Guerra
-Oh! Senhor pai… Senhor pai,
porque tanto pranteais?
É das guerras declaradas
entre França e Aragão?
E pelejar não podeis
Filho, e não filha vos sou!
Aprontem cavalo, armas, guantes,
gibões apertados, botas e esporas,
que eu mesma me marcharei…
Assi irei, assi serei
o vosso filho varão!
B)- Androginia da Donzela
- Minha filha, como podes tu pelejar ?
Quando tendes belos atributos femininos,
Como esses teus lindos olhos azuis
Que de pronto te trairão?
-Senhor meu pai!
Serei mui discreta e atenta,
com a minha silhueta…
Não fiqueis pesaroso por tal,
que esta filha saberá disso cuidar.
Vos juro per Deos,
Que ninguém me reconhecerá!...
A)- As Suspeitas e as Provas
-Senhor pai, Senhora mãe,
O meu coração está doendo.
Os olhos do conde Daros
Que lindos são.
Mais me parecem de molher,
de omen não!...
(…)
- Existem muitas maneiras de o pordes à prova:
Convidai-o vós, meu filho,
para uma visita ao pomar
que ele se molher for,
Às maçãs se atirará…
A Donzela Guerreira
visitou demoradamente o pomar,
e de repente, exclamou:
- Que maçãs tão lindas e cheirosas
Para dar a uma dama formosa!...
(…)
Depois desta 1ª. prova, houve muitas mais a que a donzela foi sujeita, mas sempre teve uma saída para cada uma delas, não quebrando as promessas que tinha feito a seu pai antes da partida para a guerra.
Estava a Donzela mui pesarosa, quando dela se aproximou o cavaleiro,
ficando este mui aflito de ver e ouvir o seu pranto.
-Mui tristes novas chegaram.
Meu pai está-se finando, e minha mãe é já morta.
Minhas irmãs eu as oiço chorar ,
e meus ouvidos se enchem do toque
dobrado dos sinos da minha aldeia.
-Vai, Daros, que tragédia maior poderia acontecer?!
- Se me quereis acompanhar, vinde, temos muito que cavalgar.
Por fim, a Altos Paços chegaram
e logo ali se apearam.
vejo que vens mui bem acompanhada!
-He, Senhor, hum Genro vosso,
se meu pai o aceitar…
Foi ele o meu Capitão,
Que se diz perdido de amores por mim
e se essa a verdade for, que fale agora
convosco, Senhor meu pai.
Fui sete anos filho varão
nunca ninguém soube quem fui,
a não ser meu Capitão,
Que per meus olhos
Se apaixonou,
que per outra coisa não…
Carmo Bairrada, Março 2015
NOTA; - Que me perdoe o nosso grande romancista Almeida Garrett, pelo atrevimento que tive em escrever e analisar a minha "Donzela Guerreira".
NOTA; - Que me perdoe o nosso grande romancista Almeida Garrett, pelo atrevimento que tive em escrever e analisar a minha "Donzela Guerreira".
“MULHER GUERREIRA”
Clarinha
nasceu de olhos azuis como o mar e cabelos loiros, como espigas
de trigo maduro! Assim cresceu e se tornou mulher, numa terra pequena, onde o
céu era da cor dos seus olhos e o sol ardente brilhava risonho e forte. Adorava
aquele pedaço de paraíso!
Porém
começava a sentir que as serras altas que a rodeavam,
a
sufocavam. E um dia, ao serão, surpreendeu os pais com uma simples e curta
frase:
-
“Vou para a cidade!“
Os
Pais ficaram mudos de espanto! Lentamente, o Pai recuperando da surpreendente
notícia, perguntou:
-
E quem te disse que eu vou autorizar?
-
Pai, eu tenho 18 anos, lembra-se? Com a minha idade ou um pouco mais, o meu
Irmão estava a cumprir o serviço militar…
-
Mas tu és mulher, é diferente!...E que vais tu fazer para a cidade?
-
O mesmo que o meu Irmão. Só que eu vou
para a Marinha! – - Nunca! - gritou – lhe.
Filha minha não se veste de homem- disse
o Pai no auge da exaltação. E olhando furioso a mulher que assistia ao diálogo,
calada, perguntou:
-
Que dizes tu, mulher?
-
Queres saber? Os sonhos são lindos, quando os podemos tornar reais! E o amor
que temos à nossa filha não pode ser uma prisão para ela…Dá-lhe a liberdade de
que precisa para ser feliz e tornar realidade o seu sonho… A Clarinha não vai
deixar de ser mulher por vestir uma farda!...
Convencido pelos argumentos da esposa e pela
determinação da filha, deixou partir aquela” jovem guerreira”, em busca do seu
lugar de sonho, na vida real.
Sem
o preconceito que nos espartilha, na nossa condição de mulheres, somos tão
capazes como qualquer homem de cumprir
as
tarefas que a vida nos impõe e de realizar os sonhos que povoam as nossas
vidas. Um aplauso solidário para todas as mulheres que lutam corajosamente pela
emancipação e para
as
Mães que as apoiam e ajudam na conquista da felicidade!...
Elita Guerreiro * 9/
3/2015
“CONSTRUÇÃO DA MÁSCARA” em
“
DONZELA QUE VAI À GUERRA”
Jovem e linda donzela
Corajosa e muito bela,
A mais nova de sete Irmãs
Todas formosas e sãs!...
Um dia, começou a guerra
E não havia na terra
Mancebos em quantidade
E nem com grande vontade,
De partir para combater!
Quis o velho Pai deter
A sua filha mais nova
Que
pôs o seu amor à prova…
E vou
dar tudo de mim,
Para as batalhas ganhar
E voltar para o abraçar”…
- “Mas, és apenas mulher
Como vais tu fazer?
O teu corpo delicado,
Vai ser denunciado,
A meiguice desse olhar
A ninguém vai enganar!”
- “Os olhos, porei no chão
E vestirei um gibão
Que o corpo vai esconder,
E ninguém vai perceber…
Calçarei botas e esporas,
E vou lutar todas as horas.”
E lá partiu decidida
A dar pelo Pai a vida...
O disfarce conseguido
Fez desconfiar alguém,
Que quase sem querer
Lhe passou a querer bem...
“DESCONSTRUÇÃO
DA MÁSCARA”
“AJUDA DA MÃE AO JOVEM APAIXONADO “
Tenta a Mãe ajudar,
Aconselha a observar
As atitudes daquela
Que seria: homem, ou donzela?!...
- Ai sofre o meu coração
Perdido na confusão,
Não sei se é homem ou mulher!
Sei que não lhe posso querer,
Pois como eu é militar,
Mas faz-me desconfiar!
- “Convida-o a passear
Leva-o até ao pomar
Que se “ele” for mulher,
É uma maçã que quer”…
Mas não quis. E foi a adaga
que ele mais elogiava.
Ao convite para jantar
Bem alto se foi sentar.
- “Ai sofre o meu coração!
São de mulher, de homem não,
Os olhos do Conde Daros
Que me são cada vez mais caros!”
E nem fraquejou na feira...
Foi por fim na ribeira,
Que quase se desmascarou…
E uma artimanha arranjou
Para não se banhar…
E já juntos a galopar,
Rápidos que nem um ai
Foi apresentar ao Pai
O valoroso varão
Que prendeu seu coração “!...
Valeu a pena sofrer
Venceu o bem-querer,
A coragem e o am0r
Para à vida se dar
valor!
Elita Guerreiro
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