terça-feira, 25 de outubro de 2022

Conto inédito, por Elita Guerreiro

AMOR AO ENTARDECER

Entardecia naquela tarde de final de setembro. O sol envolvia a cidade, naquela luminosidade que só Lisboa parece ter. Morno, sobre o Tejo tranquilo, parecia despedir-se da cidade com alguma pena!

Caminhou sem destino certo, devagar, sem pressa… Santa Luzia, Limoeiro, Sé! Quase sem dar por isso chegou à mais bela sala de visitas do mundo: o Terreiro do Paço. Admirou, como se fosse a primeira vez, a belíssima estátua equestre e o deslumbramento do Tejo, onde os Cacilheiros no seu constante navegar, unem Lisboa a Almada na Margem Sul. Cais das Colunas: pequenas ondas vinham salpicar os degraus e desfaziam-se em pequenos e brilhantes cristais! Desviou o olhar e reparou naquela figura feminina: esbelta, cabelos ao vento, absorta na contemplação do horizonte. onde o sol ia desaparecendo. Como se sentisse observada, olhou na direcção do desconhecido. Primeiro, timidamente, depois com o à- vontade que só existe na juventude,  cumprimentaram-se.

-  Boa tarde!

Ela correspondeu. Tinha um sorriso lindo! Sem mais nada, começaram uma conversa, como se já se conhecessem de há muito. Falaram da beleza do pôr-do-sol, que se espreguiçava sobre o Tejo, tingindo-o de belas cores e das gaivotas barulhentas que, ao entardecer, enchem o cais.

- Posso saber como te chamas? - perguntou ele. Eu chamo-me Jorge.

- Eu chamo-me Sofia.

- Encantado, muito gosto!

Estavam feitas as apresentações. Atrevido, perguntou-lhe num misto de curiosidade e elogio:

- Donde vem toda essa elegância e esse estranho sotaque?

 Sorrindo, afastou do rosto uma madeixa de cabelo e, erguendo a cabeça, respondeu:

- Sou Alentejana do Baixo Alentejo, com muito orgulho.

- Só podia ser! Pareces uma haste de trigo, que o vento agita!

- Ora, deixa-te de piropos! E tu donde vens, que fazes na vida?

- Eu nasci e cresci no Bairro do Castelo, sou também com muito orgulho Lisboeta, Alfacinha de gema. Trabalho num Jornal e vivo só. Os meus Pais, após a reforma, rumaram ao Norte de onde são oriundos. Eu moro aqui perto, na rua da Conceição e trabalho numa Farmácia.

 Sem darem por isso, o sol tinha desaparecido! Ele reparou que ela tinha estremecido, num leve arrepio.

- Convido-te para um cacau quente, aceitas? Não te ofereço um “copo”, porque não bebo álcool.

- Eu também não, por isso aceito o cacau quente, gosto.

 Conversando, tomaram o cacau na Nacional, na Praça da Figueira. Continuaram à conversa pela noite amena de Lisboa. Àquela hora, a Rua Eugénio dos Santos parecia um formigueiro!

- Vamos ver o La Féria ao Politeama?

- OK. - Foi a resposta dela-. Adoro musicais. O La Féria é meu conterrâneo, vamos!

 Divertiram -se imenso com as actuações do João Baião e do Joaquim Monchique, a voz linda da Anabela. Entre risos de alegria e algumas lágrimas de emoção, a noite acabou e começou um grande amor, nascido ao sol - pôr, à beira do Tejo.

 

Elita Guerreiro /25/10/2022

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