Entardecia naquela tarde de final de setembro. O sol envolvia a cidade, naquela luminosidade que só Lisboa parece ter. Morno, sobre o Tejo tranquilo, parecia despedir-se da cidade com alguma pena!
Caminhou
sem destino certo, devagar, sem pressa… Santa Luzia, Limoeiro, Sé! Quase sem
dar por isso chegou à mais bela sala de visitas do mundo: o Terreiro do Paço.
Admirou, como se fosse a primeira vez, a belíssima estátua equestre e o
deslumbramento do Tejo, onde os Cacilheiros no seu constante navegar, unem
Lisboa a Almada na Margem Sul. Cais das Colunas: pequenas ondas vinham salpicar
os degraus e desfaziam-se em pequenos e brilhantes cristais! Desviou o olhar e
reparou naquela figura feminina: esbelta, cabelos ao vento, absorta na contemplação
do horizonte. onde o sol ia desaparecendo. Como se sentisse observada, olhou na
direcção do desconhecido. Primeiro, timidamente, depois com o à- vontade que só
existe na juventude, cumprimentaram-se.
- Boa tarde!
Ela
correspondeu. Tinha um sorriso lindo! Sem mais nada, começaram uma conversa,
como se já se conhecessem de há muito. Falaram da beleza do pôr-do-sol, que se
espreguiçava sobre o Tejo, tingindo-o de belas cores e das gaivotas barulhentas
que, ao entardecer, enchem o cais.
-
Posso saber como te chamas? - perguntou ele. Eu chamo-me Jorge.
-
Eu chamo-me Sofia.
-
Encantado, muito gosto!
Estavam
feitas as apresentações. Atrevido, perguntou-lhe num misto de curiosidade e
elogio:
-
Donde vem toda essa elegância e esse estranho sotaque?
Sorrindo, afastou do rosto uma madeixa de
cabelo e, erguendo a cabeça, respondeu:
-
Sou Alentejana do Baixo Alentejo, com muito orgulho.
- Só podia ser! Pareces uma haste de trigo, que o vento agita!
-
Ora, deixa-te de piropos! E tu donde vens, que fazes na vida?
-
Eu nasci e cresci no Bairro do Castelo, sou também com muito orgulho Lisboeta,
Alfacinha de gema. Trabalho num Jornal e vivo só. Os meus Pais, após a reforma,
rumaram ao Norte de onde são oriundos. Eu moro aqui perto, na rua da Conceição
e trabalho numa Farmácia.
Sem darem por isso, o sol tinha desaparecido!
Ele reparou que ela tinha estremecido, num leve arrepio.
-
Convido-te para um cacau quente, aceitas? Não te ofereço um “copo”, porque não
bebo álcool.
-
Eu também não, por isso aceito o cacau quente, gosto.
Conversando, tomaram o cacau na Nacional, na Praça
da Figueira. Continuaram à conversa pela noite amena de Lisboa. Àquela hora, a
Rua Eugénio dos Santos parecia um formigueiro!
-
Vamos ver o La Féria ao Politeama?
-
OK. - Foi a resposta dela-. Adoro musicais. O La Féria é meu conterrâneo,
vamos!
Divertiram -se imenso com as actuações do João
Baião e do Joaquim Monchique, a voz linda da Anabela. Entre risos de alegria e
algumas lágrimas de emoção, a noite acabou e começou um grande amor, nascido ao
sol - pôr, à beira do Tejo.
Elita
Guerreiro /25/10/2022
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