A MAGIA DA CHUVA
Pingos de chuva,
alegria,
Vêm bater na
vidraça,
Quebram a
monotonia
Da rua onde
ninguém passa!
Noite escura
sem estrelas
Na minha rua
deserta,
Bate a chuva
nas janelas,
Deixo as
portadas abertas!
Têm uma certa
beleza
As noites de escuridão,
Quando a alma
está presa
Entre a mágoa e
a solidão!
Que seja bem vinda
a chuva
Que vem trazer
a magia
À rua triste e
turva,
Escura mesmo de
dia!
Elita Guerreiro /24/10/2022
BOM DIA, MÃE NATUREZA
Bom
dia, manhã de sol
Que
ainda há pouco nasceu,
Mas
com seu estranho fulgor
Dá
brilho à terra e ao céu!
Bom
dia, rosa orvalhada
Por
entre a madressilva,
Tão
branca e delicada
Alegre,
cheia de vida!
Bom
dia, passaredo
Que
esvoaça do telhado,
Para
o verde arvoredo
Que
parece envernizado!
Bom
dia, com alegria,
Manhã
mágica de beleza,
Bom
dia, bom dia,
Bom
dia, Mãe Natureza!
Elita Guerreiro 14/11/2022
SONHO
DE CRIANÇA
Maria
sai a correr
Diz
que vai buscar a lua!
Quem
a pode convencer
Que
a lua vem se quiser
Iluminar
a escura rua?
Maria
é uma criança,
Não
perde a esperança
De
falar com o luar,
De
o fazer regressar
À
sua pequena janela!
Maria,
és uma estrela
Sonhadora
delicada,
A
tua carinha bela
Teria
que ser inventada,
Se
Deus e aquela Fada
Não
o tivessem já feito!
A
lua vive alheada
Do
teu sonho tão perfeito!
Elita
Guerreiro/26/11/2022
SOBROU
A MÁGOA E A DOR
Como
eram felizes os dias
Em
que as nossas alegrias
Tinham
o mesmo destino,
Seguiam
o mesmo caminho!
A
busca do novo abraço,
Nosso
preferido espaço,
Sem
muros e sem barreiras…
Pareciam
verdadeiras
As
juras que trocávamos,
Quando
as mãos enlaçávamos!
Era
apenas nosso, o mundo
Simples,
mas tão profundo!
Um
dia, tudo acabou
E
do pouco que nos restou
Do
nosso grande amor,
Apenas
temos a dor!
Profunda,
enraizada,
Para
não esquecermos nada!
Como
é estranho o Amor!
Nasce
como um lindo sol
E
morre, perdendo o calor!
Elita
Guerreiro , 02/11/2022
MINHA MUSA
Minha
Musa inspiradora
Nos momentos de poesia,
Dependo
de ti, senhora
Do
teu saber e magia!
Vem
aquietar a pena
Com
a qual escrevo meus ais,
Senhora
calma e serena
Não
me abandones jamais!
Só
com os meus pensamentos
No
silêncio, na escuridão,
Senhora, ouve os meus lamentos
As
dores do meu coração!
Vem
como estrela cadente
Pousar
nesta folha em branco,
Que
reclama exigente
Que
lhe confie o meu pranto!
Perco-me
na imensidão
Dos
meus próprios pensamentos,
Só
escrevo solidão
Só
arrasto os meus tormentos!
Não
quero escrever assim
Vem
ajudar-me, Senhora,
Se a poesia não tem fim
Vem, Musa Inspiradora!
Elita
Guerreiro /12/10/2022
PERFUME DE ROSAS
Rosas
brancas desfolhadas
Atapetam
o caminho,
Tenho
algumas guardadas
Numa
caixa com carinho!
Guardam
ainda o perfume,
Embora
de cor perdida,
Daquele
amor como lume
Que
nos envolveu a vida!
Caminhamos
de mãos dadas
Entre
roseiras perdidos,
Rosas
brancas perfumadas
Inebriando
os sentidos!
Não
reparávamos na cor
Porém
sentimos os espinhos,
Quando
acabou nosso amor
E
voltámos a estar sozinhos!
Que
felizes são as rosas
No seu silêncio sem fim!
Perfumadas
e formosas
Não
sofrem de amor assim!
A INSÓLITA VISITA ( MEMÓRIA)
Às seis da manhã, o silêncio é quebrado pela ruidosa saída do rebanho comunitário do aprisco. O som dos chocalhos é o despertador das gentes da aldeia. Hora de pegar no batente, como diz o Tio Jacob!
Situado no centro da aldeia, junto à enorme cerejeira, que um temporal abriu ao meio e à beira da única rua de terra batida, quando os animais saem ou entram, é como que um quadro em movimento! Um quadro com cheiro e cor! A velhíssima cerejeira, que continua a fazer sombra ao aprisco e a encher-se de enorme e gostosas cerejas, é com o centenário castanheiro, os dinossauros da aldeia! Ou melhor, era, porque o belíssimo exemplar, que era o castanheiro, mesmo em frente da vivenda dos meus amigos, foi derrubado para dar lugar ao mamarracho de dois andares, em cumprimento do sonho de um emigrante, que nele aplicou as poupanças duma vida! Chorou o Tio Jacó, quando o colosso caiu ao chão! Ninguém na aldeia, nem ele, nos seus noventa anos, sabia quando tinham sido plantados, ou por quem. Bem, vou entrar na minha memória propriamente dita. O episódio, que aqui deixo registado, tem todos os condimentos dum momento anedótico. É no entanto, o verdadeiro relato dos factos! Assustadora e ao mesmo tempo engraçada.
Meio-dia. Como sempre, a aldeia está mergulhada no silêncio daquele Agosto escaldante. Não muito longe, no lameiro, os animais, o pastor e o cão, descansavam à sombra. Do negro das casas de xisto, erguiam-se pequenas nuvens de fumo branquinho que se desfazia no ar. Dentro de casa, era a azáfama da hora do almoço. A dona da casa, às voltas com os tachos e panelas, os dois homens cuidand0 de por a mesa. Coube-me a mim a tarefa de ir à horta buscar um ramo de hortelã. Abro a porta e tenho a maior surpresa e o maior susto da minha vida!...
Uns olhos do tamanho do mundo, uma cabeçorra descomunal e uns
cornos assustadores, estavam na minha frente, tapando a saída por completo, ruminando sem cessar!
- Então, essa hortelã? - perguntaram de dentro da casa.
Qual hortelã, qual carapuça! Eu tinha perdido a voz e a faculdade de me movimentar, Estava pregada ao chão! A dona da casa deixou o fogão e veio ver o que se passava. Um grito enorme saiu-lhe da garganta! Mas não chegou para me fazer sair do torpor em que me encontrava!... A vaca, que se tinha afastado da manada, resolveu fazer-nos uma visita à hora do almoço! Olhava-nos com aqueles enormes olhos, ruminando mansamente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, uma visita daquelas! Os dois homens apareceram ao mesmo tempo que o Pastor e o cão, um belíssimo Serra da Estrela. Sem que fosse preciso qualquer esforço, a visitante virou lentamente a cabeçorra, ruminando sempre. Segui-os sem olhar para trás.
- Que bela surpresa! - disse o meu marido, tentando acalmar-me.
Todos riram do insólito acontecimento. Enervada, juntava o riso às lágrimas e ao bater descompassado do coração.
Foi há alguns anos, naquela aldeia de Trás-os- Montes, silenciosa e calma, mas onde acontecem coisas estranhas!
Juro que ainda hoje tenho pesadelos com aquela cabeçorra de olhos enormes fixos nos meus, aterrorizados.
Elita Guerreiro 16/7/2022
COMO NASCEU O POEMA
Acordei na areia molhada
Mas não me lembro de nada!
Como fui ali parar,
Se fui chamada pelo mar!...
Que força me arrastou?
Fui só? Alguém me levou?
A cruz sobre os penedos
Recorda as dores, os medos
De quem faz do mar a vida
E lá a deixam perdida!
Já o sol vai acordando:
Há gaivotas esvoaçando,
Pescadores sobre a areia...
Esperando a maré cheia
Rezam suas orações!
Empurram as embarcações
E lá entram pelo mar dentro.
A pesca é o seu sustento!
Foi então que percebi
A razão de estar aqui.
E na madrugada serena
Nasce por fim o poema!
Elita Guerreiro 21/8/2022
CIGANOS
Trazem o sol no rosto
Cabelos negros ao vento,
São os filhos do sol - posto
Livres como o pensamento.
Olhos escuros com as esperanças
De uma vida por viver,
Que buscam nas andanças
De um mundo a percorrer.
E lá vão, de feira em feira
Vendendo sonhos, enganos,
À noite junto à fogueira
Dançam com garra, os ciganos.
Levantam o acampamento
E partem pelo mundo fora,
São livres tal qual o vento
Que regressa a qualquer hora.
Elita Guerreiro, 24/2/2018
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