segunda-feira, 17 de junho de 2019

Reflexões sobre a "História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a Voar", Luis Sepúlveda (por Carmo Bairrada)



- HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA
E DO GATO QUE A ENSINOU A VOAR -

Esta história é uma Fábula e Parábola ao mesmo tempo. Primeiro, porque os intervenientes principais são animais, apesar de haver também humanos; segundo, vai-nos transmitir a prática de várias virtudes e o respeito pela diversidade, sobretudo aprender a respeitar a diferença e tudo o que nos rodeia.

O começo da história, que se passa no porto de Hamburgo, é dramático: uma gaivota perde-se do seu bando, cai em alto mar e é arrastada por uma pasta negra e viscosa, que lhe cobre todo o corpo e a impede de voar.
Com muito esforço e após várias tentativas para sair daquela armadilha, conseguiu elevar-se no ar e voar.

Kengah, assim se chamava a gaivota, naquele momento  amaldiçoou os humanos, pela peste negra – o petróleo” – (pág.25)

Aqui revela-se que o papel do Homem no Mundo como Ser Humano é uma perfeita negação. Ele continua a degradar cada vez mais o Planeta Terra, em seu próprio proveito: é egoísta, materialista, não quer ver a destruição que tem vindo a fazer e está já a causar vários problemas globais. E o futuro, que é já hoje, talvez seja o princípio de uma
Catástrofe, como o desaparecimento da nossa Civilização.

A gaivota continuou a voar sem conseguir abrir os olhos e, de repente, começou a ver, quando estava a sobrevoar a torre da Igreja de S. Miguel de que tanto gostava…  mas cansada, pois as forças eram poucas, acabou por cair de exaustão junto a um gato preto, grande e gordo, que apanhava sol na varanda da sua casa.

1ª. ETAPA (O assumir duma Promessa)

Kengah sentia o fim a aproximar-se, mas ainda tinha que pôr o seu último ovo… olhou para o gato e pediu-lhe para lhe satisfazer três desejos, que deveriam ser considerados como uma promessa a cumprir,:

- “Não comer o Ovo (que estava prestes a pôr)”;
- “Que irá tomar conta dele assegurando o seu crescimento”;
- “E finalmente ensinar a gaivotinha a voar.” (pág. 31/32)

Finalmente: ao exalar o seu último suspiro, um ovito branco com pintinhas azuis rolou junto do seu corpo”. (pág.32)

Apesar do momento trágico, o gato Zorbas de seu nome foi ter com os amigos gatos e companheiros de sempre e contou-lhes o que acabava de acontecer.  Todos se mostraram unidos e disponíveis para ajudar em tudo o que fosse necessário, assumindo que cada um faria sua aquela promessa.

Ao longo da história, cada um dos cinco gatos irá mostrar os seus verdadeiros valores: as suas maneiras de pensar, ser e agir revelar-se-iam sempre prontas para ajudar Zorbas no trabalho, que se comprometera realizar. Para eles, não existia o problema da diferença entre espécies…
Mal o ovo estalou, uma vida nova começou para todos. A partir de então,  Zorbas e os seus amigos irão fazer tudo por tudo para que a promessa se cumpra.

Criar um Ser, acompanhar todo o seu o crescimento, desenvolvimento e educação não seria tarefa fácil. Nem para a gaivotinha que acabara de nascer, nem para os gatos que, a partir  daquele momento, passariam a tomar conta dela.

Zorbas pensou alto, dizendo que teriam de saber o sexo. Um dos gatos foi escolhido para essa tarefa, e finalmente, acabaram por saber e que era uma gaivota fêmea. Naquele instante por unanimidade deram-lhe o nome de Ditosa.


2ª. ETAPA (O Problema – Voar)

A vida corria dentro da normalidade, Ditosa estava uma bela gaivota, todo o acompanhamento e ensino dos valores e virtudes dos seus amigos estavam a dar os seus frutos, uma vez que absorvia tudo o que lhe ensinavam. 

Zorbas entendeu que era chegada a hora de Ditosa começar a voar.  Tentou várias vezes  sem sucesso: a gaivotinha chorava, era muito mimada e tinha medo de voar. No entender dela, gostava de ser um gato, identidade de amor que conhecia.

Estava ali um problema sério, porque o que todos os gatos gostariam era que ela se soltasse e começasse a fazer a vida normal de uma gaivota.  Zorbas,  preocupado, acabou por dizer aos amigos que iria quebrar o  Tabu  e falaria com o Poeta ,  o que “sabia voar com as palavras”, e que por isso os entenderia e  ajudaria a cumprir a promessa feita a Kengah, pondo Ditosa a voar

3ª. ETAPA (O VOO)

O Poeta ficou entusiasmado e prometeu a Zorbas que, naquela noite, a gaivotinha atravessaria os Céus num voo triunfal.

Ditosa iria na palma das suas mãos e Zorbas subiria com eles até ao cimo da torre. Os outros gatos ficariam na rua a ver o que iria suceder. A gaivota naquele instante disse que nunca os iria esquecer e que os amava a todos.

Apesar do nevoeiro intenso e da chuva que começava a cair, o poeta olhou para o Céu, abriu as mãos e pousou Ditosa no varandim do Campanário. Cheia de entusiasmo, voou pela primeira vez, sem medo, feliz, com as gotas de chuva que caiam sobre o seu corpo, as asas parecendo pérolas.

A Torre da Igreja de S. Miguel a partir daquele momento ficou para todos como um Símbolo de Morte e Renascimento.  Kengah morrera sem a conseguir alcançar e Ditosa, sua filha, a partir daquele lugar voava, voava sem parar, rumo ao futuro. Era uma vida que se iniciava naquela noite nos céus d6o Porto de Hamburgo.

A Promessa cumpriu-se, assim, na totalidade:

- Porque tudo o que se passou no porto de Hamburgo se ficou a dever à tenacidade e  forte conjugação do Código Moral de cada um dos intervenientes e à sábia mistura das suas qualidades e virtudes : Honra, Lealdade, Nobreza de Carácter, Altruísmo,  Humildade, Amizade, Cumplicidade, Bom Coração, Honestidade, Sensibilidade, Determinação, Sentido da Responsabilidade, Tolerância e ainda a Aceitação da Diferença entre Seres – (Animais e Humanos).
Naquela noite choraram-se lágrimas de saudade ou de chuva? Não se sabe…Olhando o céu por entre os fios da própria chuva, a gaivota Ditosa voava com alegria pela Liberdade conquistada e, ao vê-la tão feliz, todos acompanharam o seu voo até desaparecer no céu. Estavam comovidos e felizes…


Azeitão, 31-05-2019
Carmo Bairrada

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