- HISTÓRIA DE UMA GAIVOTA
Esta história é
uma Fábula e Parábola ao mesmo tempo. Primeiro, porque os intervenientes
principais são animais, apesar de haver também humanos; segundo, vai-nos
transmitir a prática de várias virtudes e o respeito pela diversidade,
sobretudo aprender a respeitar a diferença e tudo o que nos rodeia.
O começo da
história, que se passa no porto de Hamburgo, é dramático: uma gaivota perde-se
do seu bando, cai em alto mar e é arrastada por uma pasta negra e viscosa, que
lhe cobre todo o corpo e a impede de voar.
Com muito
esforço e após várias tentativas para sair daquela armadilha, conseguiu elevar-se
no ar e voar.
Kengah, assim se
chamava a gaivota, naquele momento “amaldiçoou os humanos, pela peste negra –
o petróleo” – (pág.25)
Aqui revela-se que o
papel do Homem no Mundo como Ser Humano é uma perfeita negação. Ele
continua a degradar cada vez mais o Planeta Terra, em seu próprio proveito: é
egoísta, materialista, não quer ver a destruição que tem vindo a fazer e está
já a causar vários problemas globais. E o futuro, que é já hoje, talvez seja o
princípio de uma
Catástrofe, como o
desaparecimento da nossa Civilização.
A gaivota continuou
a voar sem conseguir abrir os olhos e, de repente, começou a ver, quando estava
a sobrevoar a torre da Igreja de S. Miguel de que tanto gostava… mas cansada, pois as forças eram poucas, acabou
por cair de exaustão junto a um gato preto, grande e gordo, que apanhava sol na
varanda da sua casa.
1ª. ETAPA (O assumir duma Promessa)
Kengah sentia o
fim a aproximar-se, mas ainda tinha que pôr o seu último ovo… olhou para o gato
e pediu-lhe para lhe satisfazer três desejos, que deveriam ser considerados
como uma promessa a cumprir,:
- “Não comer o Ovo (que estava prestes
a pôr)”;
- “Que irá tomar conta dele
assegurando o seu crescimento”;
- “E finalmente ensinar a gaivotinha a
voar.” (pág. 31/32)
Finalmente: “ao exalar o seu
último suspiro, um ovito branco com pintinhas azuis rolou junto do seu corpo”.
(pág.32)
Apesar do
momento trágico, o gato Zorbas de seu nome foi ter com os amigos gatos e
companheiros de sempre e contou-lhes o que acabava de acontecer. Todos se mostraram unidos e disponíveis para
ajudar em tudo o que fosse necessário, assumindo que cada um faria sua aquela
promessa.
Ao longo da
história, cada um dos cinco gatos irá mostrar os seus verdadeiros valores: as suas
maneiras de pensar, ser e agir revelar-se-iam sempre prontas para ajudar Zorbas
no trabalho, que se comprometera realizar. Para eles, não existia o problema da
diferença entre espécies…
Mal o ovo
estalou, uma vida nova começou para todos. A partir de então, Zorbas e os seus amigos irão fazer tudo por
tudo para que a promessa se cumpra.
Criar um Ser, acompanhar todo o seu o crescimento,
desenvolvimento e educação não seria tarefa fácil. Nem para a gaivotinha que
acabara de nascer, nem para os gatos que, a partir daquele momento, passariam a tomar conta dela.
Zorbas pensou alto, dizendo que teriam de saber o sexo. Um
dos gatos foi escolhido para essa tarefa, e finalmente, acabaram por saber e que
era uma gaivota fêmea. Naquele instante por unanimidade deram-lhe o nome de
Ditosa.
2ª.
ETAPA (O Problema – Voar)
A vida corria dentro da normalidade, Ditosa estava uma
bela gaivota, todo o acompanhamento e ensino dos valores e virtudes dos seus amigos
estavam a dar os seus frutos, uma vez que absorvia tudo o que lhe ensinavam.
Zorbas entendeu que era chegada a hora de Ditosa começar
a voar. Tentou várias vezes sem sucesso: a gaivotinha chorava, era muito
mimada e tinha medo de voar. No entender dela, gostava de ser um gato, identidade
de amor que conhecia.
Estava ali um problema sério, porque o que todos os gatos
gostariam era que ela se soltasse e começasse a fazer a vida normal de uma
gaivota. Zorbas, preocupado, acabou por dizer aos amigos que
iria quebrar o Tabu e falaria com o Poeta , o que “sabia voar com as palavras”, e que por isso
os entenderia e ajudaria a cumprir a promessa
feita a Kengah, pondo Ditosa a voar
3ª.
ETAPA (O VOO)
O Poeta ficou entusiasmado e prometeu a Zorbas que,
naquela noite, a gaivotinha atravessaria os Céus num voo triunfal.
Ditosa iria na palma das suas mãos e Zorbas subiria com
eles até ao cimo da torre. Os outros gatos ficariam na rua a ver o que iria
suceder. A gaivota naquele instante disse que nunca os iria esquecer e que os amava
a todos.
Apesar do nevoeiro intenso e da chuva que começava a
cair, o poeta olhou para o Céu, abriu as mãos e pousou Ditosa no varandim do
Campanário. Cheia de entusiasmo, voou pela primeira vez, sem medo, feliz, com as
gotas de chuva que caiam sobre o seu corpo, as asas parecendo pérolas.
A Torre da Igreja de S. Miguel a partir daquele momento
ficou para todos como um Símbolo de Morte e Renascimento. Kengah morrera sem a conseguir alcançar e
Ditosa, sua filha, a partir daquele lugar voava, voava sem parar, rumo ao futuro.
Era uma vida que se iniciava naquela noite nos céus do Porto de Hamburgo.
A Promessa cumpriu-se, assim, na totalidade:
- Porque tudo o que se passou no porto de Hamburgo se
ficou a dever à tenacidade e forte
conjugação do Código Moral de cada um dos intervenientes e à sábia mistura das suas qualidades e virtudes : Honra, Lealdade, Nobreza de
Carácter, Altruísmo, Humildade, Amizade,
Cumplicidade, Bom Coração, Honestidade, Sensibilidade, Determinação, Sentido da
Responsabilidade, Tolerância e ainda a Aceitação da Diferença entre Seres –
(Animais e Humanos).
Naquela noite
choraram-se lágrimas de saudade ou de chuva? Não se sabe…Olhando o céu por
entre os fios da própria chuva, a gaivota Ditosa voava com alegria pela
Liberdade conquistada e, ao vê-la tão feliz, todos acompanharam o seu voo até
desaparecer no céu. Estavam comovidos e felizes…
Azeitão,
31-05-2019
Carmo Bairrada
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