HISTÓRIA DE UM CARACOL QUE DESCOBRIU
A IMPORTÂNCIA DA LENTIDÃO
Mais
uma Fábula que Luís Sepúlveda nos deixou editada, antes de partir: infelizmente,
já não se encontra entre nós.
Esta história, como
todas as outras, tem como finalidade, os animais que delas fazem parte, ensinarem
aos Seres Humanos a forma como estes se devem comportar, ao lidarem com resoluções
de problemas no seu quotidiano.
Hoje, nas sociedades
ditas modernas, quase não existe tempo para pensar, comer, tratar da família: é
tudo tão vazio, tão oco de sentimentos, que causa um certo receio para quem
partirá.
Os que continuarem
a viver neste planeta, com um futuro altamente tecnológico e cada vez mais
competitivo, terão de se adaptar.
Deixo
aqui uma pergunta feita por uma criança, que por acaso é o neto do autor, enquanto
vivo:
- “Porque é que o
Caracol é tão lento?”
É espantoso! O
avô não lhe deu nenhuma resposta naquele momento, e prometeu-lhe que ia tentar
saber o porquê e depois o informaria.
Acho que todos
já tivemos episódios na nossa vida, e sabemos bem ou não, o que é a “LENTIDÃO”:
com certeza que já apanhámos alguns dissabores à conta dela.
Mas aqui,
trata-se de uma Fábula em que o autor nos confronta a nós humanos, novamente,
com as atitudes dos animais, sejam eles de que espécie forem.
Como são várias
as personagens, escolhi a Tartaruga de nome “MEMÓRIA” e um Caracol ainda jovem,
que tinha dormido toda a noite em cima do que ele pensou ser uma bonita pedra.
Quando o sol
raiou é que se conheceram: o Caracol, sempre ao lado da sua companheira, foi
contando a sua vida num tom de revolta.
A Tartaruga, depois de saber toda a história, fez ver ao jovem Caracol descontente e
irreverente que ser lento e não ter uma identidade própria, não o devia fazer
sentir inferior, mas antes lutar para ser melhor.
A sua
companheira, como ele, era lenta e disse-lhe: -
- Sabes, eu
nunca páro… ando sempre a ver tudo à minha volta, para observar o que fazem os
seres humanos.
Os meus, lá em
casa, sempre me trataram muito bem, mas um dia esqueceram-se de mim.
Gosto de estar
atualizada para poder ajudar quem precisa e tu, tão novo, és tão refilão e
insuportável no meio da tua comunidade… por isso, a partir de hoje, passas a ter
o nome de REBELDE.
Só tenho que te
ensinar e mostrar o que é a realidade da vida, que os seres humanos levam e o
que fazem para bem deles, deixando para trás quem poderá precisar de auxílio.
Escuta com
atenção o que te vou ensinar:
“LENTIDÃO”
quer dizer:
-Teres tempo
para pensar (MEMÓRIA);
-Agires com
conhecimento (SABEDORIA);
-Ajudares quem
de ti necessite (SOLIDARIEDADE);
-Teres calma para
resolver problemas (SERENIDADE);
-Não pensares só
em ti, mas também nos que te rodeiam (ALTRUISMO);
Tens de ganhar AGILIDADE,
ÂNIMO e DINAMISMO.
Se o Caracol
aprendeu todos os ensinamentos que a Tartaruga MEMÓRIA lhe ensinou,
praticando todos os valores, que lhe foram incutidos, certamente será feliz e
respeitado pelos seus companheiros.
Entretanto a
Tartaruga, virando-se para o REBELDE, disse:
-Não sei se
reparaste: falando, falando, chegámos ao fim do prado e o que vês?
– Homens a cobrir todo o Prado com uma matéria
preta e viscosa, que futuramente vai ser uma estrada para os carros dos seres
humanos passarem. Nós, para onde vamos viver? Teremos de sair deste paraíso e
procurar outra morada.
REBELDE
despediu-se, agradeceu e voltou para trás, directo a casa. Pelo caminho reparou
em muitos animais como formigas, abelhas etc...
Aproveitou para
os informar do que tinha visto e assim salvou muitas vidas, porque deixaram
tudo para trás e foram-se embora naquele instante.
Quando chegou
junto da sua comunidade, todos olharam para ele:
parecia
diferente. Então informou que já tinha um nome: REBELDE e que sabia realmente o
que era a LENTIDÃO, por isso queria todos reunidos o mais depressa possível.
Mal chegaram
todos, velhos e novos, o REBELDE informou-os do que se estava a passar mesmo
ali ao pé deles, e ninguém dizia nada. Quando acabou, saiu com a mochila às
costas e esperou pela reacção.
De repente,
olhou para trás e viu uma enorme fila pronta a partir com
Ele, Rumo à
Liberdade. Lá diz o velho ditado:
“DEVAGAR SE VAI AO LONGE”
Azeitão,
04-02-2021
Carmo Bairrada
OBRA: “História
de um caracol que descobriu a importância da lentidão” - (1ª. Edição Abril de
2014 – Reimpressão em 2020
AUTOR: Luís
Sepúlveda
FOTO: Paulo
Galindro
EDITORA: Porto
Editora
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