sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

Sobre a "História de um caracol que descobriu a importância da lentidão"

HISTÓRIA DE UM CARACOL QUE DESCOBRIU

A IMPORTÂNCIA DA LENTIDÃO

Mais uma Fábula que Luís Sepúlveda nos deixou editada, antes de partir: infelizmente, já não se encontra entre nós.

 Esta história, como todas as outras, tem como finalidade, os animais que delas fazem parte, ensinarem aos Seres Humanos a forma como estes se devem comportar, ao lidarem com resoluções de problemas no seu quotidiano.

 Hoje, nas sociedades ditas modernas, quase não existe tempo para pensar, comer, tratar da família: é tudo tão vazio, tão oco de sentimentos, que causa um certo receio para quem partirá.

 Os que continuarem a viver neste planeta, com um futuro altamente tecnológico e cada vez mais competitivo, terão de se adaptar.

 Deixo aqui uma pergunta feita por uma criança, que por acaso é o neto do autor, enquanto vivo:

 - “Porque é que o Caracol é tão lento?”

É espantoso! O avô não lhe deu nenhuma resposta naquele momento, e prometeu-lhe que ia tentar saber o porquê e depois o informaria.

Acho que todos já tivemos episódios na nossa vida, e sabemos bem ou não, o que é a “LENTIDÃO”: com certeza que já apanhámos alguns dissabores à conta dela.

Mas aqui, trata-se de uma Fábula em que o autor nos confronta a nós humanos, novamente, com as atitudes dos animais, sejam eles de que espécie forem.

 Como são várias as personagens, escolhi a Tartaruga de nome “MEMÓRIA” e um Caracol ainda jovem, que tinha dormido toda a noite em cima do que ele pensou ser uma bonita pedra.

 Quando o sol raiou é que se conheceram: o Caracol, sempre ao lado da sua companheira, foi contando a sua vida num tom de revolta.

 A Tartaruga, depois de saber toda a história, fez ver ao jovem Caracol descontente e irreverente que ser lento e não ter uma identidade própria, não o devia fazer sentir inferior, mas antes lutar para ser melhor.

 A sua companheira, como ele, era lenta e disse-lhe: -

- Sabes, eu nunca páro… ando sempre a ver tudo à minha volta, para observar o que fazem os seres humanos.

Os meus, lá em casa, sempre me trataram muito bem, mas um dia esqueceram-se de mim.

Gosto de estar atualizada para poder ajudar quem precisa e tu, tão novo, és tão refilão e insuportável no meio da tua comunidade… por isso, a partir de hoje, passas a ter o nome de REBELDE.

Só tenho que te ensinar e mostrar o que é a realidade da vida, que os seres humanos levam e o que fazem para bem deles, deixando para trás quem poderá precisar de auxílio.

Escuta com atenção o que te vou ensinar:

 LENTIDÃO” quer dizer:

 -Teres tempo para pensar (MEMÓRIA);

-Agires com conhecimento (SABEDORIA);

-Ajudares quem de ti necessite (SOLIDARIEDADE);

-Teres calma para resolver problemas (SERENIDADE);

-Não pensares só em ti, mas também nos que te rodeiam (ALTRUISMO);

Tens de ganhar AGILIDADE, ÂNIMO e DINAMISMO.

 Se o Caracol aprendeu todos os ensinamentos que a Tartaruga MEMÓRIA  lhe ensinou, praticando todos os valores, que lhe foram incutidos, certamente será feliz e respeitado pelos seus companheiros.

 Entretanto a Tartaruga, virando-se para o REBELDE, disse:

-Não sei se reparaste: falando, falando, chegámos ao fim do prado e o que vês?

 – Homens a cobrir todo o Prado com uma matéria preta e viscosa, que futuramente vai ser uma estrada para os carros dos seres humanos passarem. Nós, para onde vamos viver? Teremos de sair deste paraíso e procurar outra morada.

 REBELDE despediu-se, agradeceu e voltou para trás, directo a casa. Pelo caminho reparou em muitos animais como formigas, abelhas etc...

 Aproveitou para os informar do que tinha visto e assim salvou muitas vidas, porque deixaram tudo para trás e foram-se embora naquele instante.

 Quando chegou junto da sua comunidade, todos olharam para ele:

parecia diferente. Então informou que já tinha um nome: REBELDE e que sabia realmente o que era a LENTIDÃO, por isso queria todos reunidos o mais depressa possível.

 Mal chegaram todos, velhos e novos, o REBELDE informou-os do que se estava a passar mesmo ali ao pé deles, e ninguém dizia nada. Quando acabou, saiu com a mochila às costas e esperou pela reacção.

 De repente, olhou para trás e viu uma enorme fila pronta a partir com

Ele, Rumo à Liberdade. Lá diz o velho ditado:

 “DEVAGAR SE VAI AO LONGE”

 

Azeitão, 04-02-2021

Carmo Bairrada

 OBRA: “História de um caracol que descobriu a importância da lentidão” - (1ª. Edição Abril de 2014 – Reimpressão em 2020

AUTOR: Luís Sepúlveda

FOTO: Paulo Galindro

EDITORA: Porto Editora


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