quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Conto de Natal, por Elita Guerreiro

 


“O BOM PASTOR NA CONSOADA”  

Férias de Natal. O Ricardo ia cedo para o campo, com o pequeno rebanho de cabras e ovelhas. Mal o sol raiava, era vê-lo com o seu chapéu de abas largas, a manta de pastor e a balsa da merenda ao ombro. A Mãe vinha à porta quando ele saía e, orgulhosa, ficava a fazer-lhe adeus , até o ver desaparecer na curva da estrada, serra acima até chegar à pedra furada, assim chamada porque abrigava dentro de si os pastores, nos dias de tempestade. Era um enorme rochedo! Tocava o rebanho com a ajuda do Fiel, um grande cão de olhos meigos e feitio paciente. O sol de inverno convidava a uma soneca. O rebanho pastava calmamente e o Fiel aninhou-se ao seu lado. Isto acontecia-lhe muitas vezes, porque acordava muito cedo e chegava à serra, cansado. Pensou no Pai, lá longe, labutando para que ele pudesse ter uma vida melhor! Acabou vencido pelo sono. E então sonhou.

Sonhava sempre, mal adormecia! Um homem de vestes brancas e cabelos negros compridos estava a fixá-lo . Abriu os olhos e perguntou:

- Quem é o senhor?

- Sou quem o teu coração quiser que eu seja.

- A mim, parece-me Jesus!

- Pois serei então Jesus, já que o teu coração me reconheceu. Sou como tu um Pastor: tenho um rebanho do tamanho do mundo, que cuido com muito carinho.

-  Então é rico!

- Tanto quanto tu.

- Eu? Eu não sou rico. Sou uma criança, que ajuda os Pais nas férias escolares.

- Eu não tenho férias. Todos os dias cuido do meu rebanho, do qual tu fazes parte.

- Então é verdade,  o Senhor é mesmo Jesus? Que fiz eu para merecer a sua visita?

- Nada de mal, pelo contrário. És um bom menino, um bom filho e um bom pastor. Mas nesta altura do ano,  Jesus é pequenino e dorme ao lado de Maria e José no presépio! Conheces a história, deves saber que isso aconteceu há 2000 anos.

-  Também sei que morreu na cruz, para desconto dos nossos pecados. - - Dorme, que eu guardo o teu rebanho, as tuas ovelhas, o teu cão e o teu sono.

O sol já ia alto, quando a criança acordou. Uma estranha luminosidade encheu a caverna do penedo, deixando a criança deslumbrada. Ouviu passos e, baixinho, disse Jesus:

-  Então, meu bom pastor?!...

De um salto ficou abraçado ao Pai. Desceram a serra. Os chocalhos do gado e os pulos do Fiel faziam a festa. Começou, assim, feliz a noite de Consoada. A Mãe, feliz, enfeitava a mesa junto à lareira; o Pai desembrulhava os presentes, que tinha trazido e o Fiel aquecia-se junto á lareira. Era hora de sentar à mesa , mas antes havia que agradecer a Deus . O Ricardo pediu para ser ele a fazer a oração. E começou:

- Obrigada, Jesus, por me teres trazido o meu Pai , pelos alimentos e por estares comigo, guardando o meu sono.

- Amém! - disseram os Pais.

Uma rajada de vento abriu a janela mal fechada. Na lareira, as lavaredas subiram alto, o Fiel ergueu a cabeça e o menino disse, sorrindo, feliz:

- JESUS !

  Elita Guerreiro 24 /11 /2020 

Sem comentários: