*O RETRATO DE SOPHIA*
Apesar do título parafrasear o nome dum conto
seu, “O Retrato de Mónica”. Não
existe qualquer semelhança entre a personagem e a autora.
A) -Síntese Biográfica
-
Sophia de Mello Breyner Andresen nasce no Porto a 06/11/1916, no meio de uma
família aristocrática, e educada nos valores tradicionais da moral cristã;
-
Tem origem dinamarquesa, por parte do pai;
-
Vive uma infância junto ao mar (praia da Granja)
-
Em Lisboa frequenta a licenciatura em Filologia Clássica;
-
Casa.se com o jornalista, político e advogado, Francisco Sousa Tavares, de quem
tem cinco filhos;
-
A pedido dos filhos escreve livros para crianças;
-
É sobretudo uma autora de poesia.
B) -A
Forma Poética
A
poetisa deixou-nos um manancial de reflexões para as quais devemos, estabelecer
uma relação com as coisas e com o Mundo, organizando o Caos para a criação do
Cosmos, ou seja a existência da ordem e equilíbrio do Universo.
Para
que isso possa acontecer teremos de nos concentrar nos diversos pontos
essenciais da sua obra, e nos argumentos, que para ela eram fundamentais:
- A
busca da Justiça, do Equilíbrio, da Harmonia e a Exigência da Moral.
-
Revolta permanente por um estado social de injustiça, podridão e de ditadura,
seja ela qual for.
.-
Exaltação do exemplo dos que foram vítimas de tal estado, ou contra ele
lutaram.
-
Tomada de consciência do tempo em que vivemos.
- Mergulho
na Natureza e no Mar, espaços de referência para qualquer Ser Humano.
- A
Natureza como “espaço primordial”, onde o EU se reencontra com a sua nudez e
beleza plena.
- Fugir
das cidades que são representativas de um espaço frio, artificial, hostil e
descaracterizado o “CAOS”, sendo o
contrário da natureza e da segurança que nela se encontra.
- Tempo: (tema recorrente na sua
escrita), que
Sophia considera “O Tempo Dividido” e “O Tempo Absoluto”, que se opõem entre
si. O
primeiro é o tempo da solidão, medo e mentira e o segundo que é o
tempo do eterno, da vida e dos valores morais.
-
Manter viva a busca da perfeição.
- As
vivências da nossa casa e família.
- As
memórias de infância.
- Amor.
- Vida
em oposição à Morte.
-
Valores do Naturalismo, como libertação do Ser.
-
Idealismo e individualismo, a nível psicológico.
-
Considerar o Poeta como “Pastor do Absoluto” (Mediador).
-
Humanismo Cristão.
-
Recurso deliberado à Ambiguidade
-
Títulos de grande carga significativa.
- O uso
da Ironia e do Sarcasmo, quando denuncia injustiças
C)-
FORMA ESTILISTICA
- Procura da palavra precisa
- Uma sintaxe simples
- Estrofes (Irregulares)
- A Métrica e o Ritmo (são
livres, ao sabor do pensamento e do devaneio, no sentido de atingir uma
dimensão de grande musicalidade); na Métrica, por
vezes o “verso de metro curto” alterna com o verso de metro longo, para ser conseguido
um ritmo próximo da prosa. (A medida “metro” consiste num determinado
número de sílabas métricas ou poéticas).
- A Rima: é um aproveitamento da beleza fónica das palavras,
sem adulterar o valor dos símbolos ou o rigor e a nitidez de expressão
- Pontuação; por vezes não é usada, o
que leva à imaginação e ao sonho
- Utilizada
pela autora como uma grande riqueza, através dos Símbolos Clássicos e
Alegorias.
- Símbolos Clássicos = Equilíbrio e Perfeição;
- Grécia: a sua Cultura e os seus Deuses
- Alegorias
LUZ = Fim das Trevas e do Caos, Harmonia, (Encontro do Mundo)
ÁGUA = Pureza, símbolo da Vida e da sua Dinâmica
ÁGUA DA FONTE = Princípio de todas as coisas – (“Alegoria da nossa Existência”)
NUDEZ DO CORPO = Beleza Artística, (Exacta, Verdadeira e
Autêntica)
Sobressaem sensações: (Captação do real através das sensações):
- Visuais
- Auditivas
- Tácteis
Linguagem/Estilo
- Imagens Evocativas
- Alusões
Figuras de Estilo
- Metáfora-
- Comparação
- Hipálage
- Animismo
- Assindeto
- Inversão
D)- O JOGO DOS 4 ELEMENTOS PRIMORDIAIS
-A
“soma total do universo da autora obtém-se pela concentração dos quatro
elementos primordiais” – Terra, Água, Ar, e Fogo. No jogo destes quatro
elementos ela busca:
-
a beleza poética e o fascínio de celebrar a vida e tudo o que existe como
manifestação do absoluto; o reencontro e a comunhão com o primitivo e a verdade
das origens; a relação pura e justa do ser humano com a vida, consigo mesmo,
com os outros e com o próprio Mundo.
Marcada
pelo Mediterrâneo é no mar que encontra os seus símbolos mais autênticos e a
sua respiração vital. O mar é o símbolo da vida e da morte. As águas em
movimento mostram a dinâmica da vida e no mar escondem-se segredos mais
profundos do Ser e do Mundo. Como atrás já foi dito a água é a alegoria da
nossa existência. É o princípio de todas as coisas. Tudo vem da água e a ela
regressa.
E
assim nos deixou Sophia, para sempre, em 02 de Julho de 2004, aos 84 anos de
idade.
Recebeu
Honras Militares, e o seu corpo encontra-se no Panteão Nacional em
Lisboa.
«AQUI NESTA PRAIA ONDE
NÃO HÁ NENHUM VESTÍGIO DE IMPUREZAS
AQUI ONDE HÁ SOMENTE
ONDAS TOMBANDO ININTERRUPTAMEMTE,
PURO ESPAÇO E LÚCIDA UNIDADE,
AQUI O TEMPO APAIXONADAMENTE
ENCONTRA A PRÓPRIA LIBERDADE.»
Fonte:
http//www.prof2000.pt
(Trechos de vários artigos dedicados a Sophia)
Brejos. 17-10-2016
Carmo Bairrada
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