sábado, 3 de dezembro de 2016

O Retrato de Sophia, por Carmo Bairrada


*O RETRATO DE SOPHIA*
Apesar do título parafrasear o nome dum conto seu, “O Retrato de Mónica”. Não existe qualquer semelhança entre a personagem e a autora.


A)  -Síntese Biográfica

- Sophia de Mello Breyner Andresen nasce no Porto a 06/11/1916, no meio de uma família aristocrática, e educada nos valores tradicionais da moral cristã;
- Tem origem dinamarquesa, por parte do pai;
- Vive uma infância junto ao mar (praia da Granja)
- Em Lisboa frequenta a licenciatura em Filologia Clássica;
- Casa.se com o jornalista, político e advogado, Francisco Sousa Tavares, de quem tem cinco filhos;
- A pedido dos filhos escreve livros para crianças;
- É sobretudo uma autora de poesia.



B) -A Forma Poética

A poetisa deixou-nos um manancial de reflexões para as quais devemos, estabelecer uma relação com as coisas e com o Mundo, organizando o Caos para a criação do Cosmos, ou seja a existência da ordem e equilíbrio do Universo.

Para que isso possa acontecer teremos de nos concentrar nos diversos pontos essenciais da sua obra, e nos argumentos, que para ela eram fundamentais:

- A busca da Justiça, do Equilíbrio, da Harmonia e a Exigência da Moral.
- Revolta permanente por um estado social de injustiça, podridão e de ditadura, seja ela qual for.
.- Exaltação do exemplo dos que foram vítimas de tal estado, ou contra ele lutaram.
- Tomada de consciência do tempo em que vivemos.
- Mergulho na Natureza e no Mar, espaços de referência para qualquer Ser Humano.
- A Natureza como “espaço primordial”, onde o EU se reencontra com a sua nudez e beleza plena.
- Fugir das cidades que são representativas de um espaço frio, artificial, hostil e descaracterizado o CAOS”, sendo o contrário da natureza e da segurança que nela se encontra.
- Tempo: (tema recorrente na sua escrita), que Sophia considera “O Tempo Dividido” e “O Tempo Absoluto”, que se opõem entre si. O primeiro é o tempo da solidão, medo e mentira e o segundo que é o tempo do eterno, da vida e dos valores morais.
- Manter viva a busca da perfeição.
- As vivências da nossa casa e família.
- As memórias de infância.
- Amor.
- Vida em oposição à Morte.
- Valores do Naturalismo, como libertação do Ser.
- Idealismo e individualismo, a nível psicológico.
- Considerar o Poeta como “Pastor do Absoluto” (Mediador).
- Humanismo Cristão.
- Recurso deliberado à Ambiguidade
- Títulos de grande carga significativa.
- O uso da Ironia e do Sarcasmo, quando denuncia injustiças


C)- FORMA ESTILISTICA

- Procura da palavra precisa
- Uma sintaxe simples
- Estrofes (Irregulares)
- A Métrica e o Ritmo (são livres, ao sabor do pensamento e do devaneio, no sentido de atingir uma dimensão de grande musicalidade); na Métrica, por vezes o “verso de metro curto” alterna com o verso de metro longo, para ser conseguido um ritmo próximo da prosa. (A medida “metro” consiste num determinado número de sílabas métricas ou poéticas).

- A Rima: é um aproveitamento da beleza fónica das palavras, sem adulterar o valor dos símbolos ou o rigor e a nitidez de expressão
- Pontuação; por vezes não é usada, o que leva à imaginação e ao sonho

 Linguagem e Estilo”
- Utilizada pela autora como uma grande riqueza, através dos Símbolos Clássicos e Alegorias.


- Símbolos Clássicos = Equilíbrio e Perfeição;
- Grécia: a sua Cultura e os seus Deuses


- Alegorias

LUZ = Fim das Trevas e do Caos, Harmonia, (Encontro do Mundo)
ÁGUA = Pureza, símbolo da Vida e da sua Dinâmica
ÁGUA DA FONTE = Princípio de todas as coisas – (“Alegoria da nossa Existência”)
NUDEZ DO CORPO = Beleza Artística, (Exacta, Verdadeira e Autêntica)


Sobressaem sensações: (Captação do real através das sensações):

- Visuais
- Auditivas
- Tácteis

Linguagem/Estilo

- Imagens Evocativas
- Alusões


Figuras de Estilo

- Metáfora-
- Comparação

- Hipálage
- Animismo
- Assindeto
-  Inversão

D)- O JOGO DOS 4 ELEMENTOS PRIMORDIAIS


-A “soma total do universo da autora obtém-se pela concentração dos quatro elementos primordiais” – Terra, Água, Ar, e Fogo. No jogo destes quatro elementos ela busca: 
- a beleza poética e o fascínio de celebrar a vida e tudo o que existe como manifestação do absoluto; o reencontro e a comunhão com o primitivo e a verdade das origens; a relação pura e justa do ser humano com a vida, consigo mesmo, com os outros e com o próprio Mundo.
Marcada pelo Mediterrâneo é no mar que encontra os seus símbolos mais autênticos e a sua respiração vital. O mar é o símbolo da vida e da morte. As águas em movimento mostram a dinâmica da vida e no mar escondem-se segredos mais profundos do Ser e do Mundo. Como atrás já foi dito a água é a alegoria da nossa existência. É o princípio de todas as coisas. Tudo vem da água e a ela regressa.

E assim nos deixou Sophia, para sempre, em 02 de Julho de 2004, aos 84 anos de idade.
Recebeu Honras Militares, e o seu corpo encontra-se no Panteão Nacional em
Lisboa.


«AQUI NESTA PRAIA ONDE
NÃO HÁ NENHUM VESTÍGIO DE IMPUREZAS
AQUI ONDE HÁ SOMENTE
ONDAS TOMBANDO ININTERRUPTAMEMTE,
PURO ESPAÇO E LÚCIDA UNIDADE,
AQUI O TEMPO APAIXONADAMENTE
ENCONTRA A PRÓPRIA LIBERDADE.»


Fonte: http//www.prof2000.pt (Trechos de vários artigos dedicados a Sophia)

Brejos. 17-10-2016

Carmo Bairrada


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