Este
ano chegaste
com
uma réstia de Verão,
apesar
de já se verem pelo chão
folhas
caídas, umas douradas,
outras
avermelhadas,
sente-se
que estás entre nós:
os
dias são mais curtos,
as
noites mais frescas.
Este
ano, o Sol teima
em
não te deixar.
Ainda
deu para ir até à praia,
quase
ao fim da tarde… o mar
parecia
um grande lago…
Só
se dava por ele, quando
se
ouvia o chapinhar da água
junto
à areia e ás rochas, que
por
ali estavam ainda iluminadas,
e
onde algumas gaivotas gozavam
os
últimos raios de sol e outras
dançavam
de um lado para o outro,
lançando
para o ar os seus gritos
habituais.
Deixei
para trás o eterno murmúrio
do
vai e vem da água. De regresso
a
casa, para terminar, a Mãe Natureza
presenteou-me
com o pôr-do-sol,
que
nesta época do ano
está
tão baixo que quase não
dá
tempo para lhe tirar uma foto.
É
nesta altura do dia que gosto de
apreciar
as cores fortes e exuberantes,
que
o sol, ao despedir-se, nos deixa…
como uma alquimia de alma,
transportando-nos
consigo
para
o outro lado do Mundo,
onde
outro dia se renovará.
Outono, sejas bem-vindo!
Já
que o Verão este ano
foi
muito castigador,
espero
que tragas contigo
um
regador para dares de beber
aos
campos fustigados pelos fogos
e
não um rio caudaloso e turbulento.
Só
te peço uma única coisa,
Prudência…
Azeitão,
24-09-2016
Carmo
Bairrada
Ó
S. Martinho do vinho
Talvez venhas a
ter sol,
Não vás por
outro caminho,
‘ Tá um frio do “briol”.
Que bela
castanha assada
P´las ruas se
vai comendo,
É ver a
rapaziada
O que já anda
fazendo.
Coitadas das
raparigas
Não conseguem
descansar,
Andam fugindo
das brigas,
Com saias a dar,
a dar.
A partir da
meia-noite
Outro galo
cantará,
Aí vão elas p´rá
“boite”.
P’ra dançar o
Xá-Xá-Xá.
Cheiras a vinho
barato,
Tinto ou branco
tanto faz,
Sobe já lá para
o quarto,
Vamos fazer um
“rapaz”.
Depressa, vem
por favor,
Que não vou mais
esperar…
O que tu tens é
pavor
De não poderes
escapar.
P’ró ano seremos
três,
Agora, cala-te
lá!
Aproveita desta
vez…
Estás a ouvir-me,
pá?
As castanhas e o
vinho
Andam sempre de
mão dada,
No dia de S.
Martinho
É que nos dá a
“pancada”…
S. Martinho, S.
Martinho
Esta festa está a
acabar,
Com castanhas e
bom vinho
Para o ano vais
voltar.
ATÉ P’RÓ ANO
!!!!
Azeitão,
11-11-2016
Carmo Bairrada
É DIA DE S. MARTINHO
Ó pipas belas e
cheias,
Do néctar, que
nós pisámos!
Descalços e já
sem meias
Foi assim que
começámos.
É dia de S.
Martinho,
Com castanhas a
estalar,
Provem todos
deste vinho,
Bebam até
acabar!
Que dia
maravilhoso
Neste V’rão de
S. Martinho!
Venha de lá um
jeitoso,
Com vinte copos
de vinho.
Primeiro
prova-se o novo,
Fica o velho
p’ra terminar
P’rós lados de
Porto Covo,
Estão todos a aboborar!
Com bebedeiras
tão grandes,
Ninguém sabe o
que diz.
Pelo ar passam
as sandes,
E um tacho com
perdiz.
Ó Baco
abençoado,
Tens as honras
neste dia…
Não há deus mais
afamado,
Para tamanha
alegria!
Mais um ano que
passou,
Outro estará
para vir.
O vinho já
abafou,
São horas de ir
dormir!
Azeitão,
11-11-2017
Carmo Bairrada
Dia dos Namorados: S. Valentim
O teu dia já
chegou
Que bom é
apareceres
Eu ainda não
estou
Vistosa para me
veres.
É um dia
especial
Termos tempo
p’ro Amor
Que é chama em
espiral
Que se sobe com
fulgor.
Não tragas
muitas oferendas
P’ra não errares
o caminho
Toma atenção não
te prendas
Demais por
qualquer beicinho.
Ó Valentim,
Valentim,
És poço de
tentações
Gasta-se o
perlimpimpim
E ficamos sem
calções.
Que tal estarão
as pernas
Nesse dia de
amores?
Dia de juras
eternas
Ouvem-se muitos
rumores.
Por essas ruas
inteiras
Se diz ser bom o
teu dia…
Para todas as
solteiras
É um dia de
folia.
Um belo ramo de
flores
Vais levar a
quem amou…
Nascida dos teus
clamores
Uma criança
palrou!
Tantas horas já
passadas,
Há crianças no
jardim,
Nos carrinhos estão
sentadas
Esta história é
tão bonita
Que se pode
repetir
Teremos papel e
tinta
P´ro desejo te
pedir.
“VENDAVAL”
Chuva, Vento,
Trovoada!
Jardins,
quintais e hortas
As ruas pareciam
pequenos
braços de rios
que corriam
Tão depressa,
junto
às nossas portas
e muros.
Chuva, Vento,
Trovoada!
As árvores
abanavam, dobravam
Partiam-se e lá
iam elas na
Enxurrada.
Só paravam nas
primeiras rodas
De algum carro,
que estivesse parado.
Os pássaros não
se viam
Nem se ouviam.
As pobres flores,
coitadas!
Com o fustigar
dos ventos,
Eo peso da água sofriam,
Enquanto as mais
novas
ficavam
agarradas à terra
dos seus vasos
de barro
Com a força de
quem é jovem.
As mais velhas
estavam
Caídas no solo,
sem qualquer préstimo.
Chuva, Vento,
Trovoada!
A trovoada já se
ouvia,
Estava cada vez
mais perto.
De repente, um
trovão estalava
Mesmo por cima
da casa…
Toda a gente
ficou sem luz,
Parecia que a
noite chegara.
Foi muito forte,
tão forte que
Ficámos totalmente
às escuras.
Eu corria para o
quarto dos meus pais,
Escondia-me debaixo
de uma grande
Almofada para
não ouvir trovejar.
Hoje penso como
é que eu
Conseguia
respirar…
Isto era assim, todos
os Invernos
da minha
infância,
Onde dias como
este se seguiam,
Uns atrás dos
doutros, durante
Os meses de
Março e Abril.
Até as pessoas
diziam:
- “Março,
Marçagão, de manhã Inverno,
Á tarde Verão” e
- “Em Abril,
águas mil.”
Realmente em
muitas tardes de Março
Aparecia um sol
muito tímido, que ajudava
A secar a roupa.
Os pássaros apareciam
E faziam um
grande chilreada, dando
Asas às suas
próprias asas, parecendo terem
Enlouquecido de
alegria.
Como me lembro
Tão bem destas
cenas!
São coisas
antigas, que por vezes
Nos saltam à
memória e que estão
Guardadas nas
gavetas do nosso cérebro,
Que, às vezes,
se abrem para
Apanhar um pouco
de ar fresco.
Azeitão. 03-03-2018
Carmo Bairrada
“MULHER”
És tu que dás ao
mundo um SER.
És tu que está
sempre presente na
Felicidade ou no
infortúnio.
És tu que
atravessas todos os destroços
De vidas, de
muitas vidas perdidas,
À custa da
própria inocência.
És tu com a tua
força interior,
Que te leva a ir
até onde podes,
Que passas do
medo à vergonha,
Que te leva a
esconderes-te de todos
E de tí prória.
O Mundo em que
vives é que dita
as regras de como
deves agir
E que te leva ao
engano.
Tu como Mulher
mostras obediência
E servilismo. Em
que mundo vives tu?
Terás que dar o
passo
Para que haja
uma renovação.
Basta de
preconceitos!
Enquanto existir
uma mulher sobre a
Terra, a
Humanidade não desaparecerá!
Quando esse dia
chegar, saberás o que
Queres e para
onde queres ir e vais ter
Alguém à tua
espera e assim renascerás
Do caos.
Depois só tens
que soltar o que está
Adormecido
dentro de ti.
Então serás
livre e rebentarás as amarras,
Que durante
muito anos carregaste.
Vais sentir a
leveza do teu corpo
E do do teu
espírito.
Gritarás ao
vento, até que a tua voz te doa…
LIBERDADE,
LIBERDADE, ONDE ESTÁS?
Azeitão,
08-03-2018
Carmo Bairrada
CASTANHA VAIDOSA
Uma castanha
vaidosa
Levada por um
Toyota
Acercou-se d´um
sobreiro
Vê a castanha
vaidosa
Que d´automóvel
andava,
Viu um mundo
cheio de sol
Não aquele que imaginava.
Olha a castanha
vaidosa
Com janela
aberta ao vento,
Tinha consigo a
bolota
Num embalo
ternurento.
Ela, castanha
vaidosa
Deixou-se
adormecer,
Sonhava alto a
castanha
Sem ninguém a
perceber.
Uma castanha
vaidosa
Não se vê em
qualquer dia,
Neste mundo tão
diferente
Apenas ela existia…
Azeitão,
09-11-2018
Carmo Bairrada
ESTRANHO OUTONO
Fui ver quem batia assim
Era mesmo o senhor Verão
Que vinha passar seu fim.
Sé é o fim, não me parece,
A muito custo acredito
Quem não aparece esquece
É um ditado bem dito.
As minhas folhas caídas
Já não ouvem a sinfonia
Estavam muito feridas
Numa espécie de agonia.
Sentir os passos de alguém,
Que por cima delas passavam
Era um alegre vaivém
Das folhas que se quebravam.
O Outono foi já tão mágico,
Produziu grandes vibrados,
Agora está tão trágico,
Farrapo de tempos passados.
As folhas que já cairam,
O tempo as levou de viagem
Agora que já partiram,
As restantes são miragem.
Sou Árvore velha chorando,
O meu porte é de altivez
Tenho sede, estou esperando
Que a chuva volte outra vez.
Tudo deve ter seu tempo,
É p´ra isso, que crescemos
Se o tempo não vem a tempo,
não vale a pena nascermos.
Azeitão, 01-10-2018
Carmo Bairrada
Ó
PRIMAVERA!
Perguntei ao
tempo
Por onde andavas
e o
Tempo respondeu:
- Há-de chegar…
há-de chegar…
Apareceste
tímida vestida de Outono
Depois cinzenta,
com réstias de Inverno…
Agora sim, estás
connosco
No teu
esplendor!
Os campos
respiram já a tua presença,
As tuas cores,
qual paleta de um pintor,
Passam dos
pincéis para a tela…
Dá gosto ver a
Natureza no seu despertar.
Os prados estão
tão belos….
É o vermelho
vivo das papoilas,
É o branco e
amarelo dos pequenos malmequeres,
São os roxos e
lilases da alfazema, dos lírios,
Dos cardos em
flor.
É
um Universo que nos inebria os sentidos.
Ó PRIMAVERA!
A vida sem ti
nunca faria sentido.
És a companheira
de todos aqueles,
Que amam a
Natureza no seu melhor.
Transportas contigo
um ciclo de Vida,
De Renascimento,
por isso terás de
Voltar sempre ao
equilíbrio da
Terra-Mãe.
Nunca te
esqueças disso, volta sempre,
Ó PRIMAVERA!
Azeitão,
15-05-2019
Carmo
Bairrada
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