“A BARCA DOS CONDENADOS”
Cada um tem seu inferno
Que não consegue evitar,
O drama não é moderno
Mas difícil de aceitar!
Aos grandes nada lhes falta
Querem sempre mais e mais,
Mas a morte que é madrasta
Torna-nos a todos iguais!
Todos nós somos actores
Nos autos de Gil Vicente,
Grandes, humildes. doutores,
Culpados ou inocentes!
E lá vai pelo mar fora
A barca dos condenados,
Meu Deus que grande demora
Para os que foram julgados!
Uns sorriem outros choram
Revoltam-se os arrogantes,
Há muitos que imploram
Outros que ficam expectantes!
E o “demónio” a tentar
Meter-nos na sua barca,
Sem o “anjo” nos julgar
Cada um por sua falta!
Elita Guerreiro*28/11/2016
“O
NEVOEIRO DA HISTÓRIA”
Se
o nevoeiro se adensa
E
não se vê “palmo de chão”,
O
povo na sua crença
Lembra
D. Sebastião!
O
moço Rei sonhador
Que
em Alcácer lutou,
Com
denodo, com ardor
E
que a vida lá deixou!
Faiscavam
as espadas nuas
Brilhantes
como tesouros,
Boas
intenções as suas
Mais
fortes eram os Mouros…
Nem
pensar em desistir!
O
sonho ainda era lei,
Porém
Alcácer Quibir
Longos anos se passaram
Dum
silêncio sepulcral,
Dos
muitos que lá ficaram
Um
conseguiu regressar:
D.
João de Portugal,
Nobre
fidalgo de Almada,
Tudo
perdera afinal
Já
lhe não restava nada!
Cansada
de esperar,
A
mulher que tanto amou
Acabou
por se casar
E
o seu mundo desabou!
Outra
batalha perdida
A
última para D. João,
Tudo
perdera na vida
Até
mesmo o coração!
Elita
Guerreiro* 6/12/2016
“ A VERDADE E A MENTIRA”
Nem sempre é bem aceite
A verdade que se sente,
Há até quem se aproveite
Do talento de quem mente!
A mentira é sempre feia
Por muito que se enfeite,
Embaraça e enleia
E nem sempre é bem aceite!
A verdade faz sofrer
Porque é forte e exigente,
Só assim dá para entender
A verdade que se sente!
Quem se vicia em mentir
E que a verdade rejeite,
Já não sabe distinguir
Há até quem se aproveite!
Há quem minta toda a vida
E diga até que nunca mente,
E há quem se sinta atraída
Pelo talento de quem mente!
Elita Guerreiro 5/5/2016
“QUEM ME DÁ NOVAS DE MIM”
Teimosamente teimando
Não vou lá nem fico aqui,
Fico comigo pensando
Se estou cá ou se parti!
Se nem sequer sei de mim
Que me serve perguntar
Por vós, ou qual será o fim
Ou se vos vou encontrar?
Podeis falar e teimar
Mas senhora, nem eu sei
Se este amor me vai matar
Ou se às vossas mãos morrerei!
Quem me irá encontrar
Quando tão perdido estou,
Se vós me não quereis achar
E nem eu sei onde estou!...
Elita Guerreiro, 9/3 /2016
UM ABRAÇO UNIVERSAL
Sou irmã do rio que corre
Entre vales mansamente,
E do sol que à noite morre
E de manhã volta novamente.
Sou irmã do rouxinol
Que canta à noite no silvado
E quando nasce o sol
Se aquieta calado.
Sou irmã da erva verde
Que cobre o vale infinito,
Que ao longe se perde
Junto ao azul do céu bendito.
Sou irmã da onda forte
Que se desfaz na areia,
Da chuva do vento norte
Da lua na maré cheia.
Um mundo feito de cores…
Que posso desejar mais
Do que o perfume das flores
E o chilrear dos pardais?
Sou filha da Mãe- Natureza,
O meu Pai é o Universo,
Estou entre ambos “presa,”
Neste abraço terno imenso.
Elita Guerreiro * 22/4/2018
No meu bairro
há uma rua
Com varandas
onde a lua
Vem espreitar
indiscreta
Por cada fenda
aberta!
Há uma de que
mais gosta
Mais aberta,
mais exposta!
Lá dentro
brincam crianças
E os seus
sorrisos de esperanças
Enchem a sala
toda
Com suas danças
de roda…
Pássaros que
abrem as asas
Que mesmo sem
sair das casas
Dão brilho à
minha rua
Que tem
varandas de lua!
Elita
Guerreiro, 5/2/2019
A VIDA ESCRITA A TINTA VIOLETA
Na
gaveta entreaberta
Que se
não pode fechar,
Fiz uma
descoberta
Que não
resisto a contar!
Escrito
a tinta violeta
Um
envelope amarelado
Tinha
uma borboleta
Como um
selo, colado!
Ao tocá-la de mansinho,
As asinhas delicadas
Esfumaram-se em remoinho
E delas não restou nada!
Havia uma folha de hera
O desenho dum coração,
E a palavra Primavera
Seguida de: “sem
perdão.”
Não sei precisar o ano
Ou o nome de quem
escreveu,
Mas a mágoa e o
desengano
Estavam lá… Quem as sofreu?
Há quanto tempo
esquecida
Dentro daquela gaveta,
A história duma vida
Escrita a tinta violeta?
Elita Guerreiro *
25/9/2018
Sem comentários:
Enviar um comentário