segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Conto de Ano Novo por Elita Guerreiro

“SABER PERDOAR”

Faltavam poucos dias para a passagem do ano, quando aquele homem andrajosamente vestido e de chapéu desbotado começou a marcar presença na rua estreita, em frente à janela, onde brilhavam as pequenas luzes da árvore de Natal. Lá dentro, movimentavam-se as figuras de uma mulher e duas crianças. Todos os dias ao entardecer, o mendigo voltava ao mesmo lugar na rua, onde assistia à chegada das crianças entrando em casa pela mão da Mãe! Acendiam – se as luzes e ele ficava para ali, o olhar perdido na correria das crianças, por aquela casa que ele tão bem conhecia! Uma noite de passagem de ano, chuvosa e triste, abandonara aquela casa e foi atrás duma aventura, que o roubou à tranquilidade do lar… O filho mais novo dormia tranquilamente no pequeno berço. O mais velhinho, brincava no tapete da sala! A mulher nem o tentou impedir! Há muito que sabia daquela aventura louca! Pacientemente, esperou cada dia pelo seu regresso. Os anos passaram, lentos e tristes… Aos filhos dizia tentando sorrir:

-O Pai vai voltar quando menos esperarmos… 

Mas o seu coração há muito que perdera a esperança! Era véspera de Ano Novo, chovia e o frio apertava. Olhando pela janela, a criança mais velha ficou triste ao ver aquele farrapo humano, que nem a chuva conseguia desalojar e há vários dias rondava a rua! 

- Mãe! -  disse a criança - ele deve ter frio e fome. Vou dar-lhe a minha sopa, deixas?

Condoída e emocionada com a atitude bondosa do filho, chamou o mendigo e ofereceu-lhe pão e sopa, dizendo:

-Desculpe, não tenho mais nada!

Reparou que o homem chorava e as mãos que seguravam o tabuleiro tremiam imenso! Os soluços não o deixavam comer! Ao tentar limpar as lágrimas, o velho e roto chapéu caiu ao chão, deixando a descoberto o rosto do homem que ela nunca esquecera e um dia a abandonara, deixando-lhe a responsabilidade de criar os filhos sozinha. O coração da pobre mulher  bateu desordenadamente e as lágrimas corriam pelo rosto, sem que as conseguisse conter! 

- Voltaste?- Conseguiu dizer.  Como resposta, Recebeu outra emocionada pergunta…

-  Perdoas-me?

 Era véspera de Ano Novo, chovia e dentro de casa, dois rapazinhos bondosos e com imenso amor para dar esperavam para acrescentar ao seu vocabulário a palavra “PERDÃO”.

Elita Guerreiro* 23/12/2010

Sem comentários: