Conto de Ano Novo por Elita Guerreiro
“SABER PERDOAR”
Faltavam poucos dias para a passagem do ano, quando aquele homem
andrajosamente vestido e de chapéu desbotado começou a marcar presença na rua
estreita, em frente à janela, onde brilhavam as pequenas luzes da árvore de Natal.
Lá dentro, movimentavam-se as figuras de uma mulher e duas crianças. Todos os
dias ao entardecer, o mendigo voltava ao mesmo lugar na rua, onde assistia à chegada das crianças entrando em casa pela mão da Mãe! Acendiam – se as luzes e
ele ficava para ali, o olhar perdido na correria das crianças, por aquela casa
que ele tão bem conhecia! Uma noite de passagem de ano, chuvosa e triste,
abandonara aquela casa e foi atrás duma aventura, que o roubou à tranquilidade
do lar… O filho mais novo dormia tranquilamente no pequeno berço. O mais velhinho,
brincava no tapete da sala! A mulher nem o tentou impedir! Há muito que sabia
daquela aventura louca! Pacientemente, esperou cada dia pelo seu
regresso. Os anos passaram, lentos e tristes… Aos filhos dizia tentando sorrir:
-O
Pai vai voltar quando menos esperarmos…
Mas o seu coração há muito que perdera a esperança! Era véspera de Ano Novo, chovia e o frio
apertava. Olhando pela janela, a criança mais velha ficou triste ao ver
aquele farrapo humano, que nem a chuva conseguia desalojar e há vários dias
rondava a rua!
- Mãe! - disse a criança - ele deve ter frio e fome. Vou dar-lhe a
minha sopa, deixas?
Condoída e emocionada com a atitude bondosa do filho,
chamou o mendigo e ofereceu-lhe pão e sopa, dizendo:
-Desculpe, não tenho mais
nada!
Reparou que o homem chorava e as mãos que seguravam o tabuleiro tremiam
imenso! Os soluços não o deixavam comer! Ao tentar limpar as lágrimas, o velho
e roto chapéu caiu ao chão, deixando a descoberto o rosto do homem que ela
nunca esquecera e um dia a abandonara, deixando-lhe a responsabilidade de criar
os filhos sozinha. O coração da pobre mulher bateu desordenadamente e as
lágrimas corriam pelo rosto, sem que as conseguisse conter!
- Voltaste?- Conseguiu
dizer. Como resposta, Recebeu outra emocionada pergunta…
- Perdoas-me?
Era
véspera de Ano Novo, chovia e dentro de casa, dois rapazinhos bondosos e com
imenso amor para dar esperavam para acrescentar ao seu vocabulário a palavra
“PERDÃO”.
Elita Guerreiro* 23/12/2010
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