domingo, 29 de novembro de 2015

"SÒZINHO , EM CASA", por Zé Bairrada

SÒZINHO ,  EM CASA

Hoje voltou a acontecer !!!
Só me apercebi quando ouvi a porta bater com força! Ainda fui, tão rápido quanto podia, a ver se os apanhava mas tinham acabado de sair.
Já sei que vou passar um dia igual a tantos outros, que sou obrigado a passar…
Fecharam a porta por fora, como sempre fazem. Aliás, mesmo que tivessem deixado a chave em casa, sabem que eu não iria abrir aporta.
Depois, é o mesmo de sempre: deixam-me a comida em sítio acessível, em dose bastante para que não passe fome. Já há alguns dias que é assim, porque aqui há tempos só voltaram a casa de madrugada e, claro está, nessa noite passei fome e tive de mostrar-lhes o meu desagrado pela situação em que me encontrava. A partir de então, neste aspecto, não tenho razão de queixa.
Por vezes acerco-me da varanda, (a porta está fechada claro) e olho para a praceta ajardinada onde, muito raramente, vou passear. Consigo mesmo vislumbrar alguns dos companheiros com quem por vezes (muito poucas) brinco. Que saudades !
Esta tarde , como de costume, vou dormir uma valente sesta. A cama onde me deito não é má de todo e, às vezes, até me esqueço das horas a que eles habitualmente voltam. Isto se não tiverem tido os costumados contratempos de que os ouço a falar após a chegada.
Quando começo a aperceber-me de que o dia está a chegar ao fim, é que faço uma avaliação ao dia que passei, uma vez mais, em completa solidão.
Ah!, já me esquecia: recentemente, começaram a deixar ligada a televisão. Eles sabem que até é uma coisa com que eu não simpatizo muito. Acho aquilo tudo demasiado violento e não se coaduna com a minha maneira de ser.
No entanto, com esta nova programação, às vezes dou comigo a olhar para o aparelho sobretudo quando ouço alguns sons que captam a minha curiosidade. A música que se ouve é bastante agradável e noto que o meu ouvido tem vindo a habituar-se àqueles acordes que acompanham as imagens, por vezes monótonas diga-se de passagem,mas às quais me vou habituando. Por vezes surgem as de alguns jovens  “borrachinhos” que apetece mesmo tocar-lhes. Quase sempre, porém esbarro numa superfície dura e fria e, deste modo, o apetite esmorece.
É, na verdade, tudo isto que faz parte da minha vivência actual.
Logo à noite, quando chegarem a casa, vou dar-lhes conta de tudo o que atrás está dito, e de mais algumas coisas que agora não me ocorrem, mas que virão à baila na discussão que, certamente, vou provocar!
Sim, é desta vez que, embora possa parecer pouco correcto da minha parte, eu vou ter que ladrar com eles ! E vão ter que me ouvir!...


Zé, Out. 2015

Sem comentários: