SÒZINHO , EM CASA
Hoje voltou a acontecer !!!
Só me
apercebi quando ouvi a porta bater com força! Ainda fui, tão rápido quanto podia,
a ver se os apanhava mas tinham acabado de sair.
Já sei que
vou passar um dia igual a tantos outros, que sou obrigado a passar…
Fecharam a
porta por fora, como sempre fazem. Aliás, mesmo que tivessem deixado a chave em
casa, sabem que eu não iria abrir aporta.
Depois, é o
mesmo de sempre: deixam-me a comida em sítio acessível, em dose bastante para
que não passe fome. Já há alguns dias que é assim, porque aqui há tempos só
voltaram a casa de madrugada e, claro está, nessa noite passei fome e tive de
mostrar-lhes o meu desagrado pela situação em que me encontrava. A partir de
então, neste aspecto, não tenho razão de queixa.
Por vezes
acerco-me da varanda, (a porta está fechada claro) e olho
para a praceta ajardinada onde, muito raramente, vou passear. Consigo mesmo
vislumbrar alguns dos companheiros com quem por vezes (muito poucas) brinco.
Que saudades !
Esta tarde ,
como de costume, vou dormir uma valente sesta. A cama onde me deito não é má de
todo e, às vezes, até me esqueço das horas a que eles habitualmente voltam.
Isto se não tiverem tido os costumados contratempos de que os ouço a falar após
a chegada.
Quando
começo a aperceber-me de que o dia está a chegar ao fim, é que faço uma
avaliação ao dia que passei, uma vez mais, em completa solidão.
Ah!, já me
esquecia: recentemente, começaram a deixar ligada a televisão. Eles sabem que
até é uma coisa com que eu não simpatizo muito. Acho aquilo tudo demasiado
violento e não se coaduna com a minha maneira de ser.
No entanto, com esta nova
programação, às vezes dou comigo a olhar para o aparelho sobretudo quando ouço
alguns sons que captam a minha curiosidade. A música que se ouve é bastante
agradável e noto que o meu ouvido tem vindo a habituar-se àqueles acordes que
acompanham as imagens, por vezes monótonas diga-se de passagem,mas às quais me
vou habituando. Por vezes surgem as de alguns jovens “borrachinhos” que apetece mesmo tocar-lhes.
Quase sempre, porém esbarro numa superfície dura e fria e, deste modo, o
apetite esmorece.
É, na
verdade, tudo isto que faz parte da minha vivência actual.
Logo à noite,
quando chegarem a casa, vou dar-lhes conta de tudo o que atrás está dito, e de
mais algumas coisas que agora não me ocorrem, mas que virão à baila na
discussão que, certamente, vou provocar!
Sim, é desta
vez que, embora possa parecer pouco correcto da minha parte, eu vou ter que
ladrar com eles ! E vão ter que me ouvir!...
Zé, Out. 2015
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