O Trovador
O Trovador p’lo caminho
Empoeirado e sombrio
Sapatos gastos na lama
Ao ombro manto rasgado
Viola velha no saco
E o cabelo em desalinho
Vai assim de vila em vila
Já não mede légua feita
De tantas e tantas são
Caminha sempre sem pressa
E chega sempre de noite
Seja inverno ou seja estio
A procurar uma deita
Ou o príncipe ou o conde
Para tentar alguma paga
Aos seus serviços bizarros
Cantorias e baladas
Poemas e brejeirices
Aprendidas não sabe onde
Não se lhe sabe a idade
Vem da terra do além
E ninguém o reconhece
Fala pouco, canta muito
Sorri com um ar cansado
Agradece alguma esmola
Sabe Deus de onde ele vem
Mas tem ternura no olhar
E o seu cantar é de amor
E fala de primaveras
De mares nunca visitados
E de mil coisas bonitas
E às damas dá uma flor...
Mercedes Ferrari
outº 2015
O LAMENTO
DE UM JOGRAL
Ai Deus!
Calma está a minha amada
Num banco de pedra fria,
Naquele jardim deitada,
Tão tranquila eu diria:
A minha amada dormia
Se não fosse aquele olhar,
Longínquo e calmo mar,
Já ela morta estaria.
Ai Deus!
Ao vê-la assim tão parada,
Olha e não vê ninguém,
Parece enfeitiçada
Pelas mezinhas d’alguém…
Minha amada adormeceu
Debaixo de um sol vibrante
Que sobre ela desceu
E a acordou num instante.
Ai Deus!
Ó minha amada!
Que falta sentes?
Se é de mim
Não mentes.
Estou tão perto de ti
Que nem dás p’los meus
passos
Eu assim nunca te vi
Quando voltas aos meus
braços?
Teus olhos estão parados
Não sei que feitiço têm
Estão eles acordados,
Só que eles não me vêem.
Ai Deus!
Vou tirar-te esse feitiço
Que algum mago te fez
Tenho como compromisso
Levar-te daqui, de vez.
Não conseguiu o que queria
Só lhe deixou um cristal
A tristeza ficaria
No coração do jogral.
Azeitão 30/10/2015
Carmo Bairrada
Elita Guerreiro 11/10/2015
“TROVAS
DE TODOS OS TEMPOS”
Chegaram
até nós os ecos duma cultura poética, de origem desconhecida, que encontrou nos
jograis o elo de
ligação entre as palavras e a música: Cantigas de amigo! Lamentos, por vezes
motivados pela distância social,
que se interpõe entre o cantor e o ser amado ! Outras
vezes, é apenas a exaltação da beleza física, que
entra em comparação com a candura das aves e das flores! “Teus olhos senhora minha
São alfazema campestre,
Cândido como uma rolinha
Teu belo rosto se veste!”
(Cancioneiro
Tradicional)
Inicialmente,
as donzelas parecem ter começado esta “batalha
poética”, aí por volta do século XIII. “Airas Nunez
de Santiago “ dá-nos testemunho dessa poesia no
feminino! Nossa contemporânea, a escritora Natália Correia, Em “O Sol nas
Noites e O Luar nos Dias,” deu vida
a um belo poema escrevendo :
“Passais como queimaduras
E tudo em fogo deixais!
Já luzem as galas
Do Maio florido.
Iria à bailada
Mas não tenho amigo.”
Ao
talento e engenho de José Régio, não escapou também um Cantar de Amigo!
À beira do rio fui dançar…Dançando
Me estava entretendo
Muito a sós comigo
Quando na outra margem como se
Escondido
Para que eu não visse que me estava
Olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo!
A
poesia tem passado através dos séculos, não só através da Literatura
institucional (cantigas de amigo, por exemplo), mas também através de bailes de
roda e modas
que se popularizaram, cantadas por homens e mulheres nos trabalhos, nos campos
!Quem não conhece ou
não cantou, do cancioneiro Alentejano?
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua,
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua!
Cantares
de Amigo, bailes de roda, canções de amor…
Dêem-lhe
o nome que a época exige, ou chamem-lhe o
que quiserem! Para mim, o que me alimenta é a aliança entre a poesia e a música e a expressão cultural dos povos que
delas se servem e fazem uso!...
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