Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
E ai, Deus!, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Se vistes meu amado,
por que hei gran cuidado!
E ai Deus!, se verrá cedo!
Martim Codax
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Na fonte está Lianor
Lavando a talha e chorando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?
Posto o pensamento nele,
Porque a tudo o amor obriga,
Cantava, mas a cantiga
Eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
O seu desejo enganando,
Às amigas perguntando:
- Vistes lá o meu amor?
O rosto sobre ua mão,
Os olhos no chão pregados,
Que, do chorar já cansados,
Algum descanso lhe dão.
Desta sorte Lianor
Suspende de quando em quando
Sua dor; e, em si tornando,
Mais pesada sente a dor.
Não deita dos olhos água,
Que não quer que a dor se abrande
Amor, porque, em mágoa grande,
Seca as lágrimas a mágoa.
Despois que de seu amor
Soube novas perguntando,
De improviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!
Luís Vaz de Camões
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POEMA DE CAMÕES – “NA FONTE ESTÁ
LIANOR…”
ANÁLISE
AO POEMA
Camões coloca Lianor
no centro de todo o sofrimento amoroso. Ao longo do poema mostra uma figura
feminina sofredora, capaz de tornar o canto em suspiros;
- “Cantava mas a cantiga eram suspiros por
ele”, e quanto mais saudades tinha mais mágoa e dor sentia.
Na 1ª, Estrofe - Lianor tem o
pensamento e o desejo confusos, e vai junto das amigas perguntando se viram o
seu amor, por quem o seu coração suspira.
Na 2ª. estrofe – Lianor com os olhos
pregados no chão, cansados de tanto chorar, suspende a sua dor, mas quando consciente
sente ainda mais forte essa dor.
Na 3ª. Estrofe – Lianor está em grande mágoa e recusa acalmar a sua
dor.Esta mágoa só acalmará quando souber novas do seu amor.
B)- Este Poema poderá, ser dividido, em duas
partes:
1ª. Parte – Tem a ver com a 1ª estrofe, onde Lianor está a cantar de
dor pela ausência do seu amado.
2ª. Parte – É relacionada com a 2ª.
e 3ª. estrofe onde o poeta vai descrevendo
o estado de espírito da donzela, ao longo da espera pelo
seu amado.
C) - Camões apresenta no poema:
Os Sentimentos:
Tristeza : “… a cantiga eram
suspiros por ele.”. Engano: “…o seu desejo”, Saudade: “Vistes lá o meu
amor?”. Quando pensa nele: Dor”…suspende-a
de quando em quando”. Tormento: “Mais pesada sente a dor”. “Mágoa”
…em mágoa grande”.
As Sensações:
Lianor está claramente a transmitir :-
Sofrimento, Saudade,
Tristeza e Mágoa.
D) – Aspecto Temático
O poema é simples e tem um cunho tradicional, ao gosto
popular, em que o poeta se aproxima de situações caracteristicas dos “Cantares
de Amigo”, tais como os desempenhos de tarefas por parte das raparigas, das
confidências entre elas e dos próprios cenários onde a acção é passada (aqui é a
fonte onde Lianor vai buscar água).
Camões chega ao
ponto de utilizar muitas palavras cujos verbos (chorar, perguntar, tornar,
enganar, lavar) são, propositadamente, conjugados no gerúndio, para realçar
a expressão e duração dos sentimentos de
Lianor.
E) – Aspecto Formal
O poema é uma “cantiga”
formada por um “mote de 4 Versos”, onde
é dado a conhecer oTema, e 3 estrofes de
8 versos cada , onde se desenrola o história do poema. Quanto à rima, é emparelhada (AABB) e interpolada ou
oposta (ABBA), em todo o poema. Quanto
à métrica, é uma redondilha maior ou
seja, formada por versos de 7 sílabas.
Presença da Lírica Trovadoresca em Camões
O início do séc. XV foi marcado pelas guerras com
Castela, e daí a poesia ter caido no esquecimento por existirem valores mais
altos, os da defesa do reino.
Só na 2ª. metade daquele século é que regressou, em
força, com um género totalmente diferente do anterior concebida nos palácios, a
chamada “Poesia Palaciana”, mais
apurada, atraente e variada, pois era escrita por cortesãos e para eles.
Os poetas palacianos não esqueceram os temas comuns aos
trovadores medievais, no que respeita ao Amor, que confirma até ao infinito a dor de amar, a morte de
amor, a falta de coerência do serviço amoroso, mas numa linguagem poética abstrata,
mais dedutiva, e não num plano tão sofredor e real, como era na 1ª. parte da
Idade Media.
A nova poesia distinguia-se quanto à forma por 4
composições, a primeira das quais era:
A Cantiga: Expressava temas
amorosos, tinha o Mote de 4 ou 5 versos e glosa de 8 a10 versos.
E assim Camões estava no rasto da Poesia Trovadoresca Galaico-Portuguesa,
tanto nos aspectos formais, como nos temáticos.
Fontes:……..portuguesonline.no.sapo.pt
http://www.luso-livros.net/segundo-periodo-medieval/
Azeitão, 20.11.2015
Carmo Bairrada
“CAMÕES-LIANOR”
Ó
coração sofredor,
Ao
qual tanta Lianor
Provocou
penas sem fim,
Porque
sofres tanto assim?
E
porque fazes sofrer
Quem
chora por tanto te querer
E
não sabe disfarçar
A
dor de tanto te amar?
Esta
pobre Lianor
Que
sofre por teu amor,
Mas
canta para não chorar
E
caminha a perguntar
Com
os olhos rasos de água,
O
porquê de tanta mágoa…
Por
onde anda o seu amor
Que
lhe causa tanta dor?
Já
cansada de chorar,
Detém-se
a meditar…
Esconde
nas mãos o rosto,
Afasta
um pouco o desgosto…
Não
é que a dor adormeça,
Mas
embora não pareça,
Ainda
não fugiu a esperança
Do
seu rosto de criança!...
Elita
Guerreiro*14/11/2015
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