segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"Eno sagrado, en Vigo" / "Cantar de Amigo"



Eno sagrado, en Vigo,
bailava corpo velido:
     amor hei!

En Vigo, no sagrado,
bailava corpo delgado:
     amor hei!

Bailava corpo velido,
que nunca houver'amigo:
     amor hei!

Bailava corpo delgado,
que nunca houver'amado:
     amor hei!

Que nunca houver'  amigo,
ergas no sagrad', en Vigo:
     amor hei!

Que nunca houver'amado,
ergas en Vigo, no sagrado:
     amor hei!
·         Martim Codax, (CV 889 / CBN 1283)



“Cantar de Amigo”
À beira do rio fui dançar… Dançando
Me estava entretendo,
Muito a sós comigo,
Quando na outra margem, como se escondendo
Para que eu não visse que me estava olhando,
Por entre os salgueiros vi o meu amigo.

Vi o meu amigo cujos olhos tristes
Certo se alegravam
De me ver dançar.
Fui largando as roupas que me embaraçavam,
Fui soltando as tranças… Olhos que me vistes,
Doces olhos tristes, não no ireis contar!
Que o amor é lume bem eu sei… que logo
Que vi meu amigo
Por entre os salgueiros ,
Melhor eu dançava, já não só comigo
Toda num quebranto, ao mesmo tempo em fogo,
Melhor eu movia mãos e pés ligeiros.

Que Deus me perdoe, que os seus olhos tristes
Assim ofertava
Minha formosura!
Se não fora o rio que nos separava,
Cruel com nós ambos, olhos que me vistes,
Nem eu me amostrara tão de mim segura.

José Régio


Braços abertos, na vida,
Agarram tua partida:
Saudades tuas!

Na vida, braços abertos,
Agarram teu despedir:
Saudades tuas!

Agarram a tua partida,
Cercam tua fugida:
Saudades tuas!

Agarram teu despedir,
Cercam o teu fugir:
Saudades tuas!

Cercam tua fugida,
Soltam dor incontida:
Saudades tuas!

Cercam o teu fugir
Deixam lágrimas cair:

Saudades tuas!

Maria José Borges

DANÇANDO À BEIRA DO RIO”

Dança à beira do rio
Ao som da música das águas,
Desnuda-se sem ter frio
Alegre, não sente mágoas!
Mas o rio cruel separa
Os corpos de quem se ama,
A sua água clara
Ainda mais ateia a chama!

Viu-os, por entre os salgueiros
Quebrando a solidão,
Uns olhos tristes fagueiros
E acentuou a sedução.
Foi despindo os seus vestidos
E esquecendo o pudor,
Porque os seus cinco sentidos
Estavam com aquele amor!

As longas tranças desfeitas
Não encobrem a nudez,
E tu que de longe espreitas
Não vais contar o que vês!
Que coragem tem a paixão
Que esquece tudo em redor,
E deixa que o coração
Se torne rei e senhor!

Elita Guerreiro * 14/11/2015


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