sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cantigas de Romaria

Pois nossas madres van a San Simón
de Val de Prados candeas queimar,
nós, as meninhas, punhemos d'andar
con nossas madres, e elas entón
     queimen candeas por nós e por si,
     e nós, meninhas, bailaremos i.


Nossos amigos todos lá irán
por nos veer e andaremos nós
bailand'ant'eles, fremosas, en cos,
e nossas madres, pois que alá van,
     queimen candeas por nós e por si,
     e nós, meninhas, bailaremos i.

Nossos amigos irán por cousir
como bailamos, e poden veer,
bailar moças de mui bon parecer,
e nossas madres, pois lá queren ir,
     queimen candeas por nós e por si,
     e nós, meninhas, bailaremos i.
Pero Viviaez

1. "Tradução livre"...

Lá vão, pois, as nossas mães
A Val de Prados, São Simão
Levam velas p'ra acender
Vamos, moçoilas, com elas
Queimarão por nós as velas
Mas vamos lá p'ra dançar


Lá estarão nossos amigos
À nossa espera p'ra ver
Quando bailarmos pra eles
E nós, lindas de morrer
Enquanto as mães que ali vão
Vão lá p'ra acender as velas
Por nós, por elas, por Deus
Mas nós só queremos dançar

E os nossos amiguinhos
Vão comentar cada gesto
Que fizermos ao bailar
Vão dizer “ai que formosas
Estas meninas mimosas”
Pois se nossas mães querem ir
Que vão acender as velas
Por Deus, por nós e por elas
Mas nós vamos p'ra dançar !

Mercedes Ferrari

2. Entremos na Romaria!...

É DIA DE ROMARIA


Meninas vamos bailar!
Nossas mães vão à igreja
Pôr as velas a queimar
Para que não haja inveja.

Pois seremos as mais belas
Viemos para agradar
Batam bem essas chinelas
Assim vamos arrasar.



Meninas vamos bailar!
Depressa que o tempo esgota
Não nos podemos atrazar
Porque se não vai dar bota…
Os amigos já lá estão
De certo à nossa espera
Vamos ver o que dirão
Quem espera, desespera.

Vamos todas atinadas
Para nas vistas não dar
De cinturas afinadas
Com eles vamos bailar.

Acabámos de chegar
abram bem os vossos olhos!
Viemos para bailar
E mostrar os nossos folhos.
Nossas roupas tão cheirosas
Desde os xailes aos culotes
Nós estamos ansiosas
P’ra vos mostra os saiotes.


Meninas vamos bailar!
Venham daí rapidinho
P’ra podermos.começar
Deem-nos cá um beijinho.
Meninas vamos bailar!
Enquanto estamos sózinhas
Aproveitemos gozar
Aquelas lindas boquinhas

Os seus olhos são fogosos
Os nossos também o são
Os seus lábios tão gulosos
Que pelos nossos estão.
  
Meninas vamos a eles
Viemos p’ra divertir
Os rapazes não estão neles
Haja Deus para acudir!

Meninas paremos de bailar!

Por fim as mães aparecem
Não podemos mais ficar
Os rapazes não merecem
Não nos poderem beijar.

Adeus S.Simão de Prados
P’ro ano cá estaremos
Talvez já todos casados
O resto nem nós sabemos!!!

 Azeitão, 13-10-2015
 Carmo Bairrada


À ROMARIA

Se a ‘nha mãezinha soubesse
Que eu só vou à romaria
Pra lá ver o meu amor,
Logo de corrida iria
Ao mê paizinho e diria
“Olha qu’a nossa Maria
Já se anda a namorar”
E o paizinho assustado
“Ai Deus, ai Deus já é tempo
Pronto temos que a casar
Vamos lá à romaria
Pra ver quem é o intruso
e se é alguém de fiar !”
E como é o que eu quero,
Vou depressa confessar
E venha daí a boda:
O enxoval já está pronto
Vem meu qu’rido, anda bailar
Que todos juntos nos vejam
E saibam que a nossa história
É de amor e vai durar !

Mercedes Ferrari

3. A Romaria de S. Lourenço de Trás-os-Montes


 “ROMARIAS”
As romarias são demonstrações de alegria, profana por vezes, mas às quais se junta a parte religiosa! Missa campal, visitas aos locais de culto e na maioria dos casos, culmina com a tradicional procissão, em que se homenageia o Padroeiro ou Padroeira da aldeia ou vila em questão. Não se sabe concretamente, quando começaram estas festividades! Recordo em criança, ter tomado parte em várias romarias… Senhora da Cola, São Romão, o Maio! Mas a que mais me marcou foi a romaria de São Lourenço em Trás-os-Montes! As pessoas deslocavam – se das aldeias em redor, para festejar São Lourenço! As mulheres carregavam à cabeça grandes cestos, cobertos por belíssimas toalhas de linho, das quais se destacavam as pontas de renda, primorosamente trabalhadas por mãos habilidosas! Dentro, vinha o presunto, o pão, a linguiça, a alheira e outras iguarias! Os homens, de chapéu de abas largas, cajados ao ombro, traziam consigo o inseparável garrafão de vinho. No lameiro, onde o gado pasta todo o ano, sobre o verde-esmeralda da erva, começam a estender-se as brancas toalhas e a distribuir-se os alimentos. Os acordéons tocam os primeiros acordes… É então que as figuras principais da romaria entram em cena! As roupas coloridas, os cabelos enfeitados de flores, dançam alegremente, garridas e sedutoras, as meninas! Os rapazes, em especial os da terra, não despegam os olhos daquelas figuras esbeltas e dos bicos de renda daquelas saias rodadas, moldando os corpos jovens daquelas meninas, que os enfeitiçam! O mais insólito de tudo isto, é que junto aos castanheiros, no sopé da serra, os lobos famintos fazem coro com a música e as cantorias! Porém, ninguém parece incomodado nem com a presença, nem com o uivo dos animais! E a festa continua!... As meninas continuam dançando e não param de “fazer frente “aos rapazes, que parecem hipnotizados! O sol que deu brilho à festa, começa a declinar. Para as Mães, este é o ponto mais alto da romaria! Chegou a hora de pagar as promessas. Dirigem-se para a pequena capela da aldeia, primorosamente enfeitada. Já no andor, para a procissão que sai às primeiras horas da manhã, envolto em flores, São Lourenço parece sorrir feliz! Toda a capela brilha com a luz bruxuleante das velas! E que é das meninas por quem as Mães pagam promessas, queimando velas? Elas incendeiam o coração dos rapazes, com os seus olhares atrevidos, as suas cinturas finíssimas, a alvura dos seus saiotes! As Mães que rezem, que façam promessas, elas só querem seduzir e se possível arranjar marido:! O bailarico está no auge! De repente, um grupo de rapazes armado de grandes varapaus entra para o meio da roda, gritando:
_ “Agora é que são elas!”… Começa uma batalha campal donde saem várias, algumas, não poucas cabeças partidas! Talvez para o ano, algumas destas meninas já venham pagar promessas por elas, pelo filho que entretanto nasceu, ou para pedir a Deus pela sua própria felicidade!...

 Elita Guerreiro 2O/10/2015                       

“OS LOBOS DA ROMARIA”

Hoje só uivam à distância
Os lobos da romaria,
Há-os com mais abundância
Mas há menos alegria!

O sorriso ainda existe
No rosto de São Lourenço,
Ainda a procissão persiste
Num fervor de fé intenso.

Quem segue para Vinhais
Pela estrada empoeirada,
Não é romeiro jamais
Desse tempo… Não há nada!

As meninas já não dançam
No lameiro da aldeia,
Onde ruminam e descansam
Os rebanhos que a rodeiam!

Da antiga tradição
Das Mães acendendo velas,
Resta a recordação
Para quem se lembra delas!...

Elita Guerreiro 10/11/2015

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