quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Bailias ou Bailadas

BAILIA OU BAILADA

Bailemos nós já todas três, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas,
e quem for velida como nós, velidas,
                se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
                verrá bailar.
Bailemos nós já todas três, ai irmanas,
so aqueste ramo destas avelanas;
e quen for louçana, como nós, louçanas,
                se amigo amar,
so aqueste ramo destas avelanas
                 verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos;
e quen ben parecer, como nós parecemos,
                se amigo amar,
so aqueste ramo sol que nós bailemos,
                 verrá bailar.
 
Airas Nunez de Santiago (séc. XIII)



Já luzem as galas
Do Maio florido.
Iria à bailada
Mas não tenho amigo.
Vêm as andorinhas
No tempo da flor.
Bailam as meninas.
E eu sem amor...

Por galas luzidas
Do florido Maio,
Louçã bailaria
Mas não tenho amado.
Voam as andorinhas
À volta da flor.
Folgam as meninas.
E eu sem amor...

Já murcham as galas
Do Maio florido.
Perdi a bailada
Por não ter amigo.
Vão-se as andorinhas,
Cai do tempo a flor.
Guardam-na as meninas.
E eu sem amor...

Galas já sumidas
Do florido Maio
Porque dás bailias
Se negais amado?
Fogem as andorinhas
Do tempo sem flor.
Sonham as meninas.
E eu sem amor...

Mocinhas gráceis, fungíveis
Mimosas de carne aérea
Que pela erecção dos centauros
Passais como doida hera!
Por ardentes urdiduras
De Afrodite que abonais
Passais como queimaduras
E tudo em fogo deixais.

Já luzem as galas
Do Maio florido.
Iria à bailada
Mas não tenho amigo.
Voam as andorinhas
No tempo da flor.
Bailam as meninas.
E eu sem amor...

Natália Correia, Cantigas de Amigo, O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II



Saudades de Maio

Ai, quem me dera Maio
Seus tepores primaveris
As suas flores perfumadas
Primeiras noites nos jardins…

Ai, Maio dos meus amores
Dos namoros atrevidos
Das confidências baixinho


Ai, mas quem me dera ainda
Colher frutos de ternura
Nos olhares esperançosos

Mercedes Ferrari


Alegria de Maio

Quando Maio chegou
Trouxe consigo a alegria
Toda a menina dançou
É tempo de romaria.

Trouxe as negras andorinhas
E seu doce gorjear
Bailam as rapariguinhas
Maio é tempo de bailar

Mas se alguém não tem amor
E vê o Maio passar
Não percebe toda a cor
Que Maio tem para nos dar

E quando Maio partir
E as andorinhas levar
Podemos sempre sorrir
Porque amanhã vão voltar

Vai voltar com seu fulgor
E seu perfume inebriante
E quem não tiver amor
Busca-o no seu semelhante

Adalberta Marques


BAILIA ou BAILADA

(interpretação livre)

Mira-me de um lado e do outro,
Puxa-me a saia de lado
Que quero estar aprontada
Com o corpete bordado.
Solta-me a trança doirada
E põe minha face rosada,
Qu’eu vou querer estar bem bonita
Para arranjar namorado.

Dança a papoila com o milho            
No campo verde sagrado,
Transforma a vida em tesouro
E eu aqui, deste lado.
Penteia meu cabelo d’ouro
Para que fique bem solto,
Qu’eu quero estar bem bonita
Para arranjar namorado.
                                                 
De Maio a Abril vão mil águas
Águas mil limpam meus olhos.
Olho a papoila sugada
A roçar a saia aos folhos.
Põe minha trança em laçada,
Lança os laços ao rio que passa,
Qu’eu queria estar bem bonita
Para arranjar namorado.


No céu morre a estrela,
Meu sonho vai com a bailada.
Vai minha alma com a espera
De um dia ser bem-amada.
Prende meu cabelo em argola,
Põe-lhe um gancho apertado,
Qu’eu quis estar bem bonita
Para arranjar namorado.

Digo adeus, até pr’ó ano
Para ano, olha pr’a mim.
O meu corpo no bailado
Bem banhado a alecrim.
Sonho meu, bem guardado
No meu olhar perfumado,
Qu’eu vou estar bem bonita

Para arranjar namorado.

Maria José Borges


“ ESCRITORA,POETA,MULHER”

O nome contém a garra
A expressão corajosa,
Não tem o som da guitarra
Nem a delicadeza da rosa!
Foi forte, quase “masculina”
Na sua palavra dita,
Não a conheci menina
Mas conheço a sua escrita

Mulher forte como a ilha
Onde um dia nasceu,
Todo o caminho que trilha
É entre a terra e o céu.
Discursa no Parlamento
Quem a escuta não a esquece,
Toda poesia e talento…
Recordo-a, bem o merece!...

Humilde homenagem à grande e talentosa mulher, que foi Natália Correia. Passou como meteorito na vida de todos nós! Disse, no seu arrebatamento e sabedoria, aquilo que todos nós desejaríamos dizer e que por falta de coragem ou de palavras adequadas, não conseguimos dizer!...


Elita Guerreiro * 12/11/2011

SONETOS ROMÂNTICOS (1990)
Natália Correia

Natália Correia através desta obra, “Sonetos Românticos,”faz uma longa viagem com princípio, meio e fim, onde se revela o Amor acima de tudo, a parte mística, (os Deuses e Deusas), as Flores, o Mar, o Céu e a sua amada Ilha (S. Miguel-Açores), que a dada altura da sua existência, foi substituída por Lisboa.

Foi um atravessar de um mundo tranquilo e rural, para outro buliçoso com ofertas numerosas de toda a espécie. Esta era a sua ânsia voraz de deixar para trás a pequenez das suas raízes e conhecer diferentes estilos de vida que lhe pudessem satisfazer a ambição que tinha em tornar-se grande sem, por isso, se esquecer das sua querida Ilha.

Pouco dela sabia, só o que via na televisão.
Para a homenagear, teria de conhecer muito de perto a sua obra e a pessoa que ela era. Olhando para os “Sonetos Românticos”, apercebi-me que Natália Correia traça um itinerário profundo, como meio de pôr à prova a sua própria maneira de ser, de sentir e de estar na vida, enaltecendo o Amor desde o Nascimento, passando pela Morte até à Ressurreição.

Talvez por isso, ela foi uma grande figura da cultura e da intervenção política do nosso País, chegando mesmo a ser deputada no Parlamento e considerada um dos grandes nomes da poesia portuguesa contemporânea.

Apresento um pequeno trabalho, feito com palavras suas, que nos leva ao acompanhamento do seu Itinerário metafórico, começando no Nascimento, passando pela Morte e terminando na Ressurreição :


Sonetos Românticos

Advertência

Não ofendas a Santa Sabedoria
julgando de ânimo leve o Romantismo.
Humildemente nele escuta as vozes
que te dizem:
O Itinerário é interior.
Assim dispôem as Leis do Amor
encontradas no ramo de ouro
da acácia onde pousou a Pomba.

1ª, Percurso

Visando a unidade,
o soneto é o ouro
da culminação da Obra poética.
-Ars aurifera- (Poesia)

2ª. Percurso

Mensageiro da solução integral,
o poeta é abandonado no limiar
da revelação da Santa Sabedoria
que lhe é concedida.
-Rogando à musa que torne claro
o coração obscuro- (Poesia)

3ª.Percurso

É no Palácio Espiritual
rodeado pelas águas
que têm início as provas.
- Mãe Ilha(Poesia)

4º.Percurso

Pregrinos da Estrela Flamejante!
amável é o Sol da Noite
que ilumina o caminho
para o Castelo das Almas.
- Louvado seja o génio da noite- (Poesia)

5º. Percurso

Indemne atravessei as labaredas
porque o Amor faz a Obra
e o fogo faz o Amor
- Do Amor que acorda
o Espírito que dorme (Poesia)


6º Percurso

Tiram-te a venda
e entre paredes de lágrimas
aprendes que não existes ainda.
És apenas devir.
- Na câmara de reflexão
Onde a simulação é um crime (Poesia)

7º. Percurso

onde penosamente se espera
que desça a palavra dos deuses

8º. Percurso

Caminhando sobre o fio da lâmina,
forçoso é que desças ao sepulcro.
Mas se te inflama a ideia
de seres duas vezes nascido
arma-te de lira
para enterneceres as sombras.

- Necessário é satisfazer
O ofício das trevas (Poesia)


9º. Percurso

A luz que os olhos da caveira
deixam passar
enche a câmara funerária
de um resplendor nocturno.
E entre os mortos
é-te concedido saber
que o teu Espírito
de novo é nasciturno.

- O romper da manhã
na noite mística (Poesia)

10º. Percurso (Último)

Coroada de mirtos
visto a túnica de linho branco
e aberta a porta,
caminho para o lugar
onde cai o véu
do mistério final.

Os dois últimos tercetos da Obra:

Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,

Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro, Ámen

Azeitão, 06-11-2015
Carmo Bairrada

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