BAILIA
OU BAILADA
Bailemos
nós já todas três, ai amigas,
Bailemos nós já todas três, ai irmanas, so aquestas avelaneiras frolidas, e quem for velida como nós, velidas, se amigo amar, so aquestas avelaneiras frolidas verrá bailar. so aqueste ramo destas avelanas; e quen for louçana, como nós, louçanas, se amigo amar, so aqueste ramo destas avelanas verrá bailar.
Por
Deus, ai amigas, mentr'al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos; e quen ben parecer, como nós parecemos, se amigo amar, so aqueste ramo sol que nós bailemos, verrá bailar.
Airas Nunez
de Santiago (séc. XIII)
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Já luzem as galas
Do Maio florido.
Iria à bailada
Mas não tenho amigo.
Vêm as andorinhas
No tempo da flor.
Bailam as meninas.
E eu sem amor...
Por galas luzidas
Do florido Maio,
Louçã bailaria
Mas não tenho amado.
Voam as andorinhas
À volta da flor.
Folgam as meninas.
E eu sem amor...
Já murcham as galas
Do Maio florido.
Perdi a bailada
Por não ter amigo.
Vão-se as andorinhas,
Cai do tempo a flor.
Guardam-na as meninas.
E eu sem amor...
Galas já sumidas
Do florido Maio
Porque dás bailias
Se negais amado?
Fogem as andorinhas
Do tempo sem flor.
Sonham as meninas.
E eu sem amor...
Mocinhas gráceis, fungíveis
Mimosas de carne aérea
Que pela erecção dos centauros
Passais como doida hera!
Por ardentes urdiduras
De Afrodite que abonais
Passais como queimaduras
E tudo em fogo deixais.
Já luzem as galas
Do Maio florido.
Iria à bailada
Mas não tenho amigo.
Voam as andorinhas
No tempo da flor.
Bailam as meninas.
E eu sem amor...
Natália Correia, Cantigas de Amigo, O Sol nas Noites e o Luar nos Dias II
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Ai, quem me dera Maio
Seus tepores primaveris
As suas flores perfumadas
Primeiras noites nos jardins…
Ai, Maio dos meus amores
Dos namoros atrevidos
Das confidências baixinho
Ai, mas quem me dera ainda
Colher frutos de ternura
Nos olhares esperançosos
Mercedes Ferrari
Alegria
de Maio
Quando
Maio chegou
Trouxe
consigo a alegria
Toda
a menina dançou
É
tempo de romaria.
Trouxe
as negras andorinhas
E
seu doce gorjear
Bailam
as rapariguinhas
Maio
é tempo de bailar
Mas
se alguém não tem amor
E
vê o Maio passar
Não
percebe toda a cor
Que
Maio tem para nos dar
E
quando Maio partir
E
as andorinhas levar
Podemos
sempre sorrir
Porque
amanhã vão voltar
Vai
voltar com seu fulgor
E
seu perfume inebriante
E
quem não tiver amor
Busca-o
no seu semelhante
Adalberta
Marques
(interpretação livre)
Mira-me de um lado e do outro,
Puxa-me a saia de lado
Que quero estar aprontada
Com o corpete bordado.
Solta-me a trança doirada
E põe minha face rosada,
Qu’eu vou querer estar bem bonita
Para arranjar namorado.
Dança a papoila com o milho
No campo verde sagrado,
Transforma a vida em tesouro
E eu aqui, deste lado.
Penteia meu cabelo d’ouro
Para que fique bem solto,
Qu’eu quero estar bem bonita
Para arranjar namorado.
De Maio a Abril vão mil águas
Águas mil limpam meus olhos.
Olho a papoila sugada
A roçar a saia aos folhos.
Põe minha trança em laçada,
Lança os laços ao rio que passa,
Qu’eu queria estar bem bonita
Para arranjar namorado.
No céu morre a estrela,
Meu sonho vai com a bailada.
Vai minha alma com a espera
De um dia ser bem-amada.
Prende meu cabelo em argola,
Põe-lhe um gancho apertado,
Qu’eu quis estar bem bonita
Para arranjar namorado.
Digo adeus, até pr’ó ano
Para ano, olha pr’a mim.
O meu corpo no bailado
Bem banhado a alecrim.
No meu olhar perfumado,
Qu’eu vou estar bem bonita
Para arranjar namorado.
Maria José Borges
“
ESCRITORA,POETA,MULHER”
O
nome contém a garra
A
expressão corajosa,
Nem
a delicadeza da rosa!
Foi
forte, quase “masculina”
Na
sua palavra dita,
Não
a conheci menina
Mas
conheço a sua escrita
Mulher
forte como a ilha
Onde
um dia nasceu,
Todo o caminho que trilha
Todo o caminho que trilha
É
entre a terra e o céu.
Discursa
no Parlamento
Quem
a escuta não a esquece,
Toda
poesia e talento…
Recordo-a,
bem o merece!...
Humilde
homenagem à grande e talentosa mulher, que foi Natália
Correia. Passou como meteorito na vida de todos nós! Disse,
no seu arrebatamento e sabedoria, aquilo que todos nós desejaríamos
dizer e que por falta de coragem ou de palavras adequadas, não conseguimos dizer!...
Elita
Guerreiro * 12/11/2011
SONETOS ROMÂNTICOS (1990)
Natália Correia
Natália
Correia através desta obra, “Sonetos Românticos,”faz uma longa viagem com princípio,
meio e fim, onde se revela o Amor acima de tudo, a parte mística, (os Deuses e
Deusas), as Flores, o Mar, o Céu e a sua amada Ilha (S. Miguel-Açores), que a
dada altura da sua existência, foi substituída por Lisboa.
Foi
um atravessar de um mundo tranquilo e rural, para outro buliçoso com ofertas
numerosas de toda a espécie. Esta era a sua ânsia voraz de deixar para trás a
pequenez das suas raízes e conhecer diferentes estilos de vida que lhe pudessem
satisfazer a ambição que tinha em tornar-se grande sem, por isso, se esquecer
das sua querida Ilha.
Pouco
dela sabia, só o que via na televisão.
Para
a homenagear, teria de conhecer muito de perto a sua obra e a pessoa que ela
era. Olhando para os “Sonetos Românticos”, apercebi-me que Natália Correia
traça um itinerário profundo, como meio de pôr à prova a sua própria maneira de
ser, de sentir e de estar na vida, enaltecendo o Amor desde o Nascimento,
passando pela Morte até à Ressurreição.
Talvez
por isso, ela foi uma grande figura da cultura e da intervenção política do
nosso País, chegando mesmo a ser deputada no Parlamento e considerada um dos
grandes nomes da poesia portuguesa contemporânea.
Apresento
um pequeno trabalho, feito com palavras suas, que nos leva ao acompanhamento
do seu Itinerário metafórico, começando no Nascimento, passando pela Morte e terminando
na Ressurreição :
“Sonetos Românticos”
Advertência
Não ofendas a Santa
Sabedoria
julgando de ânimo
leve o Romantismo.
Humildemente nele
escuta as vozes
que te dizem:
O Itinerário é
interior.
Assim dispôem as
Leis do Amor
encontradas no ramo
de ouro
da acácia onde pousou
a Pomba.
1ª, Percurso
Visando a unidade,
o soneto é o ouro
da culminação da
Obra poética.
-Ars aurifera- (Poesia)
2ª. Percurso
Mensageiro da
solução integral,
o poeta é
abandonado no limiar
da revelação da
Santa Sabedoria
que lhe é
concedida.
-Rogando à musa que torne claro
o coração obscuro- (Poesia)
3ª.Percurso
É no Palácio
Espiritual
rodeado pelas águas
que têm início as
provas.
- Mãe Ilha – (Poesia)
4º.Percurso
Pregrinos da
Estrela Flamejante!
amável é o Sol da
Noite
que ilumina o
caminho
para o Castelo das
Almas.
- Louvado seja o génio da noite- (Poesia)
5º. Percurso
Indemne atravessei
as labaredas
porque o Amor faz a
Obra
e o fogo faz o Amor
- Do Amor que acorda
o Espírito que dorme (Poesia)
6º Percurso
Tiram-te a venda
e entre paredes de
lágrimas
aprendes que não
existes ainda.
És apenas devir.
- Na câmara de reflexão
Onde a simulação é um crime (Poesia)
7º. Percurso
onde
penosamente se espera
que
desça a palavra dos deuses
8º.
Percurso
Caminhando
sobre o fio da lâmina,
forçoso
é que desças ao sepulcro.
Mas
se te inflama a ideia
de
seres duas vezes nascido
arma-te
de lira
para enterneceres
as sombras.
- Necessário é satisfazer
O ofício das trevas (Poesia)
9º. Percurso
A luz que os olhos da caveira
deixam passar
enche a câmara funerária
de um resplendor nocturno.
E entre os mortos
é-te concedido saber
que o teu Espírito
de novo é nasciturno.
- O romper da manhã
na noite mística (Poesia)
10º. Percurso (Último)
Coroada de mirtos
visto a túnica de linho branco
e aberta a porta,
caminho para o lugar
onde cai o véu
do mistério final.
Os dois últimos tercetos da Obra:
Creio
nos deuses de um astral mais puro,
Na flor
humilde que se encosta ao muro,
Creio na
carne que enfeitiça o além,
Creio no
incrível, nas coisas assombrosas,
Na
ocupação do mundo pelas rosas,
Creio
que o Amor tem asas de ouro, Ámen
Azeitão,
06-11-2015
Carmo
Bairrada
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