quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"O Soldadinho de Chumbo"















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O quarto do Menino e o Soldadinho de chumbo

Dizem que, de noite, quando os meninos dormem profundamente como é natural dos meninos quando descansam de um dia de jogos e brincadeiras, os bonecos e os brinquedos acordam e passam a viver e conviver uns com os outros: é a hora em que os brinquedos brincam!
Quando, passados os anos, já não há meninos para brincar com eles no quarto, os brinquedos, abandonados, continuam a brincar…
Na prateleira do quarto do Menino, no meio de outros brinquedos, há um Soldadinho de chumbo; gasto, com ar de quem já foi muito manuseado, meio quebrado e desbotado, em pé na sua base que outrora foi dourada. Em pé? Sim, mas num só pé que o outro foi à vida…
Não longe dele, entre uma bola e umas bonecas de pano todas esfarrapadas, está uma donzela bailarina.
São brinquedos ali abandonados: já não há meninos naquele quarto.
Não acreditam que eles acordam de noite e brincam? Pois é verdade. Senão vejam:
Todas as noites as luzes acendem e, cintilantes iluminam a prateleira dos brinquedos e um após outro, eles acordam e, estranhamente … estão como novos!
Qual perna partida! o Soldadinho, com a farda impecavelmente passada a ferro e os dois pés firmemente pousados no seu pedestal dourado, marca o passo.
As bonecas de pano, faces rosadas e lábios vermelhos, vestidinhos lavados às pintinhas ou às riscas, conversam animadamente, enquanto que, a pequena bailarina toda janota com o seu alvo tutu, vai nas pontas dos pezinhos até ao Soldadinho de chumbo, para o namoro costumeiro.
Ele desce então do pedestal ao vê-la chegar e então, dançam, dançam, e dançam sem parar até a aurora raiar…
E quando nasce o sol e o seu raio desliza de mansinho para vir acariciar a prateleira dos brinquedos, ambos voltam aos seus lugares, lançando beijos de adeus com as pontas dos dedos: “até logo … não deixes de vir dançar” …  


Mercedes Ferrari

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