segunda-feira, 14 de março de 2011

Ao encontro de Homero (Sophia) 2


Homero, Sofia de Mello Breyner Andresen
Caracterização de personagens
O Búzio:
Caracterização física: 

Fisicamente, todo ele lembrava coisas marítimas:
a barba branca e ondulada, qual onda de espuma; as grossas veias azuis das pernas, como cabos de navio; o corpo parecia um mastro; era alto e direito, fazendo lembrar o mar e os pinheiros e andava, baloiçando, como um marinheiro ou um barco. Os olhos: azuis, verdes ou cinzentos, tal como a cor do próprio mar e na mão direita trazia duas conchas ligadas por um cordel.
Caracterização psicológica:
Solitário, vagabundo, pedinte, talvez até um pouco louco.
Não comunicava oralmente com ninguém, vivia apenas do que lhe davam, sem nada pedir, fazendo-se apenas acompanhar pelo seu velho cão.
Caracterização social:
O seu meio de comunicação era a música, produzida pelo acessório feito de duas conchas e um fio, que usava na mão direita -  castanholas - com que anunciava a sua presença e que lhe permitia viver  das esmolas que lhe davam, sem que fosse necessário falar ou pedir algo.
Esta falta de sociabilidde, porém, era apenas em relação às pessoas, pois todas as tardes, ao terminar o seu peditório, ele se dirigia para e ao mar.
No alto das dunas, o Búzio fitava o mar longamente, como que em adoração, e só depois começava a falar: com as mãos em concha, viradas para a maré, aí sim, ele falava, comunicava, exprimia os seus desejos e anseios, como se a dar resposta às suas necessidades e sentimentos. Aí sim, era ele na sua essência e sentia-se feliz e contente, pois o mar era o seu confidente e amigo.
Na sua conversa com o mar, ele utilizava palavras que evocavam e nomeavam os elementos da natureza, que eram na realidade a sua família e com quem e para quem ele realmente vivia.
A criança:
A criança (prováveis recordações da autora) era uma criança só, aparentemente sem amigos, que ocupava o seu tempo nos jardins da casa isolada perto do mar, brincando com a areia e as plantas.
Curiosa, como todas as crianças, ia observando o estranho comportamento do Búzio.
Naquele dia, resolveu segui-lo, cautelosamente, para que o mesmo não se apercebesse e,  escondida entre as dunas, descobriu - maravilhada-  o segredo do Búzio: do seu monólogo  com o mar e da sua necessidade de partilhar estados de alma apenas com a natureza, que lhe inspirava uma linguagem limpa, real e verdadeira, que  compreendia e revelava o seu ser mais íntimo.

O porquê do nome Búzio
Búzio, porquê? Assim lhe chamavam, ou chamava-se a ele próprio, talvez porque o mar ao entardecer na maré baixa se encontra coberto de búzios...
ou porque..., tal como nós, quando o colocamos ao ouvido, conseguimos ouvir o bater das ondas e o ruído das marés, também ele, qual búzio abandonado, conseguia ouvir os gemidos do mar, o bater das ondas, numa conversa sem fim que o fazia voltar todos os dias para manter a sua paz de espírito em comunhão com o universo de onde provinha...
-Pensamento-
Como uma concha fechada
o búzio conduzia a sua vida,
pois tudo o que mais necessitava
era o mar que lho transmitia.                                      

(trabalho realizado por Nélida Silva)

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