William Shakespeare
(Guilherme Parente, onde o mar acaba)
Ondeando pela praia, reflectiam em seus olhos o céu e o mar azul...
Peregrino das areias, com o seu bordão, saco e duas “vieiras”- como compete a um “Santiago da Praia“-, o Búzio marcava o ritmo da passada e das palavras que só o Mar entendia... o mar e o cão, que lhe abria passagem de porta em porta, colhendo a esmola peregrina e o habitual “ vai-te embora Búzio !” .
O Búzio era altivo, como todos os poetas de imperceptíveis estrofes a quem não interessa o favor de ser ouvido e que, por isso, caminham solitários. No calmo caminhar dos dias, uma só rotina: a peregrinação do seu percurso, mas... sem hora, nem dia certo, assim só... aparecendo, saído do nada. Desaparecendo assim também…
Um dia, uma Menina Curiosa olha e vê o seu caminhar.
O Búzio estava sentado no alto de uma duna, banhando-se no Sol poente, falando com o Mar. Só ele, o imenso Mar, tinha dimensão para o compreender, porque entoava cânticos que as ondas levavam às Sereias. Poemas verdes como as algas , suaves e embaladores como a ondulação que vinha beijar a praia . Os seres humanos que o ouviam, como a Menina Curiosa, não o entendiam bem. Talvez o Búzio fosse um ser homérico …
Mais tarde, a Menina Curiosa escreveu poemas lindos: sobre o Mar, sobre o Búzio e sobre outros Seres Humanos especiais, diferentes, talvez complexos, talvez loucos, mas (e só) entendíveis aos poetas peregrinos do amor.
O Búzio não era um homem. Era o Homem em estado de poesia.
(texto de Joaquim Afonso Oliveira)
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