“DÁ-ME
UM BARCO”
SOBRE "O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA", JOSÉ SARAMAGO
É
um louco… sorriu o rei!
-
Dá-me um barco!
O
homem insistiu…
Começava
o rei a ficar farto.
-
Para que queres um barco?
-
Vou procurar a ilha Desconhecida
Lá
nos confins do mar!
-
Mas já todas têm vida!
-
Vou saber quando a encontrar,
Dá-me
um barco.
Conto-te
quando voltar!
-
E essa ilha vai ser para mim?
-
Se já tens as conhecidas
No
teu mapa sem fim,
Para
que queres as desconhecidas
Se
nem acreditas em mim?
Falou
então o rei, cansado, farto:
Vai
ao cais falar com o Capitão,
Para
que te dê um barco…
E
assinou a ordem num cartão!
O
barco não valia nada!
A
tripulação era a mulher até ali calada.
Mas
ambos a acharam muito bela
-
“Como é linda a nossa caravela!"
Não
saíram do atracadouro
Presos
ao seu sonho de aventura,
O
sonho que era o seu tesouro
Diziam
os demais que era loucura!
E
de corpos unidos continuaram a sonhar.
Faltava
um último passo,
Naquele
ínfimo espaço!
Estava
o barco por baptizar…
E
como se gravassem a própria vida,
Pintaram
na proa da “caravela”
ILHA
DESCONHECIDA…
E
como era bela!
Batiam
as ondas nos costados
Do
barco que não saiu do cais,
E
os corpos unidos enlaçados
Eram
tripulação, leme, arrais!
Elita Guerreiro 8 /6/2022
COMEMORAÇÃO DOS 100 DO NASCIMENTO (1922-2022)
DE JOSÉ
SARAMAGO
CONTO “A ILHA DESCONHECIDA”
O Conto da Ilha Desconhecida mostra-nos o quanto poderá ser cómodo
permanecer na nossa própria zona de conforto, sem ter de enfrentar o
desconhecido. O evoluir da humanidade está realmente em busca do novo,
desafiando-se a si mesmo e procurando superar constantemente os seus próprios
medos e limites. Este Conto é uma lição de optimismo, uma vez que o Homem
encontra a Ilha apesar das muitas adversidades que existem à data. A forma de
ele conseguir encontrar a Ilha que tanto desejava, sem ter qualquer apoio e
incentivo de alguém para o fazer, é uma verdadeira demonstração de que cada um de nós tem dentro de si próprio o
que precisa para conseguir atingir as metas e objectivos.
É justamente sobre a angústia de dirigir sozinho o barco da nossa própria vida que o conto também nos fala. Afinal, a nossa Ilha Desconhecida somos nós próprios.Carmo Bairrada, 1/7/2022
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