sábado, 28 de maio de 2022

Inédito, por Elita Guerreiro

 CHEGA FELIZ E FAZ FELIZ O MUNDO

A madrugada já ia avançada, quando o sol apareceu. Bocejou, espreguiçou-se e para despertar mais depressa, lavou os olhos nas águas do mar imenso. Sobre ele caminhou, então abrindo uma estrada de poeira dourada, ao arrastar o seu manto de Rei soberano! “Volto amanhã”, disse, despedindo-se daquele movimentado véu de rendas brancas, que deixavam no ar salpicos de transparentes diamantes. E num breve aceno partiu. Exímio caminheiro, entrou pelo bosque denso e verdejante, onde o Pastor vigiava o rebanho junto ao pequeno riacho. Envaidecido, perfumou-se com o aroma das violetas e poejos, que cresciam junto à fonte e foi cumprimentar, com um abraço forte, a giesta e o rosmaninho no cume do monte. ”Bom dia, bom dia!”, cantou alegre a cotovia… Do alto dum penhasco, uma águia levantou voo, asas abertas à liberdade daquele céu azul sem par! Instalado no seu trono de azul e ouro, foi saudado pela bela orquestra da Natureza: cigarras, grilos e todas as aves do bosque se fizeram ouvir num cântico feliz de boas vindas. Por entre a densa folhagem do arvoredo, o sol peneirava os seus raios de mansinho, para que os filhotes das aves nos seus ninhos, pudessem abrir os olhitos, sem que o calor os ferisse. Maravilhado, o sol subiu um pouco mais no infinito do céu. Era o meio do dia! O rebanho dormitava, no fundo verde-esmeralda do vale. O Pastor vigiava encostado ao cajado. O som dos chocalhos, o balido dos pequenos borregos, juntavam-se á grande orquestra que em tom festivo animava o verdejante bosque! Feliz, o sol via nascer novas flores, assistia às correrias dos pequenos animais e ao ensaio das jovens aves, nos seus primeiros voos. Horas felizes passam depressa, em qualquer parte do mundo! Lentamente, o dia ia chegando ao fim. Cansado de tantas emoções, o sol começava a perder a força. Mas se a sua chegada foi uma festa, a sua partida foi o mais belo dos espectáculos! Pequenas nuvens reflectiam as cores maravilhosas do entardecer: lilás, rosa, azul e ouro, envolviam a grande bola de fogo que, aos poucos, como se sentisse pena de partir, ia desaparecendo lentamente no horizonte. Era a despedida! Pela última vez, envolveu a terra num abraço de luz e partiu… As aves chilreavam no arvoredo, aconchegando - se para dormir. Cessaram os trinados das cigarras e a noite estendeu o seu manto de veludo negro sobre a terra. Então ergue-se a voz dum pequeno trovador saudando a noite recém - chegada:

Canta à noite o rouxinol/ À luz da lua de prata/Ergue a voz o Trovador/ Bela, a sua serenata/

Elita Guerreiro 23/5/2022

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