JOSUÉ, O GATO CULTO
Josué era apenas uma pequena bolinha de
pêlo branco, quando o casal de livreiros o adoptou. Cresceu depressa e
rapidamente tomou conhecimento com as grandes estantes carregadas de livros.
Traquina, corria sem parar, arqueando o dorso e escancarando os grandes olhos
azuis, que mais pareciam dois lagos tranquilos brilhantes! Impossível é contar
as vezes que o gato Josué, nas suas correrias, atirou ao chão os mais célebres
nomes da literatura: Aquilino Ribeiro e a Casa
grande de Romarigães, Fernando Namora e Os
Adoradores do Sol, Júlio Dinis e a Morgadinha
dos Canaviais e outros… Cansado, ronronando, vinha dormitar tranquilamente
sobre a mesa de trabalho do velho livreiro, onde Os Lusíadas há anos permaneciam sobre o cavalete abertos no Canto
V! Muito culto o gato Josué, com quem o dono conversava de literatura e não só!... Ambos
velhos, passavam longas horas dormitando sobre a velhinha mesa de trabalho, junto a Os Lusíadas, cuja encadernação era o
orgulho do velho senhor! Os cabelos brancos do dono juntavam-se à brancura
daquela bola de pêlo! Um dia,ambos deixarão de estar
presentes entre a poeira das longas estantes!
Até lá, Os Lusíadas vão testemunhando a grande amizade que os une e as longas sonecas sobre a velha mesa de trabalho
da não menos velha livraria!
Elita Guerreiro *24/2/2016.
REGRESSO À NORMALIDADE
Naquela
manhã quente de Verão, o silêncio era absoluto, na pequena quinta. Quando o
autocarro veio buscar as crianças para a escola, o Piloto não os acompanhou ao portão,
nem veio ladrar ao autocarro
como
era costume. Preocupados, o senhor Tomé e a senhora Joana
depois
de o terem chamado várias vezes, foram procurá-lo. A mulher lembrou: o Pimpão
ainda não cantou hoje! O Pimpão era um galo grande de vistosas penas de muitas
cores e uma bela crista vermelha.
Era
o rei da capoeira. Um buraco na rede junto ao chão explicava o motivo do
silêncio do cantor. Algum dos trabalhadores da quinta esquecera de fechar bem o
portão e fora por ali que os dois fugiram.
O
Piloto tinha sido adoptado pelos donos da quinta e pelos dois netos,
que
se afeiçoaram ao seu olhar meigo e ar bonacheirão. Era um cão muito amado. Por
isso quando a dona se convenceu da sua fuga, levou
aos
olhos a ponta do avental, limpando uma lágrima de tristeza, lamentando:
-
Tratámo-lo com tanto amor e o ingrato deixa-nos!
-
Ele vai voltar, acredita. Vou avisar o pessoal para ter mais cuidado com o
portão, quando saírem.
-
Ora homem, depois de casa roubada trancas à porta! – respondeu, triste, a
senhora Joana.
Com
o passar dos dias, embora não esquecessem o fugitivo, tudo voltou à
normalidade. Uma tarde, estava o casal a regar a horta e as crianças a brincar
à sombra da grande árvore, quando ouviram ladrar junto ao portão. Em alvoroço,
correram para lá. E era o Piloto, sim senhor! Mas não vinha sozinho… Com ele
vinha uma linda cadelinha e dois cachorrinhos. Eram uma ternurinha, as crianças
ficaram maravilhadas!
-
Sim senhor, seu fugitivo, sai um e entram quatro! - falou o senhor Tomé,
sorrindo feliz.
-
Agora, mulher, é ração a dobrar para esta pandilha…
Na capoeira, um galo cantou, como se desejasse
tomar parte naquela festança. Não, não era o Pimpão. Esse nunca mais voltou, mas
o seu lugar foi ocupado por outro cantor de voz cristalina e belas penas coloridas.
Voltou a haver animação na quinta: risos de crianças, o cantar alegre dum lindo
galo e as correrias loucas dos cachorros que não davam descanso aos pais e
acompanhavam as crianças nas suas traquinices.
Tudo
está bem quando acaba bem!...
Digo
eu…
Elita
Guerreiro* 15/3/2018
Era uma vez…
Um gatinho siamês.
Que estava apaixonado
Pela gatinha do lado
Branquinha, muito formosa,
E que se chamava Rosa.
Não vinha à rua brincar
Para o pêlo não sujar.
Dizia o Ron-Ron, de cá
- Anda, Rosa, salta lá,
Vamos passear na rua,
Vem admirar a lua
E como é lindo miar
Sob a luz do luar!
Mas nada a convencia…
Até que um belo dia,
Foi o Ron-Ron ter com ela.
Lesto, saltou para a janela,
Mas a vizinha zangada
Assentou-lhe uma vassourada.
- Desaparece, rafeiro,
Vai lá para o teu pardieiro!
Então o rafeiro era eu
De olhos da cor do céu,
Eu, um siamês de raça?
Claro, não achei graça,
Fiquei até ofendido,
Pois não fazia sentido
Tal maneira de agir!...
Por isso, antes de fugir,
Fiz ver àquela ingrata
Que era apenas pela gata
Que saltara para a janela
E voltava outra vez por ela.
Mas, naquela confusão,
Atirei um vaso ao chão…
Não o fiz por vingança
Mas sim por ter esperança
De chamar a atenção
Da minha grande paixão.
Não pulo mais a janela,
Mas ainda gosto dela…
Elita Guerreiro 9/3/2018
A LENDA DA RAPOSA
Entrava na capoeira
E saía
quando queria,
Roubava e desaparecia!
Tinha o pêlo cor de fogo,
Atrevida
e desonesta,
Um dia
perdeu o jogo
E
acabou-se-lhe a festa.
O dono da capoeira
Preparou-lhe uma cilada
E a raposa matreira
Caiu nela sem mais nada.
Aflita, estrebuchou
A raposa cor de fogo,
Mas
nunca mais roubou.
Acabou, perdendo o jogo.
Que grande susto apanhou!
Ao ver-se livre, fugiu…
E nunca mais voltou
E
ninguém mais a viu…
Elita Guerreiro---20/7/2012
A
CAROLINA E O CARACOL
É
manhã de nevoeiro.
Na
parede do quintal,
Um
pequeno caracol
Vai
trepando devagar!
Vai
em busca do sol,
A
manhã está gelada!
Tem
frio e não tem cachecol
Tem
fome, não comeu nada!
-
Carolina, está na hora!-
Chama
o Pai do portão!
Esquecida
da escola
Fica
ali, pregada ao chão!
Ao
voltar, a Carolina
Quis
saber se o caracol
Quentinho,
gozando o sol!?...
Mágica,
é a memória
Este
brilho de esperança,
A
construção duma história
No
olhar de uma criança!
Elita
Guerreiro * 5/12/2018
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