segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Sobre "A Viagem", por Elita Guerreiro

“À BEIRA DO ABISMO”

A vida vai-nos tirando
As coisas mais importantes,
Aquelas que vão ficando
São tão insignificantes!
Já tivemos esperanças,
Hoje olhamos para trás
Deixamos de ser crianças,
E só ansiamos pela paz!

Sonhamos um grande amor
Que não chegou a existir,
Ao olharmos em redor
Passou por nós, a sorrir!
Lá na curva da estrada
Buscamos o Paraíso,
Chegamos e não há nada
E quase não damos por isso!

Quando a alma serena
Num estranho comodismo,
Tão leves como uma pena
Estamos à beira do abismo!
Luta o mal com o bem,
O Demo com o Criador,
E o pouco que ainda se tem
Perdeu há muito o valor!


Elita Guerreiro 19/1/2017     

   “CONTOS E REALIDADES”
Se transportarmos para a vida real, o belíssimo conto de Sofia de Melo Breyner a (Viagem,) verificamos       as grandes semelhanças existentes entre o conto e a realidade. Tal como o casal que encetou uma viagem de sonho, naquela manhã de Setembro serena e luminosa, em que “ todas as coisas pareciam acesas,”como quem vai ao encontro da” Terra Prometida,”também nós sonhamos com um amanhã melhor:
um local tranquilo, onde reine a paz e possamos plantar as tais “flores cor-de-rosa” que tanto encantaram a mulher… ou talvez uma formosa borboleta venha poisar na nossa mão, amenizando com a sua suave beleza as perdas das nossas vidas!
Quem de nós se não perdeu, na procura incessante da realização dum sonho e se não deparou com a “ Casa Deserta”? Quem de nós não sentiu sede e desesperou ante aquela “ Bilha Quebrada”? Quem não retrocedeu vezes sem conta, parecendo ouvir vozes e se perdeu no silêncio? Ao menos o casal permanecia unido, de mãos dadas, numa demonstração de amor, que os amparou ao longo de todas as provas pelas quais passaram! Tal como eles, caminhamos sem cessar, pelos caminhos da vida. Umas vezes perdendo, outras ganhando, mais perdendo do que ganhando, por vezes! Famintos de esperança, deparamos por vezes com a tal “ sebe carregada de amoras silvestres. “São maravilhosas”, exclamou, rindo, a mulher. “Temos de ir temos de encontrar a estrada e a terra para onde vamos”, falou o homem. Era esta a realidade. Como eles, lá vamos nós em busca da felicidade sonhada… Que nem existe a maior parte das vezes!... Ou desapareceu na primeira curva do caminho, assim com a nossa reserva de “amoras, de sonhos”. O homem tentava animar a companheira, que por vezes desanimava “Tenho medo”!- dizia a mulher. “ Estamos juntos.” - retorquia o homem. E assim se conservaram, mão na mão, até ao fim, seguindo sempre em frente!”
Tal como eles, quando nada mais há a perder e depois de vislumbrarmos o “Paraíso”, eis que aos nossos pés cansados, se “abre o precipício, escuro e escorregadio”! “É a prova final. O casal do conto até aí preso pelo amor, termina a sua “Viagem”. As mãos, que estiveram unidas o tempo todo, desligaram-se e o homem caiu na escuridão sem que a companheira o pudesse ajudar! “Segura-me” - ainda gritou. Mas já o abismo engolia o seu corpo. A mulher gritou: “Agarra- te à terra!” Mas ela também se sentia perdida, embora a esperança a não tivesse abandonado! Então, ainda arranjou forças para gritar, na esperança de que do outro lado estivesse alguém que lhe pudesse acudir!

Elita Guerreiro *19 /1/ 2017                                          

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