(O Ratinho Camponês
vai conhecer a “Pólis”)
Os convites que nos chegam, quase
sempre nos enchem de alegria e aceitamo-los, também quase sempre, com
entusiasmo.
Assim aconteceu ao ratinho
Camponês, quando seu primo ratinho Sabichão o convidou para o ir visitar à
cidade onde vivia: nem pensou duas vezes e disse logo que sim, viria.
Pôs-se a caminho logo de
madrugada, com uma malinha onde levava o necessário para a estadia, mais um bom
naco de queijo como prenda para o Sabichão - pois de queijinho do campo,
acabadinho de curar, saboroso e puro, sabia ele que o primo não via há muitos
anos. Levava também umas quantas bagas secas de frutos do bosque: uma maravilha
gastronómica que, pensava ele, faria a delícia do seu primo.
Caminhou longas horas, atravessou
campos e pontes, respirando fundo o bom ar da manhã primaveril, e chegou enfim
às primeiras casas que assinalavam a entrada de uma zona urbana.
Admirado, olhava as vivendas
rodeadas de jardins floridos, com árvores e arbustos, e pensava: “que bonita
que é a cidade”! Tirou então o papel onde tinha tomado nota do itinerário e
pensou: “mais uns minutos e estou lá”, esperando que a casa do primo fosse tão
bonita como estas que contemplava ao passar.
Pouco a pouco, no entanto, o
estilo das casas ia mudando: agora já não eram vivendas baixas e coloridas, os
jardins que as circundavam iam desaparecendo deixando o lugar a largos passeios
com árvores cada vez mais raquíticas à medida que ia andando, e com cada vez
mais carros estacionados. Quanto ao ar que ia respirando, parecia conter fumo,
como se alguma coisa estivesse ardendo nalgum lugar e o Camponês já não
respirava fundo, antes pelo contrário tinha alguma dificuldade em respirar e
pensava “estou cansado de tanto caminhar, deve ser por isso!”
Mas as casas eram cada vez mais
altas e escuras, pareciam sujas, mas de quê? E as ruas eram cada vez mais
estreitas, os passeios tinham-se tornado meras passagens e o trânsito era intenso,
tanto de carros como de transeuntes, e o coitado tinha que dar saltos para
evitar levar um pontapé ou ser atropelado…
Finalmente chegou ao endereço
indicado pelo primo. Chegou já tão sem fôlego que mal conseguiu cumprimentar o
Sabichão… sem forças, sentou-se no chão e fez-lhe sinal para ir abrir a malinha
e tirar de lá os presentes que trouxera.
Sabichão não percebia o porquê
daquela fadiga do primo Camponês; tirou o queijo e as bagas e pôs-se a comê-los
sem mais cerimónias. Camponês, quando a ele, respirava mal, mais parecia que em
vez de ar era fogo que lhe entrava nos pulmões!
Mas pouco a pouco lá se foi
habituando àquela sensação tão desagradável mas, cansado demais para conversar,
pediu ao primo para se poder deitar a descansar.
Surpresa: a casa era tão exígua
que tinha que dormir na mesma cama que o primo e… não havia janelas… e Camponês
percebeu então porque lhe faltava o ar.
Então pensou: “ah! Minha rica
casa no campo! Ah! Meu bom ar limpo e meu céu azul, minhas hortas e meu
arvoredo com os passarinhos a cantar… Amanhã volto para casa!”
Moral da história: Não nos
deixemos ludibriar pela “suposta” civilização e seus – muito negativos –
corolários, e defendamos acima de tudo a Natureza, nossa aliada.
“O
RATO DO CAMPO E O RATO DA CIDADE”
Na
Serra da Vigia, o moinho do mesmo nome girava as suas velas brancas que o
vento enfunava como se fosse um veleiro no mar alto! As pucarinhas de barro
vermelho Zumbiam ao passar do vento. No moinho da Vigia, o moleiro, o senhor Manuel,
todos os dias barafustava, porque as sacas de trigo apareciam esburacadas…
Então, zangado, pegava na velha vassoura e gritava:
_ Vai embora rato malandro,
que tudo estragas, como se não bastasse o que comes!
Aborrecido daquela lenga- lenga,
e de barriguinha cheia, o rato disse falando consigo mesmo…
- ”Ora, não é tarde
nem é cedo”…
Pegou num saquito que enfiou num pau e pondo-o ao ombro, resmungou…
“Vou deixar o moleiro sozinho e vou dar um giro. “ Lembrou-se que tinha um primo
a viver no campo e foi visitá-lo.
- Olá, Olá! Cumprimentaram-se.
- Que te traz à minha humilde morada? - perguntou o rato do campo. Vim fazer-te uma proposta…
Sabes que moro num moinho, não sabes? A pensar nessa tua magreza, achei que
gostarias de lá viver!... Há fartura de comer e, “mentindo”, disse:
- Ninguém te
apoquentará…
- Claro que aceito, obrigada, primo!
E lá foram… Quando chegaram, o
rato do moinho, disse-lhe:
_Vai na frente, que vou cumprimentar o moleiro que
está a dormir.
O rato do campo ficou maravilhado com a abundância de trigo! Já
ia para fazer um buraquito numa saca, quando a vassoura do moleiro se abateu sobre
o seu pequeno corpo.
Lá
fugiu a custo, para não mais voltar! Ao ver o que aconteceu ao rato do campo, o
outro pôs-se igualmente em fuga…
- És
um mentiroso, cobarde! Mentes para enganar quem tem fome e foges para não seres
apanhado por quem mesmo involuntariamente sempre te sustentou - disse o rato do
campo, indignado com a falta de carácter do outro! …
Fábula
ou realidade, não vale a pena trapacear os mais humildes que, por vezes, são os
mais sábios!
Elita
Guerreiro*28/11/2014
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