sábado, 1 de março de 2014

ITINERANDO II (com Sebastião da Gama e Cancioneiros medievais e popular), por Carmo Bairrada, Elita Guerreiro

O AMOR DE UM JOGRAL….       

Ó amada, minha amada,
Amor do meu coração,
Floresta por desbravar,
Meu regato em turbilhão!...

E ai Deus!...
E ai Deus, se virá cedo!...

Sois sonho e fantasia
De todos meus pensamentos,
Sois também a agonia
Que persegue meus momentos…

Ó amor da minha vida,
Casou comigo a saudade
Nesta vida desvalida
Que não tem continuidade!...

E ai Deus!...
E ai Deus, se virá cedo!...

Desço a rua sem saber
Que estáveis à janela…
Dei de caras sem querer
E levei com a chinela.

Não desisti de vos ver
Mesmo depois da pancada!
Mais vale ser que parecer
E ficastes assustada?...

E ai deus!..
e ai Deus, se virá cedo!...

 [olhando p’ra ela, cantando:]

-Espero por vós na fonte
Bem no fundo do jardim…
Peço que não vos afronte
Este pedido de…mim.

Trazei vestido vermelho
Para que sinta vosso beijo,
A garrafa de verdelho,
Pão, chouriço e algum queijo.

Acenderemos o lume
Para o chouriço assar…
Tendes de abrir o tapume
Para eu poder entrar…

E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...

Não quero de vós mais nada
Do que tendes para me dar,
A não ser a desfolhada
Em vosso jardim ao luar!

Não posso sentir mais forte
No mais fundo do coração…
Se não levar vosso dote,
Ficareis sem meu filão.

E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...

Não oiço vossos passos, amor!
Nem a sombra de vós vejo!...
Que penso eu?... Que horror!
Irei perder vosso beijo?

Meus olhos estão chorando
Lágrimas de amor por vós,
E por aí vou andando
Sem saber novas de nós…


Vou partir para bem longe,
Ó minha amada Infanta!...
Penso já tornar-me monge,
Depois desta grande tampa…

E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...

Carmo Bairrada
01.12.2013


CANTAR DE AMIGO

“ SENHORA MINHA”
Sabeis senhora minha
Que venho de correr mundo,
E em nenhum lugar achei
Olhar tão belo e profundo?

Sabeis senhora minha
Que vossos olhos cor do céu,
Os levei eu bem guardados
Na prisão do olhar meu?

Sabeis senhora minha
Que a música da vossa voz,
Me acompanhou pelo mundo
Sempre falando de nós?

Sabei pois senhora minha
Que nunca mais partirei,
Porque a dor de vos deixar
Só eu sofri, só eu sei…

E vou cantar-vos senhora
Em cada estrofe sentida,
Em cada verso de amor
Por toda a minha vida.

Elita Guerreiro, fevereiro/14



Sem comentários: