sábado, 1 de março de 2014

ITINERANDO VI (com Sebastião da Gama: a morte), por António Penedo, Carmo Bairrada

Sempre a Morte

A vida não passa de mera fruição
De um estado de alma
Sempre em vias de cair
Na dissolução
Do devir.

Te invejo, Sebastião
A entrega à vida
E o valor acrescentado de Homem
Cidadão
Professor e poeta.
A discernida inspiração
Na eleição da Serra Mãe
E de tudo em redor
Com igual destaque e esplendor
Como irmão, na criação
Criado e Criador.
A natureza é que sabe, Sebastião.
E é em cada um que ela se abre
E se fecha, queira ou não.
Mas sempre sem maldade.
Só porque é o que tem de ser:
Nascer; viver e morrer,
Do sonho à realidade.

Para o Homem é sempre tragédia.
Porque sendo finito e inteligente
Aspira ao infinito, p’ra sempre…

Ainda tu, ficaste nos textos
E obra que deixaste.
Mas quantos se foram p’ra sempre,
Sem lembranças, saudades, ou rasto…?

É essa a tragédia, Sebastião,
de que falo e escrevo.
Eu, ainda alegre e poeta,
Amanhã, sem remédio,
Apenas corpo na meta
E o funesto dizer
“Descanse em Paz”
“Aqui, jaz”

E todos hão-de jazer

ACPenedo
04-02-014


Preciso do mundo

Se não cantasse…
não ouviria o Universo
em mim.
Seria como um cego
Sem o eco do jardim…

Se não escrevesse…
não pensaria;
não poderia juntar dois e dois;
não saberia do antes e do depois…

… E de incomunhão enlouqueceria.

Preciso do mundo em mim.

(texto inspirado na leitura do poema de Sebastião da Gama: Elegia para a minha campa, do livro Serra -Mãe)
ACPenedo
14-01-014



Num breve Momento… A Clarividência

Breves Apontamentos sobre a “Elegia para a minha campa” de Sebastião da Gama


Eis que o Bufo solta o seu grito na serenidade do anoitecer.
Nesse instante, assim o imagino, o Poeta acorda e propõe-se escrever a poesia:- Elegia para a minha Campa”.

 “Pulvis es; pulvis eris” (Génesis 3.19)

A sua mente torna-se clara e límpida como a água que corre na fonte. Começa a dar conta de como foi a sua relação com aquela a que carinhosamente chamou Mãe.

E é no momento que o seu corpo baixa à terra, que o Poeta tem a noção máxima e precisa da fusão do seu SER com a própria terra. E é nessa simbiose que vai passar a viver… conjuntamente com ela, para sempre. Esta simbiose com a Serra é para o poeta semelhante a uma viagem, que o levará ao infinito e ao mesmo tempo ao retorno do ventre da Serra Mãe, através dos ciclos de vida que ela própria comporta no seu íntimo e que o fará regressar sempre às suas origens… tempo circular… de eterno retorno…

Olha ao alto e louva o Céu, cantando, elevando com a sua voz o perfume dos suaves Matos, ao mesmo tempo que acaricia a Serra.
Com o seu próprio corpo já misturado com a terra, vêm –lhe à memória todos os cheiros, que com ele irão fazer essa viagem: são as Moitas dos Folhados e o Alecrim, que nascem dos seus lábios de terra, e o Rosmaninho que transporta na sua própria voz…




Nesse dia, até o Céu ébrio de Sol e de Mar, abraça e conforta a Serra- Mãe.

Carmo Bairrada, Janº- Fevº/2014









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