A turma de Literatura - continuação (Brejos de Azeitão) centrou os seus trabalhos (2013/14) no estudo da obra do poeta azeitonense Sebastião da Gama, a partir de cuja obra foram elaborados trabalhos (sobretudo poemas) de que foi apresentada uma selecção na palestra "Itinerando...", no Museu Sebastião da Gama, dia 31 de maio.
São esses textos e pps de acompanhamento que aqui vão ser publicados.
"Meu caminho é por mim fora
'té chegar ao fim de mim..."
(poema "Itinerário", Serra-Mãe)
Como o poeta, também nós desenhámos este ano mais uma etapa do nosso itinerário pessoal:
- Partimos... Vamos... Somos., ao encontro dele e de nós próprios (in "O Sonho", Pelo Sonho é que Vamos).
- Finalmente, mais descentrados de nós e do nosso "ego", partimos para o "outro" e num aprofundamento da nossa divisa "Aprender: dar e receber", aprendemos que somos mais felizes, porque o somos também em comunidade. "O que eu quero principalmente é que vivam felizes" (in Diário).
Boa viagem!...
PARTIMOS…
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À SERRA E AO POETA
Porque choram os meus olhos?
Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?
Gosto de caminhar por ti, ó Serra!
Gosto das árvores retorcidas, caladas,
Gosto dos pássaros que por elas esvoaçam
de ramo em ramo
Quais crianças alegres e felizes.
Gosto das pedras que choram doridas de
tantos pés que as pisam,
Gosto das flores e frutos coloridos que
desabrocham em teu redor.
Porque choram os meus olhos?
Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?
És
um legado longínquo,
Já nem sei contar teus anos...
Continuam a passar por ti as Estações:
-São as Primaveras encantadoras e
frescas
Que fazem despertar em ti a Natureza;
-São os Estios, verões quentes e
sensuais,
que te aquecem com os seus raios de sol;
-São os Outonos que despenteiam as
árvores das suas folhas
E que tornam dourados os teus contornos;
-Finalmente, os Invernos longos com seus
ventos agrestes
E chuvas copiosas, que mais parecem rios
que na sua correria
Louca serpenteiam o teu recôndito corpo.
Porque choram os meus olhos?
Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?
Continuo a dar os meus passos cansados
ao longo dos caminhos desta Serra.
Penso em ti, ó Poeta
Que tão novo nos deixaste,
Com tanto para repartir.
Só agora te conheci.
Estou a despertar para a tua poesia...
Foste filho desta Serra!
Revejo-te nesta paisagem do Deus
Criador.
Talvez por isso estás sempre presente
neste lugar.
A tua poesia revela-se no o amor místico
que tinhas a esta Mãe
Que te deu inspiração e te embalou nos
seus braços de mulher,
E te Fez o Menino-Homem que do seu
ventre nasceu:
sentimento mútuo de catarse;
- EU (poeta)sou TU (serra) e TU és EU -
É isto "o concriar", que a
filosofia nos ensina.
A fusão plena e total do Um com o Outro.
-
Assim, acabei por descobrir,
O TU que foste e o EU da tua Serra,
Que é um espaço vivo para todos nós.
Agora sei, ó Serra,
Porque choravam os meus olhos
Porque gostava dos teus silêncios....
Porque agora aprendi a gostar
Do teu filho, do teu poeta.
É para ti Serra - Mãe e para o Poeta
Sebastião da Gama
que aqui deixo estas palavras
em jeito de Homenagem.
Carmo Bairrada
(A PROPÓSITO DE “ELEGIA PARA A MINHA CAMPA” de Sebastião da
Gama)
Uma voz, um grito de paixão
Uma obsessão sem fim
Por esta serra que chamas de mãe
Como se das suas entranhas
Tivesses sido arrancado
E lá desejasses voltar,
com todas as tuas forças.
Ser poeta permitiu-te declarar essa
paixão
Mais e mais, sempre e sempre!
Oh, hélas, tão cedo lá voltaste,
Para onde querias ir
E nos deixaste
Órfãos da tua poesia
Órfãos da tua serra,
Onde rastejamos à tua procura...
Mercedes Ferrari, Janº- fevº / 2014
Da Paisagem à Serra
Poeta dos nossos tempos
Grande poeta humanista
Toda a sua vida dedicou
À
Serra Mãe e à poesia mística
A Serra foi seu amor
Como de uma mãe se tratasse
Viveu-a em todo o esplendor
Como se da dor se libertasse
Sonhador e pensador
Em tudo sentia a poesia
Desde o murmúrio das fontes
Ao suave sussurro da maresia
Aqui
viveu, foi feliz
Fazendo o que mais gostava
Cantando sua Serra - Mãe,
Aquela que tanto amava
A Serra era sua paisagem
Seu ambiente natural
Aqui se sentia em paz
Tentando esquecer seu mal
Era um viver em beleza
Na serra que o abrigava
Contemplando aquela natureza
Era assim que ele se realizava.
Dedicou-lhe toda uma vida
E suas maravilhas explorou,
Conhecia-a tão intensamente
Que sua beleza exaltou...
Exaltou serras e montes
Regatos, matas e fontes,
Como todos os recantos conhecia
Era na Serra e para ela que vivia.
Nélida Silva
Sempre a Morte
A vida não passa de mera fruição
De um estado de alma
Sempre em vias de cair
Na dissolução
Do devir.
Te invejo, Sebastião
A entrega à vida
E o valor acrescentado de Homem
Cidadão
Professor e poeta.
A discernida inspiração
Na eleição da Serra Mãe
E de tudo em redor
Com igual destaque e esplendor
Como irmão, na criação
Criado e Criador.
A natureza é que sabe, Sebastião.
E é em cada um que ela se abre
E se fecha, queira ou não.
Mas sempre sem maldade.
Só porque é o que tem de ser:
Nascer; viver e morrer,
Do sonho à realidade.
Para o Homem é sempre tragédia.
Porque sendo finito e inteligente
Aspira ao infinito, p’ra sempre…
Ainda tu, ficaste nos textos
E obra que deixaste.
Mas quantos se foram p’ra sempre,
Sem lembranças, saudades, ou rasto…?
É essa a tragédia, Sebastião,
de que falo e escrevo.
Eu, ainda alegre e poeta,
Amanhã, sem remédio,
Apenas corpo na meta
E o funesto dizer
“Descanse em Paz”
“Aqui, jaz”
E todos hão- de jazer.
ACPenedo, 04-02-014
ALMADA NEGREIROS DÁ A CONHECER
SEBASTIÃO DA GAMA
Não necessito fazer um grande esforço de
memória para recordar a figura imponente do Mestre Almada Negreiros, quando nas
tardes de sábado entrava na sala do Ateneu Comercial de Lisboa. impacientemente
esperado por quem como eu ansiava ouvi-lo, quase todos estudantes de diversas
áreas e eu, pequena na minha pouca sabedoria, alheada de tudo, olhos fixos
naquelas mãos grandes, expressivas e os ouvidos atentos a cada frase, a cada
palavra, proferida pelo Mestre... Falava-nos naquela tarde dos Poetas teimosamente
ignorados, por vários motivos. Com aqueles gestos largos, que pareciam alcançar
todas as áreas de conhecimento e fitando a assistência suspensa das suas
palavras, disse (e cito de memória):
- Lisboa não é a concha onde se aninham
Poetas de inspirado talento… Falo dos Poetas de Além -Tejo em cujo peito e
coração, está instalado o amor pela terra que os viu nascer e os sustenta.
Não era dos Poetas populares, que Almada
nos queria falar, como a princípio nos pareceu, embora fizesse questão de
frisar o grande respeito que lhe mereciam. O que o Mestre nos quis dar a
conhecer foi o nome do grande Poeta Sebastião da Gama: Professor, Humanista e,
segundo ele, um dos maiores Poetas nossos contemporâneos. Ninguém como ele amou
tanto a terra que o viu nascer e a Serra onde se insere e onde prematuramente
acabou os seus dias, quando ainda tanto se esperava do seu talento… No seu
livro” Serra - Mãe”, põe Sebastião da Gama todo o amor pela sua Arrábida.
Pela primeira vez, ouvi falar deste
Poeta a quem presto a minha humilde mas sincera homenagem e a quem agradeço os
momentos de grande emoção que experimento em cada leitura de cada poema que
escreveu.
Elita Guerreiro, 21.01.2014
RUA DA ALEGRIA
Aldeia feliz, rua da alegria, não reina
a tristeza
nem mesmo o pão falta para enfeitar a mesa.
Nas noites de inverno, se faz mesmo
frio,
acende-se o fogo para lembrar o estio.
Na velhinha escola, porque outra não há,
faz
falta as crianças com o seu b-a-bá
porque o sacristão já se foi embora.
Quando o padre vem, matam-se as
saudades,
relembram-se os tempos com outras
idades.
O forno da aldeia, não mais se acendeu,
do pão que fazia, que saudades Deus meu!
O cabo da guarda, sem crimes na aldeia,
pediu a reforma, já tem pé-de-meia.
O Manel da loja, num dia à tardinha
ao sentir-se tão só, fechou a tasquinha.
Mesmo o boticário, não vendo receitas
disse adeus à terra, não há mais
maleitas.
A fábrica do arroz, que o pão garantia,
até que encerrou, já não lembra o dia.
Os que vão ficando, tão poucos que são
olham os passantes com mais atenção
Não querem dinheiro, nem pedem favor
só um pouco de tempo, conversa e amor!
Zé
Bairrada, jul/2011, (aldeia de Sta. Catarina – Alcácer do Sal)
VAMOS…
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Num breve Momento… A Clarividência
(Breves
Apontamentos sobre a “Elegia para a minha campa” de Sebastião da Gama)
Eis que o Bufo solta o seu grito na
serenidade do anoitecer.
Nesse instante, assim o imagino, o Poeta
acorda e propõe-se escrever a poesia:- “Elegia para a minha Campa”.
“Pulvis es; pulvis
eris” (Génesis 3.19)
A sua mente torna-se clara e límpida
como a água que corre na fonte. Começa a dar conta de como foi a sua relação
com aquela a que carinhosamente chamou Mãe.
E é no momento que o seu corpo baixa à
terra, que o Poeta tem a noção máxima e precisa da fusão do seu SER com a
própria terra. E é nessa simbiose que vai passar a viver… conjuntamente com
ela, para sempre. Esta simbiose com a Serra é para o poeta semelhante a uma
viagem, que o levará ao infinito e ao mesmo tempo ao retorno do ventre da Serra
Mãe, através dos ciclos de vida que ela própria comporta no seu íntimo e que o
fará regressar sempre às suas origens… tempo circular… de eterno retorno…
Olha ao alto e louva o Céu, cantando,
elevando com a sua voz o perfume dos suaves Matos, ao mesmo tempo que acaricia
a Serra.
Com o seu próprio corpo já misturado com
a terra, vêm – lhe à memória todos os cheiros, que com ele irão fazer essa
viagem: são as Moitas dos Folhados e o Alecrim, que nascem dos seus lábios de
terra, e o Rosmaninho que transporta na sua própria voz…
Nesse dia, até o Céu ébrio de Sol e de
Mar, abraça e conforta a Serra- Mãe.
Carmo Bairrada, Janº- Fevº/2014
“CÂNTICO DE AMOR”
O grito do bufo foi o sinal
De que a noite ia chegar,
E a natureza em seu negrume
Ia trazer à serra a paz do costume…
Mistura de cores, cheiros e sentidos,
E rumores de almas de poetas perdidos.
O murmúrio sussurrante duma fonte...
O cheiro do alecrim vindo do monte
Mistura-se ao cheiro da maresia...
E tudo na serra é poesia!...
Paz, calma, harmonia,
Bálsamo para a alma do poeta,
Alerta, atenta, desperta…
É nesta amálgama de cor
Que faz cantar as aves ao sol-pôr,
Que desce a noite mansamente, calada,
Mas que o poeta pressente ajoelhada,
E a sua alma envolve-se também
Num cântico de amor à Serra - Mãe.
Elita, 27 de Janeiro de 2014
Mas como pode lá ser?
Aqui sob este céu,
Em plena Serra,
Todos seguem o rumo
Do fim do mundo,
Com mais ou menos força,
Tal qual o Criador os criou.
Aqui, é uma bênção
O contraste e a variedade
De seres
Em estreita harmonia
De viveres.
Mas, não foi isso que vi
Na cidade, dos homens,
Onde outra lei é Senhora
E a força das armas é a mais Doutora.
Que felicidade aí pode ter,
Quem só armado pode ser?
Ele fez-nos desarmados,
Como na serra, onde a harmonia
É a de simples ser e livre viver.
Na Cidade, os homens, esses Criadores
de brinquedos…
Parecem semi - deuses
A reinar no império das armas,
Onde a tudo se brinca,
Se compra e se vende,
Incluindo o ouro, corpos e almas
E, tudo vale mais pelo que parece
Do que pelo que é.
É o reino dos humanos, desumanos,
Que, muitas vezes, descem à serra,
Semeando a desarmonia das armas
E plantando o pérfido poder.
Mas, como pode lá ser?
Há só um mundo p’ra viver,
De verdade,
Seja na serra ou na cidade.
E, se o muito pensar criou um duplo
poder
Antes a liberdade de simples Ser
Que a sujeição de mandar
E obedecer.
ACPenedo (Tentando Sebastião da Gama),
Azeitão, 5-11-2013
Quando me sentei naquela pedra
a olhar para o mar,
Nada pensei, nada vi...
Mas oh,
quanto senti...
Não sei bem o que senti...
só sei que senti !
Mercedes Ferrari, 12.11.13
MÃE NATUREZA
Não gosto do frio, fico incomodado
e depois, à chuva, sinto-me molhado!
O vento, é bonito, desfralda bandeiras
mas para o efeito há outras maneiras!
Sem hortas nas costas, aqui na cidade
gostamos do tempo sem tanta humidade!
Não raro pensamos, quando o sol aquece
a praia é que é bom, a gente merece!
O calor faz falta e o sol, bem cuidado,
com conta e medida para o bronzeado!
Já os camponeses, em vilas e aldeias
encaram o tempo com outras ideias.
O frio é benvindo, em certas alturas
e a chuva, bendita, faz falta às
culturas.
Incómoda, a neve, mas à noite às
lareiras
anima e acalma, breve há sementeiras.
O calor e o vento, quando os Deus
mandar,
árvores, flores e frutos vão abençoar!
Chegados os tempos da feliz colheita
não haverá fome, tristeza ou maleita.
Repicam os sinos, festa pelos cantos
o povo agradece, a Deus e aos santos!
A Mãe-Natureza com sábia virtude
premeia ou castiga pela nossa atitude.
Respeito e carinho são os caminhos
certos,
se queremos a Terra para os nossos
netos!
Zé Bairrada
SOMOS.
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“O REFÚGIO DO POETA”
Desce sobre a serra lenta a madrugada
Trazendo o cheiro a resina do pinhal,
Mansamente, ainda orvalhada,
Vem acordar sobre o areal.
E já o sol abre uma estrada prateada
Nas águas do mar mansas serenas…
No rochedo, uma gaivota alvoroçada
Penteia debicando as brancas penas.
Vêm as brancas franjas de espuma
Beijar a areia dourada,
E perante os restos de bruma
Há como que uma imagem imaculada.
Sei lá se consegui descrever
O que sinto por este pedaço de terra!...
Mas bem no fundo do meu ser
Só sei que amo a minha “Serra”.
Elita Guerreiro, 09/12/2013
Todo o tempo, mero instante.
Às vezes pergunto-me p’ra quê perder
tempo
Com muito pensar e escrituras,
Com leituras e mais leituras,
Sobre Deus, o homem e o conhecimento…
O universo é tão vasto e o mundo tão
curto.
Tão longo o tempo e veloz cada momento,
Que dou comigo, perdulário,
Mergulhado na mãe natureza,
A beber, a verdade, da fonte,
Pura água, cristalina e edificante,
A jorrar da profundeza,
Tão sábia e saciante
Que, feliz, me faz todo o tempo parecer
Mero instante.
ACPenedo (na senda de Sebastião da Gama),
Azeitão, 5-11-2013
Abri a janela do meu olhar.
Sobre o lânguido amanhecer,
Que lindos estavam
Os lírios da minha paixão,
O regato orvalhado,
Os pássaros, as flores, o sol...
Tudo andava à minha volta.
Olhei simplesmente,
Não pensava em nada...
As crianças brincavam....
A Natureza acabava de acordar.
Fechei aquela janela e desci.
Abri a porta do meu interior e
Aí sim!
Senti a manhã, tão manhã!...
Os pássaros rodopiavam num bailado,
As flores sorriam nas suas cores matiz,
O sol envergonhado ia aparecendo,
Através dos seus brilhantes raios.
A paleta das cores escorria em mim...
O regato corria alegre e satisfeito,
Saltava todas as pedras do seu caminho,
parecia mesmo uma criança....
Os pássaros vinham em bando
Num bailado sensual e sublime.
Eram lindas as suas penas!
Então comecei a dançar sem parar
Para as flores que me sorriam
Para a grande árvore que me abrigava
Para o sol que me aquecia,
Para o regato de que eu tanto gostava!
Finalmente...
Corri, à procura de do meu EU
Mas não consegui encontrá-lo.
Não valia a pena correr.
A Primavera já tinha tomado conta de
mim...
Carmo
Bairrada
O que somos...
Vida ? Um castelo na areia.
Dura até vir bater o mar
nas muralhas do ser e não ser
levantadas à pressa
alicerces de sonho e prazer
Vida... Entretanto rumo incerto
rida e chorada, cambiantes as cores
sem muito saber pra que lado o timão
com amargas e doces palavras de
amores...
Mas vida, vivida, intensa e sofrida
batalhas perdidas e alegres momentos
sempre na esperança de dias melhores
Até vir a onda lamber devagar,
e arrasar fundamentos e torres e pontes
e flores...
Mercedes Ferrari
QUANDO FOR GRANDE
Se eu algum dia for grande, como grandes
são os sonhos
farei que os outros não sintam os meus receios, medonhos!
Receios, que ao ser tão grande esqueça o
que tenho sido
e nas voragens da posse me sinta como um perdido.
Num deserto imenso e só, perdido e em
desalento
que aqueles que me elevaram me esqueçam, nesse momento.
Estes receios tão grandes que me
avassalam a mente
ao mesmo tempo me impelem a olhar a vida em frente.
É neste ponto da história com a grandeza tão distante
que imploro ao poder divino que ser grande não me mande.
Zé Bairrada
O QUE EU QUERO
PRINCIPALMENTE É QUE VIVAM FELIZES.
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O AMOR DE UM JOGRAL….
Ó amada, minha amada,
Amor do meu coração,
Floresta por desbravar,
Meu regato em turbilhão!...
E ai Deus!...
E ai Deus, se virá cedo!...
Sois sonho e fantasia
De todos meus pensamentos,
Sois também a agonia
Que persegue meus momentos…
Ó amor da minha vida,
Casou comigo a saudade
Nesta vida desvalida
Que não tem continuidade!...
E ai Deus!...
E ai Deus, se virá cedo!...
Desço a rua sem saber
Que estáveis à janela…
Dei de caras sem querer
E levei com a chinela.
Não desisti de vos ver
Mesmo depois da pancada!
Mais vale ser que parecer
E ficastes assustada?...
E ai Deus!..
e ai Deus, se virá cedo!...
[olhando p’ra ela, cantando:]
-Espero por vós na fonte
Bem no fundo do jardim…
Peço que não vos afronte
Este pedido de…mim.
Trazei vestido vermelho
Para que sinta vosso beijo,
A garrafa de verdelho,
Pão, chouriço e algum queijo.
Acenderemos o lume
Para o chouriço assar…
Tendes de abrir o tapume
Para eu poder entrar…
E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...
Não quero de vós mais nada
Do que tendes para me dar,
A não ser a desfolhada
Em vosso jardim ao luar!
Não posso sentir mais forte
No mais fundo do coração…
Se não levar vosso dote,
Ficareis sem meu filão.
E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...
Não oiço vossos passos, amor!
Nem a sombra de vós vejo!...
Que penso eu?... Que horror!
Irei perder vosso beijo?
Meus olhos estão chorando
Lágrimas de amor por vós,
E por aí vou andando
Sem saber novas de nós…
Vou partir para bem longe,
Ó minha amada Infanta!...
Penso já tornar-me monge,
Depois desta grande tampa…
E ai Deus!...
e ai Deus, se virá cedo!...
Carmo Bairrada, 01.12.2013
Preciso do mundo em mim.
Se não cantasse…
não ouviria o Universo
em mim.
Seria como um cego
Sem o eco do jardim…
Se não escrevesse…
não pensaria;
não poderia juntar dois e dois;
não saberia do antes e do depois…
… E de incomunhão enlouqueceria.
Preciso do mundo em mim.
ACPenedo, (texto inspirado na leitura do poema de Sebastião da
Gama: Elegia para a minha campa, do livro Serra -Mãe), 14-01-014
“O POETA E O UNIVERSO”
Abro as mãos e nelas tenho
Um mundo que é só meu,
Que só eu posso sentir.
E o adulto que sou eu
Com um pouco de engenho,
Dá lugar à criança
Cheia de sonhos e esperança
Que vê o mundo a sorrir.
Sorrio da fantasia
Desse mundo de ilusão,
Tão belo e cheio de alegria
Que cabe na minha mão…
E nem me perco a pensar
Se há mais terra que mar,
Porque todo o Universo
É o lugar onde pertenço.
Elita Guerreiro, 18-11-2013
“Era assim… Mas…”
Era assim
Tudo tinha um
ar morno e sombrio
gente de
óculos escuros mesmo sol faltando
de negro
vestidas as mulheres tristonhas
risos sem
eco, velados, tremendo
Saíam
escondidos, rasavam muralhas
calavam
segredos e palavras mil
olhares de
soslaio, ombros encolhidos
Mas...
Foram
multidões de fardas cinzentas
à rua mostrar
as cores da bandeira
e dizer às
gentes como ser feliz
como andar na
rua de cabeça erguida
sorrindo ao
redor
de saias
rodadas e cabelo ao vento
uma canção
viva saindo do peito
Um cravo
vermelho no canto da boca
Mercedes Ferrari,
25.04.2014
O JARDINEIRO
Não me parece
que a vida possa um dia ser diferente
mas é bom
fazer por isso, vou dizendo a toda a gente.
Creio mesmo
que o amor eterno, faz parte da fantasia
de um ser
humano que busca, em permanência, a alegria.
Se eu fosse
um bom jardineiro, ajeitava o teu cabelo
no meio punha
uma flor e cuidava-a com desvelo.
Nos jardins
da tua pele inventava um paraíso
sem frutos
pecaminosos nem anjos a dar por isso.
Nas ruas da
desventura buscava mundos perdidos
percorria, de
mãos dadas, os seus recantos floridos.
Nesses
regatos discretos que banham flores bravias
meus pés
neles mergulhava para apagar melancolias.
Em minha
mente a alegria de pensar ter encontrado
recantos de
amor e paz em meios nunca imaginados.
No limite, a
felicidade, de os outros fazer sorrir
e, no fundo
no coração, poder sonhar sem dormir!
Zé Bairrada
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