quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

ITINERANDO III (pela Serra - Mãe), por António Penedo, Elita Guerreiro e Carmo Bairrada

 Mas como pode lá ser?

Aqui sob este céu,
Em plena Serra,
Todos seguem o rumo
Do fim do mundo,
Com mais ou menos força,
Tal qual o Criador os criou.

Aqui, é uma bênção
O contraste e a variedade
De seres
Em estreita harmonia
De viveres.
Mas, não foi isso que vi
Na cidade, dos homens,
Onde outra lei é Senhora
E a força das armas é a mais Doutora.

Que felicidade aí pode ter,
Quem só armado pode ser?
Ele fez-nos desarmados,
Como na serra, onde a harmonia
É a de simples ser e livre viver.

Na Cidade, os homens, esses Criadores
de brinquedos…
Parecem semi-deuses
A reinar no império das armas,
Onde a tudo se brinca,
Se compra e se vende,
Incluindo o ouro, corpos e almas
E, tudo vale mais pelo que parece
Do que pelo que é.

É o reino dos humanos, desumanos,
Que, muitas vezes, descem à serra,
Semeando a desarmonia das armas
E plantando o pérfido poder.

Mas, como pode lá ser?
Há só um mundo p’ra viver,
De verdade,
Seja na serra ou na cidade.
E, se o muito pensar criou um duplo poder
Antes a liberdade de simples Ser
Que a sujeição de mandar
E obedecer.


ACPenedo
(Tentando Sebastião da Gama)
Az. 5-11-2013


“O REFUGIO DO POETA”

Desce sobre a serra lenta a madrugada
Trazendo o cheiro a resina do pinhal,
Mansamente, ainda orvalhada,
Vem acordar sobre o areal.

E já o sol abre uma estrada prateada
Nas águas do mar mansas serenas…
No rochedo, uma gaivota alvoroçada
Penteia debicando as brancas penas.

Vêm as brancas franjas de espuma
Beijar a areia dourada,
E perante os restos de bruma
Há como que uma imagem imaculada.

Sei lá se consegui descrever
O que sinto por este pedaço de terra!...
Mas bem no fundo do meu ser
Só sei que amo a minha “Serra”.

Elita Guerreiro

09/12/2013



“CÂNTICO DE AMOR”


O grito do bufo foi o sinal
De que a noite ia chegar,
E a natureza em seu negrume
Ia trazer à serra a paz do costume…
Mistura de cores, cheiros e sentidos,
E rumores de almas de poetas perdidos.

  
O murmúrio sussurrante duma fonte...
O cheiro do alecrim vindo do monte
Mistura-se ao cheiro da maresia...
E tudo na serra é poesia!...
Paz, calma, harmonia,
Bálsamo para a alma do poeta,
Alerta, atenta, desperta…



É nesta amálgama de cor
Que faz cantar as aves ao sol-pôr,
Que desce a noite mansamente, calada,
Mas que o poeta pressente ajoelhada,
E a sua alma envolve-se também
Num cântico de amor à Serra - Mãe.



 Elita

27 de Janeiro de 2014


Num breve Momento… A Clarividência

Breves Apontamentos sobre a “Elegia para a minha campa” de Sebastião da Gama


Eis que o Bufo solta o seu grito na serenidade do anoitecer.
Nesse instante, assim o imagino, o Poeta acorda e propõe-se escrever a poesia:- Elegia para a minha Campa”.

 “Pulvis es; pulvis eris” (Génesis 3.19)

A sua mente torna-se clara e límpida como a água que corre na fonte. Começa a dar conta de como foi a sua relação com aquela a que carinhosamente chamou Mãe.

E é no momento que o seu corpo baixa à terra, que o Poeta tem a noção máxima e precisa da fusão do seu SER com a própria terra. E é nessa simbiose que vai passar a viver… conjuntamente com ela, para sempre. Esta simbiose com a Serra é para o poeta semelhante a uma viagem, que o levará ao infinito e ao mesmo tempo ao retorno do ventre da Serra Mãe, através dos ciclos de vida que ela própria comporta no seu íntimo e que o fará regressar sempre às suas origens… tempo circular… de eterno retorno…

Olha ao alto e louva o Céu, cantando, elevando com a sua voz o perfume dos suaves Matos, ao mesmo tempo que acaricia a Serra.
Com o seu próprio corpo já misturado com a terra, vêm –lhe à memória todos os cheiros, que com ele irão fazer essa viagem: são as Moitas dos Folhados e o Alecrim, que nascem dos seus lábios de terra, e o Rosmaninho que transporta na sua própria voz…




Nesse dia, até o Céu ébrio de Sol e de Mar, abraça e conforta a Serra- Mãe.

Carmo Bairrada, Janº- Fevº/2014








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