Aqui sob este céu,
Em plena Serra,
Todos seguem o rumo
Do fim do mundo,
Com mais ou menos força,
Tal qual o Criador os criou.
Aqui, é uma bênção
O contraste e a variedade
De seres
Em estreita harmonia
Mas, não foi isso que vi
Na cidade, dos homens,
Onde outra lei é Senhora
E a força das armas é a mais Doutora.
Que felicidade aí pode ter,
Quem só armado pode ser?
Ele fez-nos desarmados,
Como na serra, onde a harmonia
É a de simples ser e livre viver.
de brinquedos…
Parecem semi-deuses
A reinar no império das armas,
Onde a tudo se brinca,
Se compra e se vende,
Incluindo o ouro, corpos e almas
E, tudo vale mais pelo que parece
Do que pelo que é.
É o reino dos humanos, desumanos,
Que, muitas vezes, descem à serra,
Semeando a desarmonia das armas
E plantando o pérfido poder.
Mas, como pode lá ser?
Há só um mundo p’ra viver,
De verdade,
Seja na serra ou na cidade.
E, se o muito pensar criou um duplo poder
Antes a liberdade de simples Ser
Que a sujeição de mandar
E obedecer.
ACPenedo
(Tentando Sebastião da Gama)
Az. 5-11-2013
“O REFUGIO DO POETA”
Desce sobre a serra lenta
a madrugada
Mansamente, ainda orvalhada,
Vem acordar sobre o areal.
E já o sol abre uma
estrada prateada
Nas águas do mar mansas serenas…
No rochedo, uma gaivota alvoroçada
Penteia debicando as
brancas penas.
Vêm as brancas franjas de
espuma
Beijar a areia dourada,
E perante os restos de
bruma
Há como que uma imagem
imaculada.
Sei lá se consegui
descrever
O que sinto por este
pedaço de terra!...
Mas bem no fundo do meu
ser
Só sei que amo a minha
“Serra”.
Elita Guerreiro
09/12/2013
“CÂNTICO DE AMOR”
O
grito do bufo foi o sinal
De
que a noite ia chegar,
E
a natureza em seu negrume
Ia
trazer à serra a paz do costume…
Mistura
de cores, cheiros e sentidos,
E
rumores de almas de poetas perdidos.
O
murmúrio sussurrante duma fonte...
O
cheiro do alecrim vindo do monte
Mistura-se
ao cheiro da maresia...
E
tudo na serra é poesia!...
Paz,
calma, harmonia,
Bálsamo
para a alma do poeta,
Alerta,
atenta, desperta…
É nesta amálgama de cor
Que faz cantar as aves ao sol-pôr,
Que desce a noite mansamente, calada,
Mas que o poeta pressente ajoelhada,
E a sua alma envolve-se também
Num cântico de amor à Serra - Mãe.
Elita
27 de
Janeiro de 2014
Num breve Momento… A Clarividência
Breves
Apontamentos sobre a “Elegia para a minha campa” de Sebastião da
Gama
Eis que o Bufo solta o seu
grito na serenidade do anoitecer.
Nesse instante, assim o imagino,
o Poeta acorda e propõe-se escrever a poesia:- “Elegia para a minha Campa”.
“Pulvis es; pulvis eris” (Génesis 3.19)
A sua mente torna-se clara
e límpida como a água que corre na fonte. Começa a dar conta de como foi a sua
relação com aquela a que carinhosamente chamou Mãe.
E é no momento que o seu
corpo baixa à terra, que o Poeta tem a noção máxima e precisa da fusão do seu SER
com a própria terra. E é nessa simbiose que vai passar a viver… conjuntamente com
ela, para sempre. Esta simbiose com a Serra é
para o poeta semelhante a uma viagem, que o levará ao infinito e ao mesmo tempo
ao retorno do ventre da Serra Mãe, através dos ciclos de vida que ela própria comporta
no seu íntimo e que o fará regressar sempre às suas origens… tempo circular… de
eterno retorno…
Olha ao alto e louva o Céu,
cantando, elevando com a sua voz o perfume dos suaves Matos, ao mesmo tempo que
acaricia a Serra.
Com o seu próprio corpo já
misturado com a terra, vêm –lhe à memória todos os cheiros, que com ele irão
fazer essa viagem: são as Moitas dos Folhados e o Alecrim, que nascem dos seus
lábios de terra, e o Rosmaninho que transporta na sua própria voz…
Nesse dia, até o Céu ébrio
de Sol e de Mar, abraça e conforta a Serra- Mãe.
Carmo Bairrada, Janº- Fevº/2014
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