Poemas que li
Ana Machete - 2012
Tantos poemas eu li,
com o tema liberdade.
a todos li e reli,
todos falavam verdade.
Li Bocage, li Ary.
Uns modernos, outros não.
O que trago hoje aqui,
É de António Gedeão.
Poema da morte aparente - António Gedeão – 1967
Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.
A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
Recolha de poemas sobre o tema Liberdade, como sugestão para leituras na sessão comemorativa do 25 de Abril de 2012
1 - Liberdade onde estás? – (Bocage)
Liberdade onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a Hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh!, venha... Oh!, venha e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória ,e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!
2 - Ode à Paz - Natália Correia
in O Sol nas Noites e o Luar nos Dias, II
Pelas aves que voam no olhar de uma criança,
Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza,
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança,
pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia,
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego,
dos pastos,
Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria,
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes,
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos,
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes,
Pelos aromas maduros de suaves outonos,
Pela futura manhã dos grandes transparentes,
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra,
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra,
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz,
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira,
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz,
Abre as portas da História,
deixa passar a Vida!
3 - Liberdade - Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
Sol doira
Sem literatura
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como o tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quanto há bruma,
Esperar por D.Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
Mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
4 - Liberdade - Miguel Torga, in 'Diário XII'
— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.
— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.
Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.
5 - Conquista - Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
6 – Quem a tem... - (Jorge de Sena, Poesia II)
Não hei-de morrer sem saber
Qual a cor da liberdade.
Eu não posso senão ser
desta terra em que nasci.
Embora ao mundo pertença
e sempre a verdade vença,
qual será ser livre aqui,
não hei-de morrer sem saber.
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8 - Liberdade - (Manuel Alegre, A Praça da Canção)
Sobre esta página escrevo
teu nome que no peito trago escrito laranja verde limão
amargo e doce o teu nome.
Sobre esta página escrevo
o teu nome de muitos nomes feito água e fogo lenha vento
primavera pátria exílio.
Teu nome onde exilado habito e canto mais do que nome: navio onde já fui marinheiro
naufragado no teu nome.
Sobre esta página escrevo o teu nome: tempestade.
E mais do que nome: sangue. Amor e morte. Navio.
Esta chama ateada no meu peito
por quem morro por quem vivo este nome rosa e cardo
por quen livre sou cativo.
Sobre esta página escrevo o
teu nome: liberdade.
9 - Retrato do Herói - Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias'
Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.
Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.
Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.
Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.
Este dia é um canteiro
com flores todo o ano
e veleiros lá ao largo
navegando a todo o pano.
E assim se lembra outro dia febril
que em tempos mudou a história
numa madrugada de Abril,
quando os meninos de hoje
ainda não tinham nascido
e a nossa liberdade
era um fruto prometido,
tantas vezes proibido,
que tinha o sabor secreto
da esperança e do afecto
e dos amigos todos juntos
debaixo do mesmo tecto.
11 - Cinco Quadras - António Aleixo
Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.
Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.
Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.
Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!
Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.
Ontem apenas
fomos a voz sufocada
dum povo a dizer não quero;
fomos os bobos-do-rei
mastigando desespero.
Ontem apenas
fomos o povo a chorar
na sarjeta dos que, à força,
ultrajaram e venderam
esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
assas de vento,
coração de mar.
Como ela, somos livres,
somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
grito vermelho
num campo qualquer.
Como ela somos livres,
somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
não vou combater".
Como ela, somos livres,
somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
parte à conquista
do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
não voltaremos atrás.
POEMAS DE ABRIL (por Artur Vaz)
1. LIBERDADE
Cerro os olhos
e vejo-me na imensidão
da minha mente.
Sinto que não estou a sonhar,
aquilo em que penso,
não é em vão.
É fogo ardente
no meu corpo em chama,
desejo de partir
e em teus braços,
aportar.
Em ti, me revejo
filho de um povo libertado,
pátria minha florida,
terra de Abril,
semente de vida
e de esperança,
num grão de trio,
desejado.
2. PORTUGAL
Pelas minhas veias
corre o meu país.
Nos meus braços
nascem as suas pontes.
Amores que se semeiam
em fecundos ventres,
que ao parir
dão vida e alegria.
És Sol, na madrugada.
Cravos vermelhos
sobre verde e esperança,
mar de gente, que fervilha
na liberdade,
que se alcança.
És progresso
e futuro,
que se deseja.
A certeza do querer
e da entrega.
Bandeira que se agita
à memória do tempo,
na razão de se dizer,
que somos povo,
e por isso, se respeita.
3. RAIZ DE ABRIL
Hoje tudo é diferente.
Já nem o Sol
aquece meu coração
de cravos vermelhos.
A tristeza nostálgica
Da madrugada de Abril
apodera-se de mim.
Hoje tudo é diferente,
Já não se ouvem as canções
da Liberdade.
Grândola Vila Morena
E Depois do Adeus.
As marés de povo nas ruas
deram lugar à incerteza.
As portas de Abril fecharam-se
e as flores deixaram
de cheirar a liberdade.
Hoje tudo é diferente...
é triste, já não é o mesmo.
Aquele em que o povo
marchava em Maio,
em cachões de alegria.
Hoje tudo é diferente...
Mas dentro de mim
Abril continua a renascer.
porque é povo-raíz
e sempre há-de vencer.
Hoje tudo é diferente...
4. REQUIEM A ABRIL
Se ainda fosse Abril,
era tempo de festa e alegria,
de cravos vermelhos
e de vivas à Liberdade.
Se cheirasse a Abril
o povo não andava triste
e cantava pelas ruas.
A noite e o medo
não invadiam as madrugadas.
Se agora fosse Abril,
eu cantaria de novo,
Grândola Vila Morena.
Mas, não!
Nesta “abrilada”,
Abril já não tem cravos.
Artur Vaz
POEMAS sobre a LIBERDADE ( José Bairrada)
1. QUE POVO
É ESTE, QUE POVO
Em tempos de grã
penúria, recorro às minhas memórias
e antevendo o futuro,
vejo um passado sem glória.
Tento rever tempos idos, percorro os meus ancestrais
na tentação de
encontrar motivos de orgulhos tais.
Busco lugar em que
possa situar meu nome em história
dum povo de navegantes, mareantes de vã glória.
Recorro à ciência
escrita, mas os livros não respondem
e nesta busca sem fim
toda a verdade me escondem.
Tento situar-me,
então, neste mundo em que vivemos
das gentes releio a
história, aquela em que nos revemos.
Nobreza ?... mas o meu
sangue é vermelho…
ao clero?... poderia ter pertencido…
povo … não resta
outra escolha, sinto-me bem, não vencido
!
Dizem que tenho
direitos, liberdades, garantias
pão, justiça, educação, respeito pelos valores
paz, tolerância e que
mais?... é pedir muito, senhores?
Se mesmo assim não
resulte, ninguém ouve estes lamentos
vou gritar o meu sentir, nem que seja aos quatro ventos!
Zeca/out/2011
2. FÔRA EU UM ESPECIALISTA …
Fôra eu um especialista, tal qual outros também são
talvez até já tivesse
lugar em qualquer estação
de rádio, televisão, mesmo na imprensa, que tal ?
comentador residente, não me ia
nada mal !
Entenderia a Política à luz da
especialidade
quiçá conseguia ver onde é que pára a verdade.
As Finanças, sem segredo, em tão douta opinião
seriam banalidades na minha compreensão.
Também a Economia, farta de ser comentada
tratá-la-ia por tu, para mim é tudo ou nada!
Gestão bancária, ao que penso, é assunto bem banal
garanto um lugar cativo no Banco
de Portugal!
Mas noutra área, a
Saúde, vou ter de me atualizar
pois é aí que as doenças vão,
certamente, aumentar!
No que respeita à Justiça, os trâmites conheço mal
Para a Agricultura, em crise, podia
dar bons conselhos
com base no tal saber que vim colhendo dos velhos .
As pescas, já disse alguém, vão ter no mar seu sustento
mas sem barcos e sem homens, aonde
ir buscar o alento?
Desporto e suas vertentes, incluia-os no meu meu rol
mas para me manter na moda, só falava em futebol.
A Cultura, tão esquecida, era
parte do espectáculo
comigo a falar dela em português bem vernáculo !
Solidariedade social, tão viva e assaz lembrada
deixava passar uns tempos, tem a sorte anunciada.
Mesmo noutras disciplinas não me
faria rogado
conduziria o país, como
sempre, a nenhum lado.
Prometo, como analista, em assuntos tão diversos
analisar os politicos sempre através dos meus versos.
Um perito tal qual eu, faz falta nesta emergência
assino já o contrato, contem com a minha experiência!
Zeca/Dez/2012
3. NO REINO DAS BRUXAS
O reino das bruxas e das fadas que o são
está em alvoroço para a
grande eleição.
A rainha antiga termina
o reinado
tem duzentos anos,
cumpriu o mandado.
Em sua longa vida não
fez descendentes
nunca aproveitou,
cairam-lhe os dentes.
As duas candidatas que
ainda estão em prova
prometem mais riqueza,
poder, vida nova!
Uma, a boa fada, bela quanto as flores
jovem, sem experiência,
mas desperta amores.
Outra, a bruxa má,
velha e bem batida
o eleitor hesita, faz contas à vida.
O mago Batista bem
breve bradou:
bravo, bela fada, por
mim já ganhou!
O bruxo Bernardo, da
bruxa devoto
fez boa campanha e
garantiu-lhe o voto!
Contados os nulos, os
prós e os contra
a bruxa Magdala viu nisso
uma afronta!
E a fada Florência,
florida que estava
breve esquece a pose e
aos ventos bradava:
Querem lá ver esta,
bruxa de segunda
usurpa-me o trono, nem
lá põe a bunda!
Quando o resultado estava
meio por meio,
sem nulos nem brancos,
o futuro era feio.
As forças envolvidas, sem ver solução,
pela meia- noite estão em reunião.
Então de repente, uma
luz brilhante
bruxuleia, ao longe,
por um breve instante.
A magna assembleia, em
transe profundo
cala e
interroga-se: sempre acaba o mundo?
Como por magia surge
uma mensagem
expressa nas nuvens,
com toda a coragem:
Pensem bem no caso,
e tirem a lição
porque é que não fazem
uma coligação?
No reino das bruxas a
música é festiva
viva a fada boa, a
bruxa má que viva!
Por duzentos anos vão
ter paz e pão
partilham o reino … em
coligação.
ZECA/JAN/2012
O vento da
Liberdade
Agitou minha bandeira,
Feita de sinceridade
E comoção verdadeira.
E comoção verdadeira.
E votei em euforia,
Tudo isto foi cenário
Para o muito que viria.
Tudo isto foi cenário
Para o muito que viria.
Cantei com Zeca e Ary
Vibrei com as multidões,
E do muito que dei de mim
Restam as recordações
E do muito que dei de mim
Restam as recordações
Dizem-na consolidada,
Mas eu continuo desperta.
A Liberdade é sagrada,
E uma grande porta aberta…
A Liberdade é sagrada,
E uma grande porta aberta…
Então peço a todos vós
Com toda a minha amizade,
Um brinde a todos nós,
Com toda a minha amizade,
Um brinde a todos nós,
Pela Paz, pela Liberdade
ELITA GUERREIRO 1/2/2011
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