domingo, 7 de fevereiro de 2016

Carnaval


Ó Carnaval chocalheiro
Trazes sol envergonhado
Vieste em Fevereiro
Mais cedo, mas não molhado.

Está frio de rachar
Vão sambando raparigas
A folia está no ar
Corre o frio p’las barrigas.

Ó Carnaval folião
Não tenhas medo de nada
Pareces um alazão
Correndo com a manada.

P’las ruas vais desfilando
No teu ritmo acelerado
Levas as gentes bailando
Sem saberem p’ra que lado.

Nestes dias tu és Rei
As honras são todas tuas
Goza bem que não há lei
Podem dançar p’las ruas.

Saltam muito os foliões
Deitando serpentinas
Passam carros sem travões
Só p’ra verem as meninas

Que aos bum- buns vão rodando
Já não há pudor nenhum
Todas elas vão cantando
“Toma lá qu'é p’ró jejum”.

Bamboleiam sem parar
Correm tudo lés-a-lés
Quando a festa acabar
Estão à rasca dos pés.

Andam velhos, andam novos
Bailando para aquecer
Atiram-lhe tantos ovos
Nunca mais irão esquecer.

Alegria tão estarola
Não existe outra no mundo
Traz de lá a cervejola
P’ra eu dançar mais a fundo.

Tudo aqui é permitido
Até no baile apertar
Venha nú, venha vestido
Todos levam que contar.

A máscara já caiu
Acabou-se o rebolar
O Carnaval já partiu
Para o ano há-de voltar

Azeitão, 04-02-2016

Carmo Bairrada
“CARNAVAL”

Fala a Máscara Feminina:

Ó Máscara!
Olá, quem és tu?
Tens um fato igual ao meu,
Podemos fazer um par.

Ó Máscara!
Volta-te para mim,
Deixa-me ver os teus olhos…
Parecem-me serenos,
Como o ribeiro, que corre
Debaixo da ponte.

Ó Máscara!
Vamos até lá ver os foliões,
A passear no jardim
Felizes e contentes.

Ó Máscara!
De repente, pareces triste…
Não gostas da minha companhia?
Sinto que algo se passa,
Não consigo perceber o quê.


Ó Máscara!
Olha o sol que já nasceu,
Brilha e aquece a alma
Dos foliões e aquece a tua também.

Ó Máscara!
Hoje é o dia principal.
Os Corsos desfilam,
Qual deles o mais bonito….
Batalhas de flores, confettis,
Serpentinas, papelinhos,
Lançados sabe-se lá de onde…
O público espera ansioso
Nas ruas por esta ocasião,
Para também participar.


Ó Máscara!
Os Trapalhões são tão engraçados
Metem-se com toda a gente e
Alguns chegam a ser atrevidos.
É Carnaval, ninguém leva a mal.

Ó Máscara!
Disfarças-te só para observar
O que te rodeia?
Tu que conheces estas ruas e ruelas,
Procuras alguém?
Se estás só, de onde vieste?
Tens uma voz bonita e calma,
Quantos anos tens?
Gostava tanto de ver o teu rosto…

A Máscara Masculina fala:

Peço desculpa, mas não vou
Mostrar-te o meu rosto.
Também gostaria de ver o teu,
Tens uma voz de menina, mas já não és.
Sabes tão bem como eu,
Que nos idos anos 40/50
Do Séc. passado, o Carnaval era tal e
Qual o que me vinhas a contar,
Desde que me encontraste.
E hoje?


Pensa um pouco!
Achas que este Carnaval de agora
Tem as nossas raízes e as nossas tradições,
Como aquelas em que tu e eu tanto brincámos?

Pois é… minha amiga.
A moda, agora, é vir tudo de fora.
Por isso mesmo, ando vagueando por aí,
Mudo e quedo, que nem um penedo.
É quase noite! Nem dei pelo tempo passar,
Tenho que regressar à Terra do Nunca…



Ó Máscara!
Realmente! Tens razão! Como tudo muda.
O Mundo gira, gira sem darmos por isso.
Olha! Aproveito a boleia e vou contigo,
Porque o meu caminho é o teu.
Gostei imenso de te conhecer.
Pode ser, que nos encontremos
Noutros Carnavais.
Quem sabe?

Azeitão 13-02-2018

Carmo Bairrada

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