Quando eu era pequena,
minha Mãe tinha o cuidado de me ensinar tudo o que ela por sua própria
sabedoria me transmitia com muito amor e carinho. Apesar de ser uma mulher
extraordinária, era “analfabética”, como se dizia.
- Toma sempre cuidado com
o mal!
Fiquei calada sem perceber
o que queria ela dizer com aquilo.
Como fiquei tempo demais
sem dizer nada, pois era uma maria-rapaz, ela estranhou e perguntou:
- Por acaso ouviste o que
te disse?
- Ouvi sim, Mãe, mas não
entendi onde queria chegar:
- Pois então, eu explico-
te :
- Tens que ser uma raposa
astuta, forte, sempre atenta a tudo o que gira à tua volta! Só assim te salvarás dos perigos que te
rodeiam. Nunca te esqueças que o mal ou o bem podem assumir diversas formas de
o ser.
Assim, gostaria que tu
quando fores mais velha, ou seja, uma jovem com cinco ou seis anos a mais, te apercebas
daquilo te ensino agora, porque eu não duro para sempre.
- Está bem, Mãe, continue, diga lá o que tem para me dizer acerca dessa
tal raposa!
- Vê lá se me entendes! : o ser
raposa é de facto estarmos aptos a resolver coisas difíceis,
que passam por nós, com mais
facilidade do que aqueles, que se fazem de sábios, que nos rodeiam , aos quais eu chamo “os Corvos”, aquelas grandes aves com uma cor preta muito especial,
que passam e repassam sobre as nossas cabeças, esperando que possamos cair em
desgraça para sermos despojados de todos os nossos sentimentos, atitudes e
consciência.
São terríveis os Corvos:
deixa-os passar, deixa-os voar para bem longe de ti, para que não caias nas
tentações demoníacas das suas garras. Por isso te digo, mais vale termos sempre um pé atrás, do que cair no canto do cisne.
Percebeste agora o que eu
te quis dizer?
- É verdade Mãe , sendo
assim, creio que aprendi a lição que
me acabas de dar. Farei dela um pilar da
minha formação para o futuro “o
tal que o povo diz que é negro”. Que analogia esta, Mãe!
- Beijo-te com todo o amor
que tenho por ti e peço a tua longevidade, para que quando algum Corvo se
cruzar no meu caminho , e eu tiver de fazer
o que deve ser feito, fiques de certo orgulhosa, desta tonta filha, que hoje só tem quinze anos.
Bem-hajas, por tudo o que fizeste e me ensinaste !
Beijos para ti Mãe , onde quer que estejas. Abençoada
pelo teu nome
Felizbela.
Azeitão 07-10-2014
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