sábado, 1 de março de 2014

ITINERANDO IV (a Sebastião da Gama), por Artur Vaz, Carmo Bairrada, Mercedes Ferrari, Nélida Silva

A SEBASTIÃO DA GAMA

Servo de Deus,
Poeta da natureza.
Tu serás sempre
anjo ancorado
na Serra-Mãe.

Terra que tu beijaste
e que por ti foi cantada,
nos poemas que deixaste
na obra inacabada.
Tu serás sempre uma voz
Do Amor e da Liberdade,
na tua nova morada.
Poeta da natureza
a Távola, por ti criada.
Foste o arauto,
e a voz da Arrábida.
Campo Aberto e Cabo da Boa Esperança.
Pelo sonho, tu seguiste,
entre estevas e flores,
num supremo querer divino
em férteis e encantados amores.

Foste Mar-Azul
memorial do teu povo,
êxtase e presença espiritual.
Tantas vezes te chamaram louco.
deixa lá isso!
em tua defesa...
estão os teus cânticos.
Os poetas, esses nunca morrem,
enquanto houver poesia, serão imortais.

Porque tu, Sebastião da Gama,
nesta encruzilhada da Vida
foste e serás,
como Camões, Bocage e Pessoa,
um poeta genial.

 Artur Vaz

À SERRA E AO POETA



Porque choram os meus olhos?

Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?

Gosto de caminhar por ti, ó Serra!
Gosto das árvores retorcidas, caladas,
Gosto dos pássaros que por elas esvoaçam de ramo em ramo
Quais crianças alegres e felizes.
Gosto das pedras que choram doridas de tantos pés que as pisam,
Gosto das flores e frutos coloridos que desabrocham em teu redor.

Porque choram os meus olhos?
Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?

 

 






És um legado longínquo,
Já nem sei contar teus anos...
Continuam a passar por ti as Estações:
-São as Primaveras encantadoras e frescas
Que fazem despertar em ti a Natureza;
-São os Estios, verões quentes e sensuais,
que te aquecem com os seus raios de sol;
-São os Outonos que despenteiam as árvores das suas folhas
E que tornam dourados os teus contornos;
-Finalmente, os Invernos longos com seus ventos agrestes
E chuvas copiosas, que mais parecem rios que na sua correria
Louca serpenteiam o teu recôndito corpo.


Porque choram os meus olhos?
Porque me doem meus pés?
Porque gosto dos teus silêncios?

Continuo a dar os meus passos cansados
ao longo dos caminhos desta Serra.
Penso em ti, ó Poeta
Que tão novo nos deixaste,
Com tanto para repartir.
Só agora te conheci.
Estou a despertar para a tua poesia...



Foste filho desta Serra!
Revejo-te nesta paisagem do Deus Criador.
Talvez por isso estás sempre presente neste lugar.
A tua poesia revela-se no o amor místico que tinhas a esta Mãe
Que te deu inspiração e te embalou nos seus braços de mulher,
E te Fez o Menino-Homem que do seu ventre nasceu.
- A esse sentimento mútuo poderíamos chamar catarse;
- EU (poeta)sou TU (serra) e TU és EU -
É isto "o concriar", que a filosofia nos ensina.
A fusão plena e total do Um com o Outro. -

Assim, acabei por descobrir,
O TU que foste e o EU da tua Serra,
Que é um espaço vivo para todos nós.





Agora sei, ó Serra,
Porque choravam os meus olhos
Porque gostava dos teus silêncios....




Porque agora aprendi a gostar
Do teu filho, do teu poeta.



Foi para ti Serra - Mãe e para o Poeta Sebastião da Gama
que aqui deixo estas palavras

em jeito de Homenagem.

Carmo Bairrada


INSPIRAÇÕES

(A PROPÓSITO DE “ELEGIA PARA A MINHA CAMPA”
De Sebastião da Gama)


Uma voz, um grito de paixão
Uma obsessão sem fim
Por esta serra que chamas de mãe
Como se das suas entranhas
Tivesses sido arrancado
E lá desejasses voltar,
 com todas as tuas forças.


Ser poeta permitiu-te declarar essa paixão
Mais e mais, sempre e sempre!


Oh, hélas, tão cedo lá voltaste,
Para onde querias ir
E nos deixaste
Órfãos da tua poesia
Órfãos da tua serra,Onde rastejamos à tua procura...

Mercedes Ferrari, Janº- fevº / 2014


Da Paisagem à Serra

Poeta dos nossos tempos
Grande poeta humanista
Toda a sua vida dedicou
 À Serra Mãe e à poesia mística

A Serra foi seu amor
Como de uma mãe se tratasse
Viveu-a em todo o esplendor
Como se da dor se libertasse

Sonhador e pensador
Em tudo sentia a poesia
Desde o murmúrio das fontes
Ao suave sussurro da maresia


Aqui  viveu, foi feliz
Fazendo o que mais gostava
Cantando sua Serra - Mãe,
Aquela que tanto amava

A Serra era sua paisagem
Seu ambiente natural
Aqui se sentia em paz
Tentando esquecer seu mal

Era um viver em beleza
Na serra que o abrigava
Contemplando aquela natureza
Era assim que ele se realizava.

Dedicou-lhe toda uma vida
E suas maravilhas explorou,
Conhecia-a tão intensamente
Que sua beleza exaltou...

Exaltou serras e montes
Regatos, matas e fontes,
Como todos os recantos conhecia
Era na Serra e para ela que vivia.


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