sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

A Princesa Pele-de-Burro

























 Pele de Burro. Um conto para Adultos  adaptado a  Crianças

Era uma vez… uma Rainha que estava a morrer e fez prometer ao rei que deveria casar-se, novamente, após a sua morte, mas tinha uma condição: a escolhida teria de ser mais linda que ela.

O tempo foi passando e o Rei reparou que a filha, a princesa, se tornara numa linda mulher. Doido com a sua beleza, propôs-lhe casamento.
Para evitar que tal acontecesse, pediu a seu pai, o Rei, que lhe desse um vestido que tivesse as cores do ar, da lua e do sol, bem como uma pele de burro e algumas moedas.
Quando o seu pedido se tornou realidade, fugiu do palácio e foi viver numa
quinta bem longe do palácio.

Um dia passou pela quinta um príncipe. que espreitou pelo buraco duma porta velha onde estava a princesa, e ficou apaixonado pelo que viu. A princesa estava vestida com um lindo vestido


Passaram vários dias e o príncipe adoeceu, e pediu um bolo feito pela Pele de Burro que, ao fazer a massa para o tal bolo, deixou cair dentro dele um anel.
Então o Príncipe pensou que, só casaria com a mulher a quem servisse o anel, que vinha dentro do bolo e só à Pele de Burro serviu.

O seu pai tinha voltado a casar, e acabou por aprovar o casamento de sua filha, conhecida como “Pele de Burro” , depois de tanta prova superada: o disfarce com a “pele de burro” e os dos 3 “disfarces-identidades” que os 3 vestidos sugeriam e simbolizavam.

Moral da História - - a princesa demonstrou que todos os obstáculos que encontrou no seu caminho, após a fuga do palácio, não foram suficientes. para desistir do seu verdadeiro desejo de ser feliz.


Azeitão, 23-01-2015
Carmo Bairrada
Lisboa Menina…Menina

LISBOA Menina, bonita, airosa,
Cheia de sol e de sombras,
De pregões, escadinhas,
De cheiros agridoces das raparigas,
Da maresia do Tejo;
Dos cheiros das rosas nas latadas,
De rosmaninho e alecrim,
Das belas castanhas assadas,
Quentes e boas!...

Era noite! Lisboa Menina regressava a casa, passando pelas estreitas ruas das vielas, quando ouve cantar e tocar. Pôs o xaile pela cabeça,  subiu mais depressa a viela escura e foi encostar-se à porta de onde vinha o som.

O silêncio era total. Cantava-se o Fado. É disto que toda a gente gosta e que os turistas tanto apreciam. Esteve até ao fim: a sala tinha somente as luzes tremeluzentes das velas espalhadas pelas mesas.
De repente, uma explosão de alegria acontece: batem-se palmas, assobia-se, dizem-se ditotes. Nas mesas há copos e jarros de vinho… vinho tinto, nos pratos chouriço assado, pão, e nas tigelas fumega o caldo verde.

Ao fundo da sala, a um canto, alguém estava sentado, sempre calado, ninguém dava por ele. Era conhecido pelo “Embuçado”.
Quem seria?... pensou ela, estranhando tal figura. Esteve até ao final, e depois desapareceu, correndo viela abaixo. Somente o bater das suas chinelas na calçada se ouvia. Chegou a casa, deitou-se, dormiu; sonhou, cantou, bailou…

No dia seguinte, lá estava ela de sorriso nos lábios com as suas tranças negras. De cestinho no braço, ia apregoando e vendendo a quem passava, os seus raminhos de violetas. Ao entardecer, quando o sol vai baixando sobre os sinos que tocam nas igrejas, como de costume, sentou-se num degrau a ver passar as pessoas de um lado para o outro, de regresso às suas casas.
Quando deu por isso já tinha anoitecido. Teria de voltar a casa como sempre fazia, mas pensou para si: Vou passar outra vez por aquele sítio. Nesse dia tinha trazido um xaile muito bonito, ajeitou-o e colocou na cabeça uma rosa, que lhe tinham oferecido naquela manhã.

À noite chegando ao local, entrou, e sentou-se a uma mesa para, de novo, ouvir cantar o Fado.
Nesse dia o negócio tinha sido bom. Estava ansiosa por escutar as guitarras, que mais pareciam chorar ao serem tocadas. Naquela noite, alguém deu pela sua presença na sala.

Era quase madrugada quando Lisboa Menina saiu. Ia pensando na palavra “Saudade”, que era repetida em vários versos dos fados. De repente, olhou para trás, pareceu-lhe ter visto uma sombra. Não ligou, mas estava enganada: alguém a seguia dia e noite, noite e dia.

A vida modificou-se, até que uma noite ao entrar reparou numa pequena escada escura; tentou subi-la, deu de frente com uma porta meia aberta, bateu, ninguém…!
Avançou, acendeu um candeeiro e viu uma modesta sala, mas confortável, que tinha uma janela muito engraçada, feita de tabuinhas e que  estava abert; foi espreitar e viu-se rodeada de sardinheiras vermelhas; olhou para o céu e a lua já tinha chegado e com ela muitas estrelas.

Puxou uma cadeira e sentou-se: estava cansada. Olhou novamente o céu e pareceu-lhe ver escrita entre as estrelas a tal palavra “Saudade”… mas que se passa comigo, que coisa tão estranha?!...  Adormeceu e só acordou quando os primeiros raios de sol lhe tocaram na cara. Levantou-se, repentinamente, e saiu pé ante pé e correu, correu até se perder no bulício da cidade, começando assim o seu dia de trabalho, apregoando as suas lindas violetas.

À tardinha pensou na salinha, de que tanto gostara, e de onde podia à vontade escutar o Fado. Chegou a hora do costume, e foi ao seu destino; mal sabia ela que continuava a ser seguida. Abriu a porta com  o seu velhinho fecho, mas não conseguiu acender a luz: o candeeiro não estava já sobre a mesa.
De repente, olhou para um canto e viu uma vela acesa e junto a ela um vulto que se levantou e num passo estava junto a ela. Lisboa Menina ia começar a gritar, quando sentiu então uma mão macia a tapar-lhe a boca, e sussurrando aos seus ouvidos lhe pediu que tal não fizesse e que o acompanhasse, pois seria sua convidada nessa noite.
Desceram a escada e entraram para a sala por uma porta escondida. Diante dos seus olhos, Lisboa Menina viu uma mesa linda com dois castiçais, cujas velas iluminavam aquele canto. Sentiu um arrepio de medo, naquele momento só queria ir para casa. Depois de estarem sentados à mesa, ouviu-se uma voz que muito alto disse:
                                              
                                               Disfarçado nota bem:
                                               Que hoje não fique ninguém
                                               Disfarçado nesta sala!

Perante o espanto geral, o disfarce foi tirado.
Era um Príncipe de Portugal!
Houve beija-mão real!
E depois cantou-se o Fado.

Lisboa Menina estava tão confusa e envergonhada que não tirava os olhos do Príncipe. Este, vendo que a sua amada estava quase a desmaiar, agarrou-a com todo o carinho e deu-lhe o mais doce dos beijos e ela só se lembra de lhe perguntar:
- O que é a “SAUDADE”?
Com toda a ternura, o Príncipe respondeu-lhe:
- NÃO SEI…

Ia alta a madrugada, quando no silêncio da viela rodava uma carruagem, que os levava para bem longe… Iiam felizes.

E ASSIM FOI LISBOA MENINA, DE BRAÇO DADO COM O SEU FADO, À PROCURA DA SAUDADE.

Azeitão, 08-02-2015
Carmo Bairrada



Sem comentários: