“UMA
LIÇÃO DE AMOR”
No ribeiro da aldeia, de margens perfumadas pelas
violetas, uma Mamã pata ensinava os seus bebés a nadar e a
pescar. Eram tão lindos os pequenos patos!
Despertavam tamanha ternura!
Despertavam tamanha ternura!
Eu passava horas junto do ribeiro a vê-los, a assistir às provas de amor
daquela pata, que tão carinhosamente preparava
para a vida a sua linda ninhada! As crianças que como eu, gostavam de ver
aquela família pareciam não os ver da mesma maneira…Eu sentia
uma ternura infinita por aquele “Infantário Ambulante”! E aos meus olhos, os bebés patinhos eram todos iguais! As outras crianças atentavam
no mais franzino e desajeitado de todos. Riam da sua falta de jeito para seguir os irmãos nos quais tropeçava vezes sem conta…Eu não achava graça…
Serena e carinhosa, indiferente à troça das
crianças, a mãe pata nadava
calma e tranquilamente com a sua linda prole. A
ela não fazia diferença
as diferenças existentes entre os seus filhos!
Amava-os com o mesmo amor carinhoso e terno. Um dia, o meu Pai que sempre sabia
onde me encontrar, veio sentar-se a meu lado e eu, com o carinho de sempre, disse:
- Deveriam ser assim todos os Pais! Mas eu sou a
mais pequena e franzina dos seus sete filhos…
- Pois és mesmo. E é por isso que
todos te queremos tanto!...Nem o pequeno pato é feio
por ser diferente, nem tu menos amada, por
seres tão pequenina e franzina!
A conversa acabou com um longo abraço e na
minha chegada a casa às cavalitas do meu Pai.
O PATINHO FEIO
Uma Família portuguesa
A Família do Dr. Fausto, muito
conceituada, era grande para o que se vê hoje em dia: para além dos pais,
existiam dois rapazes e três raparigas (entre os 8 e os 16 anos), Já todos
habituados, como se dizia lá em casa, a uma vida de caserna, com faxina, e tudo
o que viesse por arrasto. Pareciam uma
máquina bem oleada e não saiam dos carris. Mal sabiam eles o que viria a
acontecer naquela casa nos dias seguintes: os pais levaram muito tempo a
tomarem uma decisão que, certamente, iria espantar os seus 5 filhos
Nesse Domingo, à hora de
almoço, quando todos estavam sentados à mesa, O Dr. Fausto levantou-se e com um
ar calmo, disse:
- Meus meninos, vou
informar-vos que partirei na próxima 4. Feira para a Ásia, mais propriamente para
Timor durante, aproximadamente, três semanas.
Ficaram todos a olhar uns
para os outros e a pensarem a mesma coisa; - como o pai era médico deveria ter
sido chamado para uma missão importante -mas Timor era muito, muito longe. De
repente, todos ao mesmo tempo, exclamaram:
- Que chatice! tão longe!...
O
mais velho falou:
-
Não havia mais ninguém que pudesse ir no teu lugar? Timor é bué de longe, pai. vamos
ficar aqui sozinhos com a Mãe a sofrer pela tua ausência?
O
Pai para os acalmar explicou que a missão que o levava a Timor não tinha nada a
ver com o seu trabalho. Era realmente importante mas, por agora, não poderia
dizer mais nada. A refeição decorreu dentro da normalidade, como de costume.
Na
4ª, feira de manhã, o Dr. Fausto fez questão de levar os filhos à escola e
despediu-se de cada um deles.
Pelas
18h00, o avião partiu. A viagem seria longa e cansativa. Ao chegar lá, foi de
imediato para o Hotel preparar-se para o encontro que estava marcado na
embaixada, que de pronto o transportou de carro, até uma pequena e paupérrima aldeia, de nome
Lahae. Passavam duas horas quando o Dr. Fausto saiu da Palhota, trazendo consigo
pela mão um rapazinho de olhos grandes, mas assustado.
O
carro que os esperava partiu a toda a velocidade, direito ao aeroporto para
apanharem o avião de regresso a Portugal. Isto depois de três semanas de
grande azáfama em tratar de tudo o que era necessário à saída do rapazinho do
seu próprio país.
Quando
chegaram perto da família, foi abraços e beijos que nunca mais acabavam e
o
pobre miúdo escondido atrás do doutor sem ninguém dar por ele.
Quando
começaram a dirigir-se para o carro, é
que olharam para a criança que vinha agarrada às calças do Dr. Fausto. Pararam
de repente e a mulher do doutor foi buscá-lo e abraçou-o com quanta força
tinha.
Então
o filho mais velho, com ar espantado, perguntou:
-
Quem é esse? É algum doente que trouxeste para o tratares aqui?
-
Não, em casa falarei com vocês. Quando entraram no carro, o miúdo teve medo, nunca
tinha visto nada parecido; aconteceu a seguir a mesma coisa com a chegada a
casa. A mãe muito delicadamente pegou nele ao colo e foram para a sala, para a explicação
de toda a situação.
- Acabei de trazer para a nossa casa mais um filho
e vocês acabaram de ganhar mais um irmão. Era só isto que tinha para vos dizer.
Por
fim, o Dr. Fausto e a Mulher, comovidos, pediram a todos que ajudassem a fazer crescer
aquele menino, dentro dos valores em que tinham sido criados, de forma a que
ele nunca se sentisse “O Patinho Feio da Família”
Já
era tarde e foram todos dormir. Na manhã seguinte, muito cedo, soou a sineta e
todos se levantaram e foram preparar-se para o pequeno-almoço e para mais um
dia de aulas.
No meio da refeição, ouviram um soluçar. Viraram-se
todos para ver o que se passava: era o menino que andava perdido há muito tempo
naquele casarão até achar o barulho daquelas vozes.
O filho mais velho pegou nele com todo o
carinho e sentou-o à mesa na cadeira que fora de todos eles
quando eram pequeninos. Depois perguntou-lhe:
-
Como é o teu nome?
A
criança não respondeu, mas o pai disse bem alto:
-
Chama-se DIOGO!
-
VIVA O NOSSO IRMÃO MAIS NOVO! VIVA!- gritaram todos com o coração a
transbordar
de palpitações.
F I M
Azeitão 14-10-2014
Carmo Bairrada
Sem comentários:
Enviar um comentário