Assim se falava, assim se vivia no Alentejo (Alto)
Aguadeiro – aquele ou aquela que dava a
água aos que não podiam parar para beber.
Alabaças – ervas do campo comparadas aos
espinafres com as quais se fazia sopa de feijão com alabaças.
Alcoviteira – Quem leva e tráz o que
ouve.
Amigalhaço – pessoa muito amiga
Andar a engonhar – empatar
Arremedar – imitar
Aventar – deitar fora
Bandoleiro – namoradeiro
Barranhôa – uma tijela grande de loiça
onde se colocavam as sopas de pão que depois eram molhadas com o caldo.
Cântaro – bilha de água grande que,
cheia, se carregava à cabeça ou no quadril
Canudos – os dedos feitos de cana
que os ceifeiros colocavam sobre os seus para os proteger da foice
Cardas – pregos de aço colocados nas
solas dos sapatos, para as mesmas não se gastarem.
Castanheira – mulher que vendia as
castanhas
Chove a cântaros – chove muito
Côcho – recipiente para beber água feito
em cortiça.
Coidaça – côdea do pão
Conduto – o que se come a acompanhar o
pão
Contradanças – as marchas que saiam no
carnaval entoando canções normalmente compostas pelo ensaiador.
Cornija – o saleiro que os homens
levavam para temperar a comida, o qual era feito com um corno de animal e era
tapado com uma rolha de cortiça.
Criança enfezada – criança fraca.
Destemperada – pessoa temperamental
Destrambelhada – pessoa bruta;
desastrada
Empanzinada – espantada
Encanar a perna à rã – não fazer nada
Enfadado – cansado
Era com estevas secas, que das suas
grossas raízes era feito o lume que nos aquecia.
Esbrazeada – cheia de calor
Escarapão – cobra
Esmarrancada – cansada de trabalhar
Está uma grande calma – está muito calor
Estar à soleira da porta – estar sentado
à porta
Estar desalmada – estar triste
Estar escanzelada – estar demasiado
magra
Estar esparramada – estar deitada
Estar marafada – estar zangada
Estar toda descabelada – estar
despenteada
Ficar de orelha afitada – ficar atento
Forrar – poupar
Frigir – fritar
Gato popineiro - o mais
fraco de uma ninhada de gatos
Golpelha – género de alcofa grande em
palha para transportar coisas em cima do burro
Ir ao rabisco – ir apanhar bagos soltos
das azeitonas que ficavam no chão, depois da apanha, o que dava prisão.
Ir às cilarcas – ir apanhar cogumelos do
campo
Javarda – uma pessoa que não é asseada
Jorna – o dinheiro ganho com o trabalho
Luzerna – fresta de luz que entra
através do telhado
Manajeiro – o homem que dirigia os
ranchos de homens ou mulheres que trabalhavam no campo.
Manguinhas – meias mangas até ao
cotovelo, que as mulheres colocavam quando trabalhavam no campo, para proteger
a roupa.
Marrafa – o risco feito no cabelo que
penteamos para um lado ou para o outro
Mastros – grandes paus muito altos
revestidos de murta, à volta dos quais se dançava e cantava, aos pares, única
altura do ano em que se erguem atrás uns dos outros, normalmente no tempo dos
arraiais, lá os mastros.
Mercearia – loja
Môcho – o pequeno banco feito de
cortiça, para nos sentarmos à chaminé (lareira).
Moira de trabalho – alguém que trabalha
muito
Não ter rei nem roque – andar à toa
Numa das duas coletividades da vila era
expressamente proibida a entrada dos trabalhadores do campo. Todos os outros
podiam ser sócios das duas.
Panal – o pano branco grande que cobria
o tabuleiro do pão que era amassado de oito em oito dias, e sobre a massa era
feito o sinal da cruz antes do pão ser tendido.
Papagaio – suporte de madeira colocado
na parede para pôr o candeeiro a petróleo em cima , o qual iluminava a casa
Porca – marrã
Porco – bácoro
Protelar – adiar
Restôlho – parte dos caules secos que
restam do trigo depois de ceifado.
Ribeiro – barranco
Safões – calças feitas de pele de animal
para proteger as pernas do frio. Usado só por homens
Saia das calças – a saia onde toda á sua
volta eram colocados alfinetes de dama, apanhando parte de trás e da frente
formando uma calça para quando as mulheres trabalhavam baixas nas lides do
campo, estarem resguardadas.
Samarro – o casaco de homem, feito de
pele de ovelha
Sem eira nem beira – não ter ninguém
Sem trambelho – Não ter maneiras
Sopa de tomate – sopa de tomatas
Sopas de couve – Cozido à portuguesa
Taberna – venda
Talêgo – saco de pano.
Tarefa – o pote de barro onde se
colocavam de molho as azeitonas para temperar.
Tecuada – uma barrela feita com água e
cinza, para branquear a roupa.
Ter grande penca – ter grande nariz
Ter papo de cegonha – ouvir e contar;
coscuvilheira
Ter uma grande bocha – ter uma grande
barriga
Ter uma grande pancada – ser maluco ou
maluca
Tiborna – uma fatia de pão barrada com
azeite
Tirar as sortes – dar o nome para ir à
tropa
Travia – restos de comida que dão aos
porcos.
Vasculho – vassoura feita de ervas altas
do campo para varrer quintais.
Na prisão, os presos ocupavam o tempo a
fazer pincéis para caiar as casas e interessantes brinquedos de madeira, para
as crianças.
“Abalei do Alentejo
Olhei para trás chorando
Alentejo da minha alma
Tão longe me vais ficando
Ceifeira que andas à calma
À calma ceifando o trigo
Ceifa penas da minha alma
Ceifa-as e leva-as contigo”
Além do horizonte a perder de vista, da
imaculada brancura das suas casas e do eco do seu cante , esta é uma pequena
parcela do que o Alentejo me legou.
Adalberta Marques, Março 2015
Amanhari
_ Arranjar.
Arregotas
_ Cepas, raízes das árvores ou estevas. Lenha grossa, que arde mais devagar,
prolongando o calor.
Balhana_
Desarrumação.
Bléi
_Manuel
Bradar_
Chamar alguém, “alto”
Cafei
_ Café
Calhandrar
_Andar de um lado para o outro, sem fazer nada de útil.
Calma_
Calor.
Ceia
_Última refeição.
Chicolateira
_ Cafeteira de barro.
Courela
_ Parcela de terreno, dividido por muro de pedras sobrepostas.
Dar
de váia _ Pode ser apenas um cumprimento.” Como vai? Bom dia, olá…
Empatari
_ distrair, perder tempo.
Estrapori
_ Transpor, desaparecer
Feta
_ Feita
Larear
_ Prosear, conversar.
Lárua
_ Laura.
Moço,
ou moça pequena _ Criança, menor de idade.
Piques
_ Pequenos bocados de toucinho, que bem fritos, têm o aspecto de torresmos.
Prantar
_ Colocar, por.
Soli
_ sol
Talhadas
_ Toucinho cortado em fatias, igualmente frito.
Tanganhos
_ Lenha, miúdos
Venda
_ Tasca, local onde entre um copo e outro os homens cantam modas Alentejanas.
Elita
Guerreiro* 20/3/2015
Canção do Alentejo
«Às
vezes lá no meu monte
Faço
vasas de ganhão
Lavro
com dois bois vermelhos
Que
até faz tremer o chão.
Até
faz tremer o chão
Quando
vou beber à fonte
Faço
vasas de ganhão
Às
vezes lá no meu monte.»
Canção do Alentejo
«Ao
romper da bela aurora
Sai
o pastor da choupana
Gritando
em altas vozes
Muito
padece quem ama.
Muito
padece quem ama
Mais
padece quem namora
Sai
o pastor da choupana
Ao
romper da bela aurora.»
Homenagem a um pastor
Eu
conheci um pastor
Que
no campo caminhava
Cantava
canções de amor
Enquanto
o gado pastava
O
cão seu fiel amigo
Esperava
com atenção
Que
repartisse consigo
O
seu pedaço de pão
Manuel
meu pobre pastor
Quanto
tempo já passou
E
quanta canção de amor
Pela
campina ficou…
Adalberta
Toca
a expandir nossos corações
É
isto apenas o que nos resta
No
mundo feito só de ilusões
Vem
minha amada folgar mais eu
Que
a vida passa, corre ligeira,
Não
queiras linda voar ao céu
Sem
os meus beijos de alma fagueira
Já
o sol vem nascendo
Erguei-vos
todos filhos de Eva
Vinde
cantar connosco
Enquanto
a morte nos não leva
Visto
que a vida é breve
É
breve e cheia de sofrimentos
Aproveitemos
porque é pecado
Deixar
perder meu bem estes momentos»
As
contradanças marchavam em dias de Carnaval. No caso desta, as raparigas vestiam
saias pretas e as blusas eram de chita garrida, branca e vermelha. Os rapazes
vestiam de acordo, mas não recordo.
Contradança do Alentejo (Portel)
«Bravos ceifeiros do Alentejo
«Bravos ceifeiros do Alentejo
Cá
vai a marcha toda contente
Braços
e arcos, foices ao alto
É
a alegria da nossa gente
Se
em nossas bocas bailam cantigas
São
como esperança de almas singelas
Canções
alegres das raparigas
Deixai
o campo bailar com elas
Anda
a atalaia zangada
Por
ir na marcha contigo
Eu
porém não sou culpada
De
gostar de monte trigo.
Portel
todo altaneiro
O
teu castelo eu invejo
És
a glória de passado
E
a honra do Alentejo.»
Por
ser demasiado criança na época, não participei em qualquer contradança, mas as
suas letras e a sua musica permaneceram intactas no meu coração, ao longo dos
anos.
Adalberta Marques
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