terça-feira, 10 de março de 2015

Recordações e Memórias: Linguagem e Tradições Populares

Assim se falava, assim se vivia no Alentejo (Alto)
Aguadeiro – aquele ou aquela que dava a água aos que não podiam parar para beber.
Alabaças – ervas do campo comparadas aos espinafres com as quais se fazia sopa de feijão com alabaças.
Alcoviteira – Quem leva e tráz o que ouve.
Amigalhaço – pessoa muito amiga
Andar a engonhar – empatar
Arremedar – imitar
Aventar – deitar fora
Bandoleiro – namoradeiro

Barranhôa – uma tijela grande de loiça onde se colocavam as sopas de pão que depois eram molhadas com o caldo.
Cântaro – bilha de água grande que, cheia, se carregava à cabeça ou no quadril
Canudos – os dedos feitos  de cana que os ceifeiros colocavam sobre os seus para os proteger da foice
Cardas – pregos de aço colocados nas solas dos sapatos, para as mesmas não se gastarem.
Castanheira – mulher que vendia as castanhas
Chove a cântaros – chove muito
Côcho – recipiente para beber água feito em cortiça.
Coidaça – côdea do pão
Conduto – o que se come a acompanhar o pão
Contradanças – as marchas que saiam no carnaval entoando canções normalmente compostas pelo ensaiador.
Cornija – o saleiro que os homens levavam para temperar a comida, o qual era feito com um corno de animal e era tapado com uma rolha de cortiça.
Criança enfezada – criança fraca.
Destemperada – pessoa temperamental
Destrambelhada – pessoa bruta; desastrada
Empanzinada – espantada
Encanar a perna à rã – não fazer nada
Enfadado – cansado
Era com estevas secas, que das suas grossas raízes era feito o lume que nos aquecia.
Esbrazeada – cheia de calor
Escarapão – cobra
Esmarrancada – cansada de trabalhar
Está uma grande calma – está muito calor
Estar à soleira da porta – estar sentado à porta
Estar desalmada – estar triste
Estar escanzelada – estar demasiado magra
Estar esparramada – estar deitada
Estar marafada – estar zangada
Estar toda descabelada – estar despenteada
Ficar de orelha afitada – ficar atento
Forrar – poupar
Frigir – fritar
Gato popineiro -   o mais fraco de uma ninhada de gatos
Golpelha – género de alcofa grande em palha para transportar coisas em cima do burro
Ir ao rabisco – ir apanhar bagos soltos das azeitonas que ficavam no chão, depois da apanha, o que dava prisão.
Ir às cilarcas – ir apanhar cogumelos do campo
Javarda – uma pessoa que não é asseada
Jorna – o dinheiro ganho com o trabalho
Luzerna – fresta de luz que entra através do telhado
Manajeiro – o homem que dirigia os ranchos de homens ou mulheres que trabalhavam no campo.
Manguinhas – meias mangas até ao cotovelo, que as mulheres colocavam quando trabalhavam no campo, para proteger a roupa.
Marrafa – o risco feito no cabelo que penteamos para um lado ou para o outro
Mastros – grandes paus muito altos revestidos de murta, à volta dos quais se dançava e cantava, aos pares, única altura do ano em que se erguem atrás uns dos outros, normalmente no tempo dos arraiais, lá os mastros.
Mercearia – loja
Môcho – o pequeno banco feito de cortiça, para nos sentarmos à chaminé (lareira).
Moira de trabalho – alguém que trabalha muito
Não ter rei nem roque – andar à toa
Numa das duas coletividades da vila era expressamente proibida a entrada dos trabalhadores do campo. Todos os outros podiam ser sócios das duas.
Panal – o pano branco grande que cobria o tabuleiro do pão que era amassado de oito em oito dias, e sobre a massa era feito o sinal da cruz antes do pão ser tendido.
Papagaio – suporte de madeira colocado na parede para pôr o candeeiro a petróleo em cima , o qual iluminava a casa
Porca – marrã
Porco – bácoro
Protelar – adiar
Restôlho – parte dos caules secos que restam do trigo depois de ceifado.
Ribeiro – barranco
Safões – calças feitas de pele de animal para proteger as pernas do frio. Usado só por homens
Saia das calças – a saia onde toda á sua volta eram colocados alfinetes de dama, apanhando parte de trás e da frente formando uma calça para quando as mulheres trabalhavam baixas nas lides do campo, estarem resguardadas.
Samarro – o casaco de homem, feito de pele de ovelha
Sem eira nem beira – não ter ninguém
Sem trambelho – Não ter maneiras
Sopa de tomate – sopa de tomatas
Sopas de couve – Cozido à portuguesa
Taberna – venda
Talêgo – saco de pano.
Tarefa – o pote de barro onde se colocavam de molho as azeitonas para temperar.
Tecuada – uma barrela feita com água e cinza, para branquear a roupa.
Ter grande penca – ter grande nariz
Ter papo de cegonha – ouvir e contar; coscuvilheira
Ter uma grande bocha – ter uma grande barriga
Ter uma grande pancada – ser maluco ou maluca
Tiborna – uma fatia de pão barrada com azeite
Tirar as sortes – dar o nome para ir à tropa
Travia – restos de comida que dão aos porcos.
Vasculho – vassoura feita de ervas altas do campo para varrer quintais.

Na prisão, os presos ocupavam o tempo a fazer pincéis para caiar as casas e interessantes brinquedos de madeira, para as crianças.

“Abalei do Alentejo
Olhei para trás chorando
Alentejo da minha alma
Tão longe me vais ficando

Ceifeira que andas à calma
À calma ceifando o trigo
Ceifa penas da minha alma
Ceifa-as e leva-as contigo”

Além do horizonte a perder de vista, da imaculada brancura das suas casas e do eco do seu cante , esta é uma pequena parcela do que o Alentejo me legou.
 Adalberta Marques, Março 2015

Memórias e Recordações: Baixo Alentejo”
Amanhari _ Arranjar.
Arregotas _ Cepas, raízes das árvores ou estevas. Lenha grossa, que arde mais devagar, prolongando o calor.
Balhana_ Desarrumação.
Bléi _Manuel
Bradar_ Chamar alguém, “alto”
Cafei _ Café
Calhandrar _Andar de um lado para o outro, sem fazer nada de útil.
Calma_ Calor.
Ceia _Última refeição.
Chicolateira _ Cafeteira de barro.
Courela _ Parcela de terreno, dividido por muro de pedras sobrepostas.
Dar de váia _ Pode ser apenas um cumprimento.” Como vai? Bom dia, olá…
Empatari _ distrair, perder tempo.
Estrapori _ Transpor, desaparecer
Feta _ Feita
Larear _ Prosear, conversar.
Lárua _ Laura.
Moço, ou moça pequena _ Criança, menor de idade.
Piques _ Pequenos bocados de toucinho, que bem fritos, têm o aspecto de torresmos.
Prantar _ Colocar, por.
Soli _ sol
Talhadas _ Toucinho cortado em fatias, igualmente frito.
Tanganhos _ Lenha, miúdos
Venda _ Tasca, local onde entre um copo e outro os homens cantam modas Alentejanas.
Elita Guerreiro* 20/3/2015

Canção do Alentejo

«Às vezes lá no meu monte
Faço vasas de ganhão
Lavro com dois bois vermelhos
Que até faz tremer o chão.

Até faz tremer o chão
Quando vou beber à fonte
Faço vasas de ganhão
Às vezes lá no meu monte.»


Canção do Alentejo

«Ao romper da bela aurora
Sai o pastor da choupana
Gritando em altas vozes
Muito padece quem ama.

Muito padece quem ama
Mais padece quem namora
Sai o pastor da choupana
Ao romper da bela aurora.»

Homenagem a um pastor

Eu conheci um pastor
Que no campo caminhava
Cantava canções de amor
Enquanto o gado pastava

O cão seu fiel amigo
Esperava com atenção
Que repartisse consigo
O seu pedaço de pão

Manuel meu pobre pastor
Quanto tempo já passou
E quanta canção de amor
Pela campina ficou…

Adalberta


Contradança do Alentejo (Portel)
«Eis mais um dia, dia de festa
Toca a expandir nossos corações
É isto apenas o que nos resta
No mundo feito só de ilusões

Vem minha amada folgar mais eu
Que a vida passa, corre ligeira,
Não queiras linda voar ao céu
Sem os meus beijos de alma fagueira

Já o sol vem nascendo
Erguei-vos todos filhos de Eva
Vinde cantar connosco
Enquanto a morte nos não leva

Visto que a vida é breve
É breve e cheia de sofrimentos
Aproveitemos porque é pecado
Deixar perder meu bem estes momentos»

As contradanças marchavam em dias de Carnaval. No caso desta, as raparigas vestiam saias pretas e as blusas eram de chita garrida, branca e vermelha. Os rapazes vestiam de acordo, mas não recordo.

Contradança do Alentejo (Portel)
«Bravos ceifeiros do Alentejo
Cá vai a marcha toda contente
Braços e arcos, foices ao alto
É a alegria da nossa gente

Se em nossas bocas bailam cantigas
São como esperança de almas singelas
Canções alegres das raparigas
Deixai o campo bailar com elas

Anda a atalaia zangada
Por ir na marcha contigo
Eu porém não sou culpada
De gostar de monte trigo.

Portel todo altaneiro
O teu castelo eu invejo
És a glória de passado
E a honra do Alentejo.»

Por ser demasiado criança na época, não participei em qualquer contradança, mas as suas letras e a sua musica permaneceram intactas no meu coração, ao longo dos anos.
Adalberta Marques



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