domingo, 24 de dezembro de 2017

Textos de NATAL: participação na exposição de Natal do CVA de Azeitão


Correspondendo ao simpático convite do CVA, Colectivo de Valorização Artística de Azeitão, a turma de Literatura da USAz participou com trabalhos inéditos sobre o tema do Natal. 
Aqui vo-los deixamos.



Os pezinhos do Menino Jesus
(recordação de Natal)

Ia eu nos meus três anos e meio, e o papá era um artista …

O costume era que, na manhã de dia 25 de Dezembro, fossem deixados presentes do Menino Jesus na chaminé: os olhos das crianças brilhavam de excitação e expectativa na noite da consoada, ao porem os sapatinhos na beira da lareira ou do que disso servisse…
Muito palavreado era preciso para as convencer a ir para a cama, tal era o desejo de ficarem ali à espera que aparecesse o dito Menino!
Pensavam os pais, em geral, e os meus também devem ter pensado: “não vai adormecer tão cedo”…
Mas criança é anjo e eu, tal como um anjo adormeci!

Depois da ceia, o papá tinha dito: “vamos pôr uma almofadinha no chão da lareira, porque é muito gelado e o Menino Jesus iria ter muito frio nos pezinhos ao tocá-lo quando vier trazer os presentes”, e fez-me tocar com as mãos o tijolo, para eu me dar conta de como seria desagradável tal facto!
Assim foi feito: uma pequena almofada branca foi posta ali à beira, depois de arredados os fogareiros a carvão que lá moravam habitualmente, com o meu sapatinho de verniz à frente (francamente não me lembro se havia outros sapatos à espera de prendas, mas lembro-me bem dos meus, com a presilha de botão…!)

Na manhã seguinte, assim que os vapores do sono me abandonaram, foi uma grande correria escada abaixo e pelo longo corredor que levava à cozinha onde a enorme lareira parecia um trono:
arregalaram-se-me os olhos e fiquei com o fôlego suspenso…

Havia prendinhas, sim, no meu sapatinho de verniz, mas quase nem as vi: o que vi foi a almofadinha branca e, nela marcadas, as pegadas de dois pezinhos sujos da fuligem da chaminé, tão pequeninos como os meus sapatinhos…


Hoje sei que o papá era um artista!

Mercedes Ferrari, Outubro 2017


CONSOADA

Consoada. O céu estrelado…
Entra a lua pela janela
E o céu aveludado
Torna esta noite mais bela.
Esvoaçam as cortinas
Das janelas entreabertas,
As faíscas são meninas
Crepitantes, irrequietas.
Desprende-se do madeiro
Um calorzinho fagueiro.

A mesa posta a rigor…
Arroz doce, rabanadas…
As crianças com amor
Abrem os olhinhos, espantadas.
Dorme jesus pequenino
No presépio iluminado,
O festejado Menino
De tudo tão alheado!...
Ah! Como é bom ver as esperanças

Nos olhos ternos das crianças!

Elita Guerreiro, 25.10.2017


  N A T A L

                                                             NATAL é Poesia Pura!
                                                               É um Hino à Vida, ao Amor, ao Renascer!
                                                               Poesia que se traduz no olhar inocente das crianças,
                                                               na chama de magia que as envolve!
                                                               É um apelo ao Amor, à Luz, à Liberdade!

                                                               É Natal quando a alma dá um salto
                                                               E sobe mais um degrau no caminho espinhoso
                                                               da busca do Amor e da Verdade por que ansiamos
                                                               e descobrimos que, afinal, é na Simplicidade
                                                               que a Sabedoria se esconde.


                                                               “Quanto mais Poético mais Verdadeiro”, dizia Novalis.
                                                               Por isso penso que NATAL é Poesia Pura,
                                                               Porque encarna o Amor e a Verdade Autêntica e Absoluta
                                                               no corpo humilde e simples de uma Criança.


                                                                                                              Maria Leonor Marques,  23/10/2017


REGISTOS DE AFECTO
Montagem sobre pano de "registos" da autora

Adalberta Marques


A MENSAGEM DE CRISTO NÃO PASSOU…

Acontecia uma aula de Literatura. Falava-se da época natalícia e liam-se excelentes trabalhos, alusivos ao Natal, escritos pelos mestres: Torga, David Mourão-Ferreira, Fernando Pessoa, Natália Correia e outros. No final, fomos desafiados a escrever algo sobre o Natal. Bem simples e criativo, pediu a professora.
Quando me disponibilizei para responder ao desafio, ocorreu-me uma conversa que tive, quando falava com uma professora amiga.
Perguntei-lhe, a certa altura, como decorriam as aulas?
- Tudo normal! – respondeu ela, com aparente satisfação.
- O que significa esse ar alegre? – Insisti eu.
- Tenho uma nova tarefa entre mãos, confessou.  Trata-se de conseguir produtos alimentares a troco de trabalhos feitos pelos meus alunos. Posteriormente, preparo cabazes e entrego os mesmos a famílias carenciadas.
Comprei a ideia de imediato e, por isso, no dia seguinte deixei na portaria da escola alguns produtos alimentares, que previamente havia adquirido.
A minha amiga agradeceu e informou-me que já tinha programado a entrega de dois cabazes para a semana seguinte.
Entretanto, e dado que estávamos em Outubro, dei comigo a pensar que a generosidade, típica da época natalícia, bem poderia estender-se a todo o ano.
Afinal, a dimensão universal da palavra de Cristo é demasiado grande, para caber num só dia de Dezembro.
Depois, a minha imaginação foi mais longe. Essa “viagem” permitiu-me perceber o quanto é redutor ficarmos confortáveis com ações, esporádicas, de cariz generoso ou caritativo, tal como a que acima descrevo.
Afinal, todos temos direito a parte igual de todo o bolo disponível. E, se assim fosse, a satisfação dos direitos das pessoas carenciadas esvaziaria o balão da caridade, sem ferir o necessário amor pelo próximo ou o altruísmo saudável.
Porém, esse não é o entendimento e a prática comum entre todos nós.
Se nos fixarmos, por exemplo, na frase de Cristo: “Ama o próximo como a ti mesmo”, constatamos que aquela ideia está bem longe de ser seguida.
Assim, lamentavelmente, e já lá vão mais de 2000 anos, podemos dizer que a mensagem de Cristo não passou, contrariamente ao que Ele, por certo, muito deve ter desejado…

Fernando Amaral – Outubro de 2017

O que é o NATAL?                                              

São todos os dias da nossa vida.

Monólogo com Jesus pelos trilhos do Inverno

Se tu olhares para dentro de mim
nada encontras senão um desejo:
o de me tornar uma pessoa melhor
a cada dia que passa.

Para isso, dá-me um coração
e uma força igual à tua,
e poderei cumprir todo o teu querer,
dando a mão, se puder, aos que têm
menos que eu.

Ajuda-me a saber perdoar… sou uma revoltada,                        
porque os Homens não sabem o que fazem.

Enche-me do teu espírito, para poder
continuar a caminhar, não aos zigue-zagues,
mas a direito, para ainda hoje me juntar à família e
amigos nesta noite, que é de todos… a noite de Natal.

Faz com que consiga chegar a tempo de me ajoelhar
perante ti e beijar o teu pequenino pé.

Sei que estás à minha espera,
na capelinha da minha aldeia,
que fica para lá destas serras,

Onde as poucas pessoas, que lá vivem, nos
continuam a transmitir os seus valores ancestrais:
do amor à Natureza, do Bem, do Bom e do Belo.
A noite aproxima-se e o caminho está no fim.

Jesus, Cheguei!
Obrigado por me teres dado o melhor presente que até hoje
recebi: ter a oportunidade de ver ” o teu sorriso e o teu olhar”.

Lá fora o frio é muito, uma estrela brilha e a neve continua a cair…

       
Carmo Bairrada, 19.10.2017

Natal 2017

O que é o Natal? Uma fábula, uma lenda, uma história de encantar? Uma fantasia para crianças, como uma estrela a brilhar?
Estará o natal num presépio, ou numa imagem, em que misteriosamente fingimos acreditar?
Ou será a magia do pai natal, com as renas pelo céu a voar e com muitos presentes para dar?
Talvez seja, somente, uma doce ilusão consentida.
 Quem nunca acreditou, ainda que fosse por um só dia…
Eu acredito! Mas tenho pena que o Menino Jesus já não venha pela chaminé, como em outra noites, depois de eu me deitar…
Dizemos que o natal é das crianças!
Que pena! Excluímo-nos a nós…
Eu incluo todos, que hoje são avós,
Vivem e revivem velhas lembranças…

E por um sorriso de pura felicidade
Pagam a festa, dão os brinquedos,
Contam histórias e velhos segredos.
Quase lacrimejando a sua mocidade…

Saudosos de cada natal que foi seu
E da alegria com que os viveram,
Lembram esse passado que morreu
E a tradição que no tempo se perdeu.
Ensejos de amor como só eles tiveram…

Hoje, incrédulos pelos meninos da rua,
Sem lar, sem um afago, para adormecer,
Sem um carinho ou uma afeição…
Com um natal tão triste, sem pão,
Como pode o menino jesus nascer?!...
Fernando Sousa

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