quarta-feira, 25 de maio de 2016

"Roi Queimado morreu com amor"


Roi Queimado morreu com amor
em seus cantares, par Santa Maria,
por uma dona que gran bem queria;
e, por se meter por mais trobador,
por que lh' ela non quiso bem fazer,
feze-s' el em seus cantares morrer,
mais resurgiu depois, ao tercer dia.

Este fez ele por uma sa senhor
que quer gram bem; e mais vos ém diria:
por que cuida que faz i mestria,
enos cantares que fez, á sabor
de morrer i e des i d' ar viver;
esto faz el, que x' o pode fazer,
mais outr' omem per rem nono faria.

e nom á já de sa morte pavor,
se nom, sa morte mais la temeria,
mais sabe bem, per sa sabedoria,
que viverá, des quando morto for;
e faz-s' em seu cantar morte prender,
des i ar vive: vedes que poder
que lhi Deus deu, - mais queno cuidaria!

E se mi Deus a mi desse poder
qual oj' el á, pois morrer, de viver,
ja mais morte nunca eu temeria.

Pero Garcia Burgalês (CV 988/CBN 1380)


“ ROI QUEIMADO MORRIA, MORRIA”

Morria nas trovas que fazia
“Por uma dona que gran bem queria”
Andava por terras de Santa Maria,
E a tal “dona” nem o ouvia!
Dava-se ares de “gran Trobador”
Dizia morrer pelo seu amor,
Roi Queimado morria, morria
“ Mas ressurgia ao terceiro dia”!

Fez esta trova para uma “senhor”
Alguém que não queria o seu amor!
Julgava-se grande na sua poesia
“Porque cuida que faz i mestria".
São tão patéticas as trovas que escreve,
Que a escrever assim, ninguém se atreve!
Vive e morre na sua poesia,
“Mais outr´omem por rem nono faria”

A morte não lhe mete medo
Parece até conhecer-lhe o segredo!
“Que viverá, des quando morto for;”
E assim fala dela com destemor
Como se nada tivesse a temer,
“E faz-s em seu cantar a morte prender!”
Quem diria, dar-lhe Deus tal poder,
De viver e morrer sempre que quer!...

Eu também não teria medo de morrer
“Se mi Deus a mi desse tal poder.”
Mas Roi Queimado foi dotado pela fantasia,
E por isso morria, morria…
E sempre ressurgia ao terceiro dia!
De que lhe serviu tanto destemor,
Se a tal “ dona “ não quis o seu amor?

Elita Guerreiro 16/5/2016

1 comentário:

Unknown disse...

Eu adorei este texto