terça-feira, 7 de abril de 2015

Donzela Guerreira: breve análise (versões de Garrett e Leonor Buescu)



Breve ANÁLISE do romance
"Donzela que vai à Guerra", Garrett

O Romance Popular  primeiro em prosa, depois em verso terá acabado por nascer, de certa forma, da perda duma narração ancestral que era o “o mito”, um universo exclusivo dos deuses com as suas metamorfoses.

O Romance Tradicional distingue-se do Mito pela forma como era transmitido; primeiro pela  oralidade , segundo através da escrita. Este processo atravessou todas as fronteiras linguísticas, desde o Indo-Europeu, passando pelo Oriente até chegar à Europa, no Séc. XIX (Romantismo).

A todas estas fontes, o romance  “A Donzela Guerreira”, foi beber. Ela representa vários ciclos de
vida, chamados  “ciclos iniciáticos”, ou seja, diversas formas de provas que ao longo da vida  de cada ser humano terão que ser ultrapassadas  para se sair do Caos e entrar no Cosmos ou Universo, para a prática do Bem, do Bom e do Belo.
Segue uma análise muito sintética do texto em questão:

1ª. A desordem inicial ou Caos
            - A situação de guerra
            - O lamento do pai por estar velho e não ter tido um filho varão
            - A resposta da filha mais velha

2ª. A Androginia e a construção da Máscara
A máscara que a heroína constrói, serviu-lhe para se tornar ao longo dos sete anos de guerra um arquétipo, que até aí era impensável vir a existir; reúne em si características do masculino e  e do feminino (androginia iniciática/ritual).

3ª. A Suspeita
             Essa máscara romper-se-á quando o seu olhar a trai... atrai o capitão.
4ª. A Prova
            No momento em que é construída a máscara, a donzela está a transformar os seus atributos femininos e a adquirir saberes próprios do mundo iniciático dos   guerreiros, ficando assim de posse do conhecimento das normas de comportamento social dos dois sexos.
ex:   A dada altura, a sua máscara de guerreiro vai tentar ser desconstruída pela mãe do cavaleiro e por ele próprio, aquando da ida ao pomar em que, por exemplo,  a mãe lhe diz que "se ela for directa às maçãs é mulher.”
Em outro lugar, se analisarão contrastivamente várias outras versões do romance da "Donzela Guerreira", do ponto de vista da "construção" e "desconstrução"  da máscara


    A máscara cai quando o seu olhar a trai – “os seus olhos são a sua identidade “: A VERDADE DA SUA ALMA.

FonteLeitura de parte da dissertação de mestrado
            de Anabela Mª. Malta P. da Silva
            Fac. de Letras do Porto – 2010     

Carmo Bairrada, Azeitão, 31-03-2015

“CONSTRUÇÃO DA MÁSCARA
( “LEONARDO” versão de  LEONOR BUESCU)

 “O DRAMA DO PAI”: Sete filhas e nenhum filho varão! Concepção antiga de hereditariedade; títulos, cargos, etc…
Construiu  a jovem uma máscara, que disfarçava a sua feminilidade. O Pai tenta dissuadir a filha a lutar pela Sua honra, chamando-lhe a atenção para os seus atributos femininos…
- “Tens os pés muit´delicados, filha conhocer-te vão. /Dê-me as suas botas mê pai, intcharei-as d`algodão . Dê-me Spada e cavalo qu`e irê servir varão.”
- “Tens  os pêtos  muito grandes. /Os alfaiates fazem coletes prós meter no coração”
- “Tens os olhos faguêrinhos. / Cando passar plos homens baixarei-os  ó  tchão”
- “Dás passos miudinhos. / Cando  passar plos  homens darei passos de ganhão.”
Construiu  assim a máscara , com a qual  combateu  sete anos  sem que os companheiros de armas desconfiassem da veracidade do seu disfarce!
                    
 “ DESCONSTRUÇÃO DA MÁSCARA”
Um deles, porém, pôs em causa a sua masculinidade  e apaixonou-se  pela beleza  feminina dos seus olhos!
A Mãe ,profunda  conhecedora da  alma  feminina, veio em seu auxílio, quando o jovem  apaixonado  se lamentava !
- “Ó mnha mãe  ê  me morro , ê me  morro  de Paixão, Os olhos de Lionardo  sã de mulher d`homem Não! / Se queres saber ó mê filho, leva-a contigo a Comprar. S`ela  for mulher ó homo, da  rendas s`há-de  Agradar. /Ó que linda  rendas há  para  uma  dama Trajar !” Percebendo  o  truque  e disposta  a  não  se Deixar desmascarar , a jovem  foi passando  nas sucessivas Provas  que lhe foram impostas . E prontamente  Respondeu: - “ Ó que  linda  espada  de d´ouro  pra  na  Guerra  garrear!"
- “ Leva-a contigo a jantar. S´ela  for mulher ó homa , no  mai baixo  s´há –de  assantar…/Lionardo  pra mai  difarce, assantou-se  im  cima  do Capote  pra  no  mai alto  fequér”
- “Leva-a  contigo  a  nadar, s´ela  for mulher ó homa, no s`há –de  querer desfardar. / Camarada entra  prá – i –água , no  te stejas  a  ácorbadar.”Ainda  não foi desta vez, que a máscara  se  desfez. “ Alto, alto mês camaradas, quem me quer acompanhar? Tchegou ma carta do céu, traguia  grande pesar:  Tinha   a mnha  mãe morta , o mê pai  a acabar. “
Generoso , o jovem  apaixonado,  cavalgou  a seu lado  e teve  a  justa  recompensa  por tanto  amor e tanta espera.
Curioso , o  pai  pergunta  ao vê –los chegar :
- “Que  camarada  é  aquele   que  te vem  acompanhar? / “ É o  genro  de    pai, se quejér  acetér “
Desconstruida  a máscara , devem  ter vivido para sempre,
recordando  as  aventuras  deste  atribulado  amor!...


 Elita Guerreiro *  17/4/2015

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