quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

"O Rato da Cidade e o Rato do Campo"























A CIDADE
(O Ratinho Camponês vai conhecer a “Pólis”)

Os convites que nos chegam, quase sempre nos enchem de alegria e aceitamo-los, também quase sempre, com entusiasmo.
Mudar de ares, viajar, ver coisas novas, é sempre bom, mas às vezes… nem por isso!
Assim aconteceu ao ratinho Camponês, quando seu primo ratinho Sabichão o convidou para o ir visitar à cidade onde vivia: nem pensou duas vezes e disse logo que sim, viria.
Pôs-se a caminho logo de madrugada, com uma malinha onde levava o necessário para a estadia, mais um bom naco de queijo como prenda para o Sabichão - pois de queijinho do campo, acabadinho de curar, saboroso e puro, sabia ele que o primo não via há muitos anos. Levava também umas quantas bagas secas de frutos do bosque: uma maravilha gastronómica que, pensava ele, faria a delícia do seu primo.
Caminhou longas horas, atravessou campos e pontes, respirando fundo o bom ar da manhã primaveril, e chegou enfim às primeiras casas que assinalavam a entrada de uma zona urbana.
Admirado, olhava as vivendas rodeadas de jardins floridos, com árvores e arbustos, e pensava: “que bonita que é a cidade”! Tirou então o papel onde tinha tomado nota do itinerário e pensou: “mais uns minutos e estou lá”, esperando que a casa do primo fosse tão bonita como estas que contemplava ao passar.
Pouco a pouco, no entanto, o estilo das casas ia mudando: agora já não eram vivendas baixas e coloridas, os jardins que as circundavam iam desaparecendo deixando o lugar a largos passeios com árvores cada vez mais raquíticas à medida que ia andando, e com cada vez mais carros estacionados. Quanto ao ar que ia respirando, parecia conter fumo, como se alguma coisa estivesse ardendo nalgum lugar e o Camponês já não respirava fundo, antes pelo contrário tinha alguma dificuldade em respirar e pensava “estou cansado de tanto caminhar, deve ser por isso!”
Mas as casas eram cada vez mais altas e escuras, pareciam sujas, mas de quê? E as ruas eram cada vez mais estreitas, os passeios tinham-se tornado meras passagens e o trânsito era intenso, tanto de carros como de transeuntes, e o coitado tinha que dar saltos para evitar levar um pontapé ou ser atropelado…
Finalmente chegou ao endereço indicado pelo primo. Chegou já tão sem fôlego que mal conseguiu cumprimentar o Sabichão… sem forças, sentou-se no chão e fez-lhe sinal para ir abrir a malinha e tirar de lá os presentes que trouxera.
Sabichão não percebia o porquê daquela fadiga do primo Camponês; tirou o queijo e as bagas e pôs-se a comê-los sem mais cerimónias. Camponês, quando a ele, respirava mal, mais parecia que em vez de ar era fogo que lhe entrava nos pulmões!
Mas pouco a pouco lá se foi habituando àquela sensação tão desagradável mas, cansado demais para conversar, pediu ao primo para se poder deitar a descansar.
Surpresa: a casa era tão exígua que tinha que dormir na mesma cama que o primo e… não havia janelas… e Camponês percebeu então porque lhe faltava o ar.
Então pensou: “ah! Minha rica casa no campo! Ah! Meu bom ar limpo e meu céu azul, minhas hortas e meu arvoredo com os passarinhos a cantar… Amanhã volto para casa!”

Moral da história: Não nos deixemos ludibriar pela “suposta” civilização e seus – muito negativos – corolários, e defendamos acima de tudo a Natureza, nossa aliada.

 Mercedes Ferrari



“O RATO DO CAMPO E O RATO DA CIDADE”

Na Serra da Vigia, o moinho do mesmo nome girava as suas velas brancas que o vento enfunava como se fosse um veleiro no mar alto! As pucarinhas de barro vermelho Zumbiam ao passar do vento. No moinho da Vigia, o moleiro, o senhor Manuel, todos os dias barafustava, porque as sacas de trigo apareciam esburacadas… Então, zangado, pegava na velha vassoura e gritava: 
_ Vai embora rato malandro, que tudo estragas, como se não bastasse o que comes! 
Aborrecido daquela lenga- lenga, e de barriguinha cheia, o rato disse falando consigo mesmo…
- ”Ora, não é tarde nem é cedo”… 
Pegou num saquito que enfiou num pau e pondo-o ao ombro, resmungou… “Vou deixar o moleiro sozinho e vou dar um giro. “ Lembrou-se que tinha um primo a viver no campo e foi visitá-lo.
- Olá, Olá! Cumprimentaram-se.
- Que te traz à minha humilde morada? - perguntou o rato do campo. Vim fazer-te uma proposta… Sabes que moro num moinho, não sabes? A pensar nessa tua magreza, achei que gostarias de lá viver!... Há fartura de comer e, “mentindo”, disse:  
- Ninguém te apoquentará…
-  Claro que aceito, obrigada, primo!
 E lá foram… Quando chegaram, o rato do moinho, disse-lhe:
_Vai na frente, que vou cumprimentar o moleiro que está a dormir.
 O rato do campo ficou maravilhado com a abundância de trigo! Já ia para fazer um buraquito numa saca, quando a vassoura do moleiro se abateu sobre o seu pequeno corpo.
Lá fugiu a custo, para não mais voltar! Ao ver o que aconteceu ao rato do campo, o outro pôs-se igualmente em fuga…
- És um mentiroso, cobarde! Mentes para enganar quem tem fome e foges para não seres apanhado por quem mesmo involuntariamente sempre te sustentou - disse o rato do campo, indignado com a falta de carácter do outro! …
Fábula ou realidade, não vale a pena trapacear os mais humildes que, por vezes, são os mais sábios!


Elita Guerreiro*28/11/2014

Sem comentários: