segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os Lusíadas – canto IV, 94-104 (por Teresa Barbato)

Os  Descobrimentos Portugueses  proporcionaram a  abertura de  portas para um novo mundo, ao nível das artes, da geografia,  do comércio, da ciência  e da expansão do Cristianismo.

É  incrementado o comércio, principalmente pelo estado, e criam-se novas rotas comerciais, assim como surgem  novas técnicas de navegação… mas o  “ velho do Restelo” criticou toda a técnologia desenvolvida para o efeito (ó maldito primeiro que no mundo / nas ondas velas pôs em seco lenho)


Assiste-se à afirmação de novos estratos sociais, como os  mercantis; a burguesia torna-se mais empreendedora,  permitindo-lhe uma maior ascenção social. A cultura e a religião, ao serem transportadas  para outros mundos, também sofrem influências. A miscigenização cultural foi uma realidade.
Os Descobrimentos  constituiram  um importante passo no desenvolvimento da humanidade,  tomando esta consciência de um novo mundo, não só físico, como ao nível das ideias.

Página anteriorA 8 de Julho de 1497, partiu de Belém (donde Deus foi em carne ao mundo dado) Vasco da Gama, com uma frota composta por quatro naus, para percorrer o caminho marítimo para a Índia. Só dois anos depois,  é que Vasco da Gama regressaria a Portudal.

Com esta expedição, pretendia-se fazer a ligação directa entre a Europa e a Índia, pelo Oceano Atlântico, facilitando as trocas comerciais entre os dois continentes.

Em Melinde, Vasco da Gama conta ao Rei (certifico-te, ó Rei) como é que foi a partida(destas terras apartado) das naus Portuguesas. Ele tinha algum receio do que pudesse acontecer, pois com o empreendimento dos  Descobrimentos  corriam-se muitos riscos (cheio dentro de dúvida  e receio). Toda aquela  zona de Belém estava cheia de gente, (gente da cidade aquele dia) que se vinha despedir (uns por amigos,outros por parentes) ou ver sómente toda aquela azáfama (por ver sómente). Os portugueses que partiam  já começavam a estar tristes e ter saudades (saudosos na vista e descontentes) com a despedida dos familiares e do país. Vasco da Gama   conta que  ia andando com seus homens  (em procissão solene a Deus orando) em direcção às naus (batéis), na companhia do clero (de  mil religiosos deligentes).  A empresa era paga pelo Rei D. Manuel  l (foram de Emanuel remunerados) para que tivessem  coragem e ânimo (palavras altas animados) para enfrentar as dificuldades (trabalhos sucedessem) que os esperavam.  É feita uma comparação entre os nautas portugueses e os Mínias (Assi  foram os Mínias ajuntados) :  “Mìnias era rei de Orcómeno, muito rico, e o primeiro rei grego a possuir um tesouro” . Os portugueses também foram à conquista de um tesouro (simbólico). Embora com alguns conhecimentos de navegação, uma viagem nestas condições era uma aventura… (tentar o mar Euxínio,aventureira)
Camões compara a acção heróica dos Portugueses com a dos Gregos (referências à Mitologia Grega)
Página inicialAs naus estão no porto de Lisboa (ínclita Ulisseia) preparadas para partir (as naus prestes estão) onde as águas (licor)  cobrem  a areia (branca areia) e o rio Tejo (doce Tejo) se mistura com o mar (salgado Neptuno). Vasco da Gama disse que confiava inteiramente nos seus marinheiros e soldados  (gente maritima e a de Marte / Estão pera seguir-me a toda a parte), pois estavam entusiasmados com o projecto (juvenil despejo).

O vento estava calmo  (ventos sossegados),  os soldados estavam vestidos com trajes variados (de várias cores vem e várias artes) e também preparados psicológicamente (e não menos de esforço aparelhados) para descobrir novas terras  (Pera buscar do mundo novas partes) e ficarem célebres para a eternidade (De ser no Olimpo estrelas, como a de Argos).
Camões inspira-se aqui  novamente na Mitologia: “ Jasão pretendia apoderar-se do trono de seu pai, Pélias. Para tal, este ordenou-lhe que recuperasse o velo de ouro, e que partisse à sua conquista . Jasão pediu ajuda a Argo que construiu a nau Argo (que significava rápido).  Da mesma forma que a nau Argo ficou com o seu nome imortalizado nas constelações, também Os Portugueses, quais Argonautas,  embarcavam para uma “aventura” que poderia ficar imortalizada no Universo. ( Argonautas deriva do nome da nau Argo e refere-se aos remadores e companheiros de Jasão.)
 Por outro lado, apesar dos marinheiros estarem animados (Despois de aparelhados, desta sorte,  o receio da morte é constante (aparelhamos a alma pera a morte / que sempre aos nautas ante os olhos anda) e pedem por isso a Deus ( pera o sumo Poder) que os proteja ( implorámos favor que nos guiasse) do que pudesse acontecer naquela aventura para o desconhecido.
O ” velho do restelo”, condena a aventura dos Descobrimentos em que o país está envolvido, devido à sua experiência (com um saber só de esperiência feito, tais palavras tirou do experto peito), e representa a voz do bom senso. Tem uma visão negativa dos Descobrimentos,  porque os julga também motivados pela  ambição do poder ( ò gloria de mandar!ò vã cobiça)  e pela  fama que daí advém. Realça as consequências psicológicas de tal “aventura” para o povo português:  perigos vários, mortes, crueldades, sofrimentos e desamparo das famílias (a que novos desastres determinas de levar estes Reinos e estas gentes?) Denuncia, assim,  as motivações escondidas dos Descobrimentos, apresentando  uma alternativa menos arriscada e mais sensata à expansão para oriente: o Norte de África.

O ” velho do restelo” considera que é só pela glória de mandar e  por cobiça e a vaidade (Já que nesta gostosa vaidade) que culmina na fama, que a corte portuguesa (mas, ó tu,geração daquele insano) quer empreender esta aventura centrada  na pessoa de Vasco da Gama.
Ele sugeria que  se fosse para o Norte de África (não tens junto contigo o Ismaelita)  conquistar as terras e cidades ( não tem cidades mil,terra infinita) dos mouros, pois era mais perto , não se corriam tantos riscos e poderia atingir-se igualmente  a glória (se queres por vitórias ser louvado).
 Condena  ainda  o envolvimento do país nesta aventura, por dar origem ao despovoamento e enfraquecimento do reino(por ires buscar outro de taõ longe, por quem se despovoe o reino antigo). Queria também que as populações voltassem para a agricultura e não sofressem a dor da separação e de incertezas futuras (buscas o incerto e incógnito perigo).

Caracterização do Velho do Restelo
Pela sua idade, tinha um aspecto respeitável ( d’aspeito venerando), voz  solene  ( a voz pesada um pouco alevantando) : já tinha muita sabedoria acomulada, resultante da sua experiência de vida. Era inteligente e transmitia bom senso, usando a voz da razão. Por outro lado, transmitiu  uma imagem  pessimista, pois condenou um empreendimento que  estava prestes a realizar-se ( que nós no mar ouvimos claramente).

(referência aos)
 MITOS  de PROMETEU e ÍCARO: o sonho humano de voar...
Ficheiro:Heinrich fueger 1817 prometheus brings fire to mankind.jpgFicheiro:Dirck van Baburen - Prometheus door Vulcanus geketend.jpg
(Prometeu leva o fogo à humanidade)                                                                                        Acorrentamento de Prometeu 1623) 
Segundo Hesíodo, Prometeu e seu irmão tiveram por missão criar todos os animais e os homens. Depois de terem gasto todos os recusos a criarem os animais, criaram o homem em barro. Prometeu foi roubar o fogo dos deuses (o fogo que ajuntou ao peito humano) para dar ao homem, dando-lhe assim superioridade sobre todos os animais. Mas o fogo era exclusivo dos deuses(que a tua estátua ilustre não tivera fogo de altos desejos), e ele foi castigado por Zeus, ficando acorrentado nas montanhas do Cáucaso, onde uma águia ia comer-lhe o figado, que se regenerava todos os dias”.
(Águia comendo o fígado a Prometeu)                                                                                                  (1817 Prometeu )                              
Prometeu representa a vontade de conhecimento, mas no contexto deste episódio de Os Lusíadas, representa  também os pesados sofrimentos infligidos pelos Deuses, quando o homem arrisca” voar mais “alto”...(Fogo de altos desejos que a movera) ou se é demasiado orgulhoso como no mito de Ícaro.
“Ícaro, filho de Dédalo,  estava encarcerado com seu pai num labirinto. Este fabricou umas asas de cera que colou nos respectivos ombros. Assim puderam voar e libertar-se. Seu pai avisou-o para não voar nem muito alto nem muito baixo, mas ele, orgulhoso que era, voou alto demais, sendo as asas derretidas pelo sol e ele caiu no mar, que se passou a chamar – mar Ícaro. (O grande arquitector co filho, dando / Um, nome ao mar, e o outro, fama ao rio)
Dédalo e Ícaro representam o sonho humano de voar, mas também os escolhos que esse sonho tem de arrostar pelo caminho



(Dédalo e Ícaro, C. P. London)
 (Queda de Ìcaro 1558 - Bruegel)
                                        

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