segunda-feira, 6 de junho de 2011

"A Flor!", José de Almada-Negreiros

A FLOR

        Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: 
Uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são
aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros, in “A Invenção do Dia Claro"
(ilustrações de Carmo Bairrada)

2 comentários:

Paula disse...

Gostaria de assinalar três falhas relativamente ao texto de Almada Negreiros:
1- o título do texto é "A Flor" e não o que é indicado;
2- a frase correcta é:"Desenhe uma flor! (verbo na 3a pessoa, não na 1a);
3- a obra de onde foi extraído o poema em prosa intitula-se A Invenção do Dia Claro e não a que é indicada (O Regresso ou O Homem Sentado é a 3a parte deste livro parte esta que abre com "A Flor".
Atentamente,
Paula

Luísa Antunes disse...

Muito grata. Corrigido.