ROMANCE
Estava Santo António
um sermão a decorar,
quando o Menino Jesus
...no livro lhe foi poisar,
tão bonito e tão alegre
que era mesmo de pasmar.
-Menino, olhe que amanhã
tenho muito que pregar,
andam as almas perdidas;
anda o demónio a tentar,
para vencer o demónio
tenho muito que estudar.
-António, tanta leitura
vai os teus olhos cansar,
nunca levantas a cabeça,
nunca vais apanhar ar;
leva-me em cima do livro,
vamos os dois passear.
-Mas, meu Menino, amanhã
tenho muito que pregar,
se me não ouvirem homens,
oiçam-me os peixes do mar;
as almas perdem-se todas
e eu todas lhe quero dar.
-António, as almas perdidas,
sempre as havemos de achar;
o dia está tão bonito,
estão os cravos a cheirar;
se me não levas ao colo,
co'os teus papeis vou brincar!
Afonso Lopes Vieira
(foto e sugestão de poema - Romance de Ana Machete)
tão bonito e tão alegre
que era mesmo de pasmar.
-Menino, olhe que amanhã
tenho muito que pregar,
andam as almas perdidas;
anda o demónio a tentar,
para vencer o demónio
tenho muito que estudar.
-António, tanta leitura
vai os teus olhos cansar,
nunca levantas a cabeça,
nunca vais apanhar ar;
leva-me em cima do livro,
vamos os dois passear.
-Mas, meu Menino, amanhã
tenho muito que pregar,
se me não ouvirem homens,
oiçam-me os peixes do mar;
as almas perdem-se todas
e eu todas lhe quero dar.
-António, as almas perdidas,
sempre as havemos de achar;
o dia está tão bonito,
estão os cravos a cheirar;
se me não levas ao colo,
co'os teus papeis vou brincar!
Afonso Lopes Vieira
(foto e sugestão de poema - Romance de Ana Machete)
(Fernando Pessoa, criança)
PARABÉNS, Fernando!... "No dia em que festejavam o dia dos meus anos, eu era feliz..." Eras?... Então, vimos trazer-te... um bombom!... (e já agora, vamos dar os parabéns a uns escritos teus muito saborosos sobre as quadras populares e a umas quadras populares tuas, propriamente ditas, as ditas cujas...)
"A quadra é um vaso de flores que o Povo põe à janela da sua alma. Da órbita triste do vaso escuro a graça exilada das flores atreve o seu olhar de alegria. Quem faz quadras portuguesas comunga a alma do povo, humildemente de todos nós e errante dentro de si próprio. Ser intensamente patriótico é, primeiro, valorizar em nós o indivíduo que somos, e fazer o possível por que se valorizem os nossos compatriotas, para que assim a Nação que é a suma viva dos indivíduos que a compõem, e não o amontoado de pedras e areia que compõem o seu território, ou a coleção de palavras separadas ou ligadas de que forma o seu léxico ou a sua gramática — possa orgulhar-se de nós que, porque ela nos criou, somos seus filhos, e seus pais, porque a vamos criando", Fernando Pessoa
Não digas mal de ninguém,
Que é de ti que dizes mal.
Quando dizes mal de alguém
Tudo no mundo é igual.
Santo António de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo António
Que as moças lhe têm amor.
A caixa que não tem tampa
Fica sempre destapada
Dá-me um sorriso dos teus
Porque não quero mais nada.
Fernando Pessoa
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